domingo, 15 de maio de 2016

SAUDADE MATA - POR BEBETO ALVIM


O professor Osmar Barbosa (lexicólogo, gramático, escritor e poeta), com quem tive, ainda criança, a honra e o prazer de dividir a rua Dr. Temístocles, em Miracema – RJ, é o autor de uma invejável obra literária no Brasil, com vários livros publicados em várias editoras (a Ediouro é uma delas). Enquanto lecionava na pequena, pacata e interessante Miracema publicou dois livros de bolso de poesia, editados na Gráfica Normalista: Para as mãos de meu amor e Eis aqui meu coração (não constantes de catálogos, infelizmente).
Foi na ocasião que o Mestre criou, com toda a sua sapiência, esta maravilha de trova:
SAUDADE
Saudade mata, é verdade
Mas desta morte me esquivo
Como morrer de saudade
Se é de saudade que vivo

Embora embevecido com a beleza da criação, os interpretadores de texto de plantão logo se arvoram a vaticinar: “Quis dizer de uma amada sua que partiu para outra e ele a enleva com versos encimados por palavra que somente existe no português do Brasil”.

E vão por aí as demais interpretações; todas, porém, referem-se ao substantivo do título como sendo o sentimento abstrato de profundo pesar de perda.  Mal sabem eles, entretanto, da grande verdade, testemunhada, inclusive, pelo meu dileto amigo e conterrâneo, Adilson Dutra (também mestre da palavra e que, à época, trabalhava na gráfica, ainda existente).

O Saliba Félix tinha um depósito de bebidas (xaropes, refrigerantes e alcoolizadas). Possuía, também, um alambique de cachaça; O professor, talvez em busca de inspiração ou de simples relaxamento, se aventurava em algumas oportunidades na degustação de alguns goles da cachaça fabricada pelo amigo Saliba.

Pasmem, aí os “interpretadores”!... A simples, comovente e bonitinha trovinha não queria se referir à SAUDADE abstrata e sim à concreta e saborosa pinga do alambique do Lucas, que se chamara... SAUDADE! Daí, a interpretação correta:

CACHAÇA
Cachaça mata, é verdade
Mas desta morte me esquivo
Como morrer de cachaça
Se é de cachaça que vivo 



Um comentário:

  1. É preciso reparar um erro meu, para que se dê "A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR": no último parágrafo, onde se lê "alambique do Lucas" leia-se "alambique do Saliba".

    ResponderExcluir