terça-feira, 7 de junho de 2016

AYMORÉ MOREIRA: UMA VIDA INTEIRA DEDICADA AO FUTEBOL





Com a morte de Aymoré, ocorrida em Salvador-BA, em 26 de julho de 1998, por falência múltipla dos órgãos, terminou, assim, a última dinastia familiar do futebol brasileiro, formada pelos três irmãos, que durante muitos anos fez parte da história do esporte nesse país.  Zezé, Aymoré e Aírton conseguiram um fato raro em todo o mundo, quando três irmãos, à mesma época, destacaram-se desempenhando a mesma função de técnico de futebol.
Zezé e Aymoré

Nascido em 24 de abril de 1912, na cidade de Miracema-RJ, iniciou a sua longa carreira no futebol como goleiro do Sport Club Brasil, equipe amadora do Rio, aos 18 anos, em 1930, levado que foi pelo seu irmão mais velho, Zezé Moreira, que já estava estabelecido na cidade.
                       
Aymoré jogou também no América (RJ) – 1932/33, no Palestra Itália (o atual Palmeiras) – 1934/35 (campeão paulista de 1934), e transferindo-se no ano seguinte para o Botafogo (RJ), onde permaneceu até 1946, quando encerrou a carreira. No ano de 1941, teve uma breve passagem pelo Fluminense, mas logo retornou ao Botafogo. Em 1932, com apenas vinte anos, e apesar da baixa estatura para a posição, já era considerado um dos melhores goleiros do Brasil, o que o levou a defender a Seleção Brasileira em quatro jogos, entre os anos de 1932 e 1940.







A carreira de técnico começou no Olaria (RJ), em 1947, após cursar a Escola de Educação Física, no Rio. Outros times do Rio que dirigiu: Bangu, São Cristóvão e Flamengo – 20 jogos; no estado de São Paulo, Portuguesa de Desportos – 206 jogos, Palmeiras – 193 jogos (campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967), São Paulo – 63 jogos, Corinthians – 56 jogos (campeão do Torneio do Povo em 1971), Taubaté e Ferroviária; em Minas Gerais, América e Cruzeiro – 15 jogos; na Bahia, Vitória, Bahia, Catuense e Galícia, onde encerrou a carreira. No exterior foi técnico do Porto – 28 jogos, e o Boavista – 63 jogos, ambos de Portugal; na Grécia, comandou o Panathinaikos.

 
Ele deu-se ao luxo de não aceitar uma proposta para trabalhar no Barcelona, em 1967. Imagine nos dias atuais um técnico rejeitar uma oferta do time espanhol. Os tempos eram outros, mas o Barcelona, naquela época, já era um gigante da Catalunha. 

Mas foi na Seleção Brasileira que teve a sua melhor fase. Aymoré teve a sua primeira experiência como técnico do selecionado brasileiro em 1953, por influência do irmão Zezé, treinador já respeitado, que um ano antes conquistou para o Brasil o seu primeiro título internacional, o Pan-Americano de 1952. Além do bicampeonato mundial em 1962, conquistou também a Copa Roca (contra a Argentina), a Taça Rio Branco (contra o Uruguai), a Taça Bernardo O`Higgins (contra o Chile) e a Taça Oswaldo Cruz (contra o Paraguai). Como treinador da Seleção Paulista, conquistou os títulos de 1952, 1955, 1957 e 1959. Na Seleção foi treinador em quatro períodos – 1953, de 1961 a 1963, em 1965 e 1967. O seu retrospecto como técnico da Seleção em jogos oficiais é o seguinte: 63 jogos, 38 vitórias, 9 empates e 16 derrotas.
         
Na Copa do Mundo de 1970, no México, além de escrever uma coluna semanal para a revista Placar, Aymoré atuou como olheiro de Zagalo. Foi o autor intelectual do quarto gol brasileiro contra a Itália. Desenhou a jogada em um guardanapo, no hotel. O time executou perfeitamente com a conclusão no petardo de Carlos Alberto. Um gol inesquecível!  

Aymoré tinha o apelido de “Biscoito” por uma coincidência de nomes – no início de sua carreira, em 1930, como goleiro do Sport Club Brasil, a Biscoitos Aymoré era a mais popular fabricantes de biscoitos do Rio.
Aymoré recebendo o título de Cidadão  Soteropolitano 

Ainda sobre a sua ligação com a cidade de Salvador, onde era muito querido e respeitado – recebeu até o título de Cidadão Soteropolitano – foi ali que escolheu fixar residência desde 1979. Por coincidência, encerrou a sua carreira dirigindo um time baiano. Depois de aposentado dos campos, passou a escrever artigos para jornais e trabalhou como comentarista esportivo de rádio.  Quando veio a falecer, deixou a mulher, Neide, e dois filhos, Sheila e Eder Moreira. Inclusive, o seu filho tentou seguir a carreira de técnico, mas não teve a mesma sorte do pai. Chegaram a trabalhar juntos, no ano de 1985, como técnicos da Catuense, onde o Eder dirigia o time de juniores.

Nos dias 16 e 17 de janeiro de 1993, os irmãos Moreira foram homenageados pela Associação Atlética Miracema, recebendo o título de “Sócio Benemérito” do clube. Ainda dentro das comemorações, fizeram o ato de descerramento da placa que os homenageava com o nome “Irmãos Moreira”, o estádio da Associação. Aymoré esteve presente acompanhado de seu irmão Zezé e dos também desportistas, Ademir Menezes, o “Queixada”, e do então presidente da Federação Carioca de Futebol, Eduardo Viana. Em 1995, retornou a Miracema, pela última vez, para junto aos demais irmãos receber o título e a homenagem aos “Miracemenses Ausentes”, na festa de aniversário de emancipação do município.

Nenhuma cidade do interior do nosso imenso Brasil teve a honra de possuir três grandes treinadores, dois que dirigiram a Seleção Brasileira em Copas do Mundo – Zezé e Aymoré – e, acima de tudo, sendo irmãos, como Miracema.

Deixo aqui uma mensagem às autoridades municipais e aos órgãos competentes, que se faça uma homenagem concreta a esses cidadãos que tanto fizeram pelo futebol brasileiro e levaram o nome de nossa cidade por esse mundo da bola. As homenagens já recebidas em vida, relatadas acima, ainda são pequenas. Os mais jovens precisam conhecer a linda trajetória desses ícones. O tempo não pode apagar o que eles construíram em uma vida dedicada ao esporte.

Abaixo dois links com matérias especiais sobre o Aymoré Moreira. 




8 comentários:

  1. Fico emocionado ao ler um texto tão bem produzido como esse do Tadeu, só posso dizer: parabéns senhor Ademir Tadeu!
    Nessa homenagem prestada a Zezé e Aimoré Moreira eu era o presidente da Associação Atlética.

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    1. Obrigado, meu amigo. Faço com muito carinho e orgulho essa homenagem e temos que dar a eles - aos irmãos - o valor merecido. Você está na foto, em pé, fazendo a locução da solenidade. Um grande abraço!

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  2. Agradecendo a homenagem!! Sou filha de Aimoré e tenho muito orgulho do profissional, do homem e do pai que ele foi!!

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    1. Sheila, muito obrigado pela sua participação e saiba que aqui em Miracema procuro manter viva a história de sucesso de seu pai e tios, que muito fizeram pelo nosso esporte. Brevemente publicarei uma coluna sobre o Zezé e o Aírton.

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    2. Sra Sheila por acaso o seu sogro se chamava Francisco ? Chamavamos de tio Chico , Português. Tinhamos conhecimento que nosso primo casou-se com a filha de um dos tres irmãos Moreira no Rio de Janeiro

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  3. Excelente texto! Sou neto da irmã mais nova dos irmãos Moreira, Lucília (também conhecida como Juca) e ela adorou o texto.

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    1. Fico muito agradecido e recompensado dos familiares estarem satisfeitos com a singela homenagem que faço aos irmãos. Transmita o nosso abraço e votos de muita saúde para a dona Juca. Brevemente publicarei uma reportagem de uma revista esportiva dos anos 40, onde ela também foi citada. Para aqueles que não sabem, a irmã também foi uma desportista quando jovem aqui em Miracema. Um grande abraço.

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  4. Grandes esclarecimentos para mim.👍

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