sexta-feira, 27 de maio de 2016

HOMENAGEM A MIRACEMA: POR DR. CARLOS SÉRGIO BARBUTO



CARRO DE OURO – TERRA DE LUZ

Com raios de luz na cabeça no lugar dos cabelos ele percorre o céu num CARRO DE OURO construído por Vulcano, o grande artesão, puxado por 4 cavalos muito brancos e velocíssimos que soltam labaredas pelas narinas. Seu nome: HÉLIOS, o deus do Sol, descendente de Urano e de Gaia (a Terra), irmão de Eós (a Aurora) e de Selene (a Lua).

Todas as manhãs o CARRO DE OURO é transportado para o alto do céu pelo deus Apolo, e, após a passagem do carro de EÓS, HÉLIOS envolto em leve manto e protegido por capacete reluzente, empunha as rédeas e inicia sua longa corrida pelos espaços celestes, levando vida e calor a todas as partes do universo, e a terra inteira se enche de luz. Na hora do crepúsculo chega ao rio Oceano, onde seus cavalos exaustos banham-se para recuperar as forças. Então, vem a escuridão. E a escuridão da noite abraça a terra. É a hora do descanso.

Isto é o que se lê na mitologia, mas o que importa mesmo é ver o CARRO DE OURO surgir na manhã da minha terra, guiado por HÉLIOS com sua coroa de raios dourados atravessando as nuvens, começando um novo dia anunciado pelo "cantar dos galos e o brotar das madrugadas"; iluminando cada palmo de terreno, seu calor dissipando a cerração do amanhecer, levantando o manto de escuridão da noite que finda, renovando a vida.

Usina Santa Rosa
Pouco a pouco aparecem a Usina Santa Rosa e a Cerâmica; a Rua da Laje, o Estádio Municipal, a Prefeitura, a bela Praça Dona Ermelinda, o rinque, a Igreja Matriz, a farmácia de Seu Azarias, a Chevrolet do Sr. Chicrala Amim, a gráfica de Seu Neguinho, a loja Samaritana, os fotos Schueller e Gemino, o campo de aviação, a Rua Direita; a Casa Azul; os Hotéis Braga e Assis; a Rodoviária; a Tecelagem São Martino; o Hospital de Miracema, o Colégio Miracemense, o Campo do América, e, por fim, a rodagem e as cachoeiras do Conde.

Gicelda Coelho
Com o cair da noite emergem recordações de minha infância em Miracema: a luz fraquinha que chamavam de "tomatinho", o Buru brigando com a meninada na porta do cine 7, o picolé do Seu Chico, as sinucas do Zé Careca, o cineminha do José de Assis; o Chico Violeiro de paletó, colete, e fumando charuto; o Cláudio carregado de apetrechos nas costas e soltando impropérios; a Isabel dos cachorros bêbada e falando sozinha; o Briguelo e seus calos; o ônibus do "Seu" Pedrinho com o bagageiro na capota; o jacaré na porta do "seu" Garcia; o Sr. Antenor Rego, as aulas de acordeom do Sr. Ernestino; o Formidável; a sopa do Farid; o Zé Faca no carnaval carregando um caixão escrito "Táxi"; o Mané Catinga com a camisa do Flamengo; o Paroquena; as retretas das Bandas 7 e 15; os bailes de gala no Aero-Clube; os alunos do Colégio Miracemense uniformizados; personagens ilustres como os separatistas representados pelo Sr. Jofre Geraldo Salim; meu querido amigo Dr. Sebastião Bruno salvando vidas; os Drs. Campanário, Leandro, Moacir Junqueira, Sylvio Freire; nossa inesquecível poetiza Gicelda Coelho com seus cabelos esvoaçando ao vento, dentro de seu Jeep sem capota subindo a rua direita, fazendo pulsar corações. Todos orgulhos nossos e exemplos de amor a Miracema que devemos imitar. E muitos outros...

As esquinas, as praças, as ruas, os prédios, são construções e obras do nosso povo. Os morros, as planícies, as várzeas nos pertencem, como já pertenceram aos nossos antepassados. As águas do riacho Santo Antônio que banham nossa cidade são o sangue dos nossos ancestrais. O suave marulhar destas águas na cachoeira do Conde e o leve silvar do vento nas palmeiras de nosso jardim são as vozes daqueles que nos antecederam: falam dos acontecimentos e lembranças de suas vidas, dos seus feitos, de suas vitórias, de seus sonhos, de suas realizações.
                                                                                         

           
Neste chão generoso dormem os conterrâneos que já partiram, suas cinzas adubam nossas esperanças e nos encorajam a continuar a lutar e honrar o nome de Miracema. Cada miracemense que nasce é uma estrela de esperança, cada miracemense que se despede é uma grata recordação no panteão de nossa história. Tudo é emoção, às vezes, pungente! Como conter uma lágrima furtiva ou um soluço de saudade ao lembrarmos do apito da Fábrica de Tecidos São Martino às 6 horas ou o roncar dos caminhões abarrotados de cana de açúcar na direção da Usina Santa Rosa?
Fábrica de Tecidos São Martino

E assim, num instante, passo o filme de minha infância em Miracema pelas asas da minha imaginação, fatos indeléveis que recordo e guardo no lado esquerdo do peito como um amigo querido, com imensa saudade. É impossível não amar esta terra! HÉLIOS e seu CARRO DE OURO continuarão a iluminar por toda a eternidade minha bela Princesinha e seu solo sagrado, berço de tantos miracemenses ilustres, TERRA DE LUZ. 

Fotos retiradas da internet. 

4 comentários:

  1. Em palavras, um retrato transbordante dos sentimentos mais ternos da nossa querida Miracema. Eu vivi esse tempo e conheci os personagens. Parabéns, Dr. Carlos Sérgio!

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  2. Linda homenagem, como é peculiar do autor. Depois de ler essa obra prima, penso que querem torná-la lixeira da região... É de chorar! Mas tenho fé que o povo não permitirá essa tragédia!

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  3. Que belo texto! Parabéns dr. Carlos Sérgio Barbuto!!!!

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  4. Texto lindíssimo! Parabéns dr Carlos Sérgio Barbuto,por retratar com tanto sentimento e carinho a história da nossos querida MIRACEMA.

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