De acordo com as informações noticiadas dias atrás, você
permanecerá no cargo de provedor até o próximo dia 30 de junho. Confirma?
- Realmente eu entreguei a minha solicitação de
renúncia ao cargo de provedor, devido a vários problemas particulares
relacionados principalmente à saúde dos meus familiares, o que irá prejudicar a
minha dedicação integral na gestão do Hospital. Entretanto, devido à
dificuldade de encontrar um substituto, tentarei conciliar meu tempo
permanecendo no cargo até encontrarmos um novo candidato para desempenhar a
função.
Vamos tirar uma dúvida não somente dos leitores, mas
de toda a população miracemense: ocorreu na semana retrasada uma reunião do
corpo diretivo do Hospital onde foi discutido o assunto da possibilidade de
fechamento da instituição?
- Sim. Na
reunião em que eu entreguei o meu pedido de renúncia debatemos a grave situação
financeira que estamos enfrentando e como não encontramos nenhuma solução
possível, ao nosso alcance, ficou decidido que seria comunicado tanto à
Prefeitura quanto aos demais órgãos competentes, sobre a impossibilidade de
continuarmos atendendo à população e o conseqüente fechamento da
Instituição. A notícia foi divulgada
antes de nosso comunicado oficial, causando um grande transtorno em nossa
cidade. Ao saber da notícia fomos
procurados pelo Sr. Prefeito e pela Sra. Secretária de Saúde do Município, pois
ficaram muito preocupados com a situação e marcaram uma reunião com o
Secretário Estadual de Saúde, no Rio de Janeiro, para buscar uma possível
solução. Na oportunidade, garantiram
tanto o Sr. Prefeito quanto o Sr. Secretário Estadual, que não deixariam o
Hospital de Miracema fechar.
Sobre gastos decorrentes do mês, tais como: salários,
encargos sociais, alimentação, medicamentos, materiais de consumo e outros, em
valores aproximados, qual é a média mensal de despesa do Hospital?
- O total das despesas mensais do Hospital atualmente
é de R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinqüenta mil reais);
E o valor do déficit mensal?
- R$ 100.000,00 (cem mil reais) aproximadamente;
Quantos funcionários têm o Hospital?
- 85
Os salários dos funcionários estão em dia?
- Sim.
Atualmente qual é o termo de cooperação da Prefeitura
com o Hospital? O repasse está sendo feito corretamente?
- Para prestar o atendimento dos pacientes do SUS o
Hospital recebe o total de R$ 199.000,00 (cento e noventa e nove mil reais) do Governo Federal e R$ 35.000,00 (trinta
e cinco mil reais) da Prefeitura
Municipal, sendo R$ 21.000,00 (vinte e um mil reais) de incentivo para a
Maternidade, R$ 7.000,00 (sete mil reais) de aluguel do prédio do PU e outros
R$ 7.000,00 (sete mil reais) de incentivo pela utilização do aparelho de Raio
X.
Devido ao atraso na formalização do contrato de
prestação de serviços, vencido em novembro/2015 e renovado só em abril/2016,
estamos recebendo uma parcela referente ao mês em curso e uma parcela de valor
atrasado, conforme acordo firmado e intermediado pelo Ministério Público e o
Conselho Municipal de Saúde, estando em dia o repasse até esta data.
A Prefeitura paga algum aluguel para ocupar o prédio
anexo onde está instalado o PU?
- Sim, conforme informado acima.
Quais os recursos de outras esferas administrativas,
ou seja, do Governo Estadual e Federal?
- Conforme informado acima.
No início de seu mandato você tentou aplicar algum
choque de gestão para amenizar essa crise financeira?
- Logo de início efetuei o levantamento de nossas
Receitas e Despesas totais para conhecer o resultado real e atuar nas duas
frentes. O aumento das receitas depende principalmente do Poder Público Federal
e Municipal, visto que nossa estrutura disponibilizada ao SUS está em torno de
70 % atualmente. O restante, 30 % é
destinado aos planos de saúde e particulares.
O Governo Federal não atualiza a tabela de procedimentos do SUS há
vários anos e o Governo Municipal tem as suas alegações de não poder aumentar o
valor do incentivo Municipal, apesar das várias reuniões que fizemos para
tratar sobre o assunto.
Sobre as nossas despesas, apesar de ter encontrado um
controle bem rígido, muitas dependem de fatores externos, não temos como
interferir no aumento dos remédios, das tarifas de energia elétrica, aumento
dos alimentos, etc.
Conseguimos reduzir a conta de energia de 27 mil para
14 mil reais. Substituímos a usina de
oxigênio que iria passar a cobrar aluguel de 12 mil reais e contratamos outra
por três mil e quinhentos reais.
Congelamos o triênio dos funcionários em um acordo judicial e também o
salário dos funcionários que recebiam valores acima do piso da categoria, tudo
isso com o consentimento dos mesmos, pois entenderam a situação crítica que
estamos passando. Reativamos o convênio
com o Plano SAF para aumentar o atendimento dos pacientes particulares. Iniciamos
o atendimento em novas especialidades médicas para atrair novos pacientes.
Estamos em negociação com as empresas AMPLA e OI para
cadastramento de futuras doações para aqueles que se interessarem em ajudar o
Hospital de Miracema. Todas estas medidas e outras não
mencionadas aqui, não estão sendo suficientes para reverter nossa situação
deficitária.
Qual seria o período de sua gestão?
- Iniciei no final de outubro/2015 para concluir o
mandato do Dr. Vinícius que vencerá em dezembro/2016.
Falando agora sobre planejamento, supõe-se que havia
um projeto de metas para o seu mandato. Poderia nos dizer quais seriam essas
metas?
- Na realidade, todo o meu esforço, desde que iniciei,
foi em resolver o problema financeiro, pois para realizar qualquer mudança, inclusive
contratação de novos profissionais, modernização de equipamentos, etc. depende
fundamentalmente de recursos.
Nosso objetivo de planejamento está relacionado com a
nossa Missão e Visão de Futuro, buscando sempre um atendimento de excelência,
humanizado, sem qualquer distinção entre os usuários.
A evolução da administração hospitalar está
diretamente relacionada à história dos hospitais e da medicina. Os hospitais no
Brasil, como em qualquer outro país, foram administrados por religiosos,
médicos, enfermeiros ou pessoas da comunidade, devido ao fato de não serem
vistos como uma empresa e sim como uma “instituição de caridade”. Nem sempre o
gestor conhecia a prática hospitalar, nem as técnicas de gerenciamento, pois a
escolha ocorria de forma empírica. Na verdade, não existia a figura do gestor,
mas, sim, a função de manter a estrutura física e de cuidar das despesas com os
poucos recursos existentes. Você é o 1º provedor que é formado em Administração
a assumir esse posto?
- Aqui no Hospital de Miracema acredito que sim, mas
em outros centros a figura do Administrador já está se tornando uma realidade,
não desmerecendo a atuação dos médicos, mas, sim, reconhecendo e valorizando a
atuação deles, enquanto gestores, mesmo sem a formação acadêmica e o pouco
tempo disponível, muitas vezes se prejudicando profissionalmente em detrimento do
bem comum.
Outro fator importante que precisa ser esclarecido é
que, no caso do Hospital de Miracema e demais filantrópicos, o Provedor não
pode receber nenhuma remuneração pela função, é um trabalho voluntário, o que dificulta encontrar
profissionais dispostos a encarar o desafio.
O quadro de médicos que atende ao Hospital atualmente
é suficiente? Tem alguma carência de especialista?
- A carência de profissionais está relacionada à falta
de recursos disponíveis para a contratação de novos ou mesmo remunerar
adequadamente os que aqui trabalham.
O Hospital tem carência com relação à aparelhagem?
- Os equipamentos que dispomos são relativamente
suficientes para o nosso atendimento de média complexidade;
A suspensão do plano da CAMEDS não prejudicou somente aos
segurados, tenho certeza que o Hospital também foi atingido com a paralisação.
O que tem a dizer?
- O plano CAMEDS representava uma receita para o
Hospital em torno de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) mensais. Esse valor equivale a quase 50 % do nosso
déficit mensal atual.
Como funciona o plano “Amigos do Hospital”?
- Na realidade trata-se de uma contribuição
voluntária, a título de doação, em que o Hospital retribui concedendo descontos
quando necessitam de atendimento médico/hospitalar;
O que ficou definido na vinda do Secretário Estadual
de Saúde na última segunda-feira?
- Ele visitou o Hospital para conhecer a nossa
realidade e os nossos números. Gostou
muito da nossa estrutura e ficou de analisar a possibilidade de conseguir algum
recurso adicional para o Hospital.
Sugeriu a transferência da Gestão do PU para o Hospital com a finalidade
de sobrar mais recursos com a fusão das duas estruturas. O Sr. Prefeito concordou com a ideia e vamos
tentar colocar em prática o mais rápido possível.
Muito obrigado pela entrevista. Faça as suas
considerações finais.
- O Hospital de Miracema é uma Entidade Filantrópica, pertence
à população de Miracema, portanto, todos devemos lutar e ajudar de alguma forma
para garantir a sua continuidade, prestando bons serviços, principalmente para
os mais carentes.
Nota do blog: agradeço ao Provedor pela boa vontade e prontidão ao ser solicitado para a entrevista. Respondeu a todas as perguntas com a maior exatidão.
Tadeu,
ResponderExcluirParabéns pela excelente entrevista, amplamente esclarecedora num assunto sério de interesse da cidade.
Considerações particulares:
1)É um ABSURDO a prefeitura de Miracema contribuir com R$ 35 mil por mês com o Hospital.
Pega meia dúzia de comissionados da prefeitura que não fazem nada por exemplo, o custo com salários desses caras é muito maior que isso.
2)Se 50% do déficit da receita do hospital venha da CAMEDES, e o município não está repassando os valores que acarretou na suspensão do plano, é claro que a administração atual da prefeitura é responsável direta pela crise no Hospital, isso é incontestável.
3)A idéia de unir a estrutura do PU com a do Hospital parece realmente boa, poderia ocorrer.
4)A visita do secretário foi política, não virá um centavo de investimento do Estado para o Hospital. Isso precisa ficar claro para a cidade, não adianta alimentar falsas esperanças.
E verdade aparece com um trabalho sério do repórter e com a honestidade do entrevistado.
ResponderExcluirParabéns a ambos pelo esclarecimento.
Um aplauso do tamanho da grandeza do hospital
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente entrevista!
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