quarta-feira, 29 de junho de 2016

ENTREVISTA COM O PROVEDOR DO HOSPITAL DE MIRACEMA, LUIZ FERNANDO DE PAULA OLIVEIRA



De acordo com as informações noticiadas dias atrás, você permanecerá no cargo de provedor até o próximo dia 30 de junho. Confirma?  
- Realmente eu entreguei a minha solicitação de renúncia ao cargo de provedor, devido a vários problemas particulares relacionados principalmente à saúde dos meus familiares, o que irá prejudicar a minha dedicação integral na gestão do Hospital. Entretanto, devido à dificuldade de encontrar um substituto, tentarei conciliar meu tempo permanecendo no cargo até encontrarmos um novo candidato para desempenhar a função.

Vamos tirar uma dúvida não somente dos leitores, mas de toda a população miracemense: ocorreu na semana retrasada uma reunião do corpo diretivo do Hospital onde foi discutido o assunto da possibilidade de fechamento da instituição?
- Sim.  Na reunião em que eu entreguei o meu pedido de renúncia debatemos a grave situação financeira que estamos enfrentando e como não encontramos nenhuma solução possível, ao nosso alcance, ficou decidido que seria comunicado tanto à Prefeitura quanto aos demais órgãos competentes, sobre a impossibilidade de continuarmos atendendo à população e o conseqüente fechamento da Instituição.  A notícia foi divulgada antes de nosso comunicado oficial, causando um grande transtorno em nossa cidade.  Ao saber da notícia fomos procurados pelo Sr. Prefeito e pela Sra. Secretária de Saúde do Município, pois ficaram muito preocupados com a situação e marcaram uma reunião com o Secretário Estadual de Saúde, no Rio de Janeiro, para buscar uma possível solução.  Na oportunidade, garantiram tanto o Sr. Prefeito quanto o Sr. Secretário Estadual, que não deixariam o Hospital de Miracema fechar.

Sobre gastos decorrentes do mês, tais como: salários, encargos sociais, alimentação, medicamentos, materiais de consumo e outros, em valores aproximados, qual é a média mensal de despesa do Hospital?   
- O total das despesas mensais do Hospital atualmente é de R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinqüenta mil reais);

E o valor do déficit mensal?  
- R$ 100.000,00 (cem mil reais) aproximadamente;

Quantos funcionários têm o Hospital?
- 85

Os salários dos funcionários estão em dia?
- Sim.

Atualmente qual é o termo de cooperação da Prefeitura com o Hospital? O repasse está sendo feito corretamente?  
- Para prestar o atendimento dos pacientes do SUS o Hospital recebe o total de R$ 199.000,00 (cento e noventa e nove mil reais) do Governo Federal e R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais) da Prefeitura Municipal, sendo R$ 21.000,00 (vinte e um mil reais) de incentivo para a Maternidade, R$ 7.000,00 (sete mil reais) de aluguel do prédio do PU e outros R$ 7.000,00 (sete mil reais) de incentivo pela utilização do aparelho de Raio X. 
Devido ao atraso na formalização do contrato de prestação de serviços, vencido em novembro/2015 e renovado só em abril/2016, estamos recebendo uma parcela referente ao mês em curso e uma parcela de valor atrasado, conforme acordo firmado e intermediado pelo Ministério Público e o Conselho Municipal de Saúde, estando em dia o repasse até esta data.  

A Prefeitura paga algum aluguel para ocupar o prédio anexo onde está instalado o PU? 
- Sim, conforme informado acima.

Quais os recursos de outras esferas administrativas, ou seja, do Governo Estadual e Federal?  
- Conforme informado acima.

No início de seu mandato você tentou aplicar algum choque de gestão para amenizar essa crise financeira?     
- Logo de início efetuei o levantamento de nossas Receitas e Despesas totais para conhecer o resultado real e atuar nas duas frentes. O aumento das receitas depende principalmente do Poder Público Federal e Municipal, visto que nossa estrutura disponibilizada ao SUS está em torno de 70 % atualmente.   O restante, 30 % é destinado aos planos de saúde e particulares.  O Governo Federal não atualiza a tabela de procedimentos do SUS há vários anos e o Governo Municipal tem as suas alegações de não poder aumentar o valor do incentivo Municipal, apesar das várias reuniões que fizemos para tratar sobre o assunto.
Sobre as nossas despesas, apesar de ter encontrado um controle bem rígido, muitas dependem de fatores externos, não temos como interferir no aumento dos remédios, das tarifas de energia elétrica, aumento dos alimentos, etc.
Conseguimos reduzir a conta de energia de 27 mil para 14 mil reais.  Substituímos a usina de oxigênio que iria passar a cobrar aluguel de 12 mil reais e contratamos outra por três mil e quinhentos reais.   Congelamos o triênio dos funcionários em um acordo judicial e também o salário dos funcionários que recebiam valores acima do piso da categoria, tudo isso com o consentimento dos mesmos, pois entenderam a situação crítica que estamos passando.  Reativamos o convênio com o Plano SAF para aumentar o atendimento dos pacientes particulares. Iniciamos o atendimento em novas especialidades médicas para atrair novos pacientes.
Estamos em negociação com as empresas AMPLA e OI para cadastramento de futuras doações para aqueles que se interessarem em ajudar o Hospital de Miracema.  Todas estas medidas e outras não mencionadas aqui, não estão sendo suficientes para reverter nossa situação deficitária.

Qual seria o período de sua gestão?
- Iniciei no final de outubro/2015 para concluir o mandato do Dr. Vinícius que vencerá em dezembro/2016.

Falando agora sobre planejamento, supõe-se que havia um projeto de metas para o seu mandato. Poderia nos dizer quais seriam essas metas?
- Na realidade, todo o meu esforço, desde que iniciei, foi em resolver o problema financeiro, pois para realizar qualquer mudança, inclusive contratação de novos profissionais, modernização de equipamentos, etc. depende fundamentalmente de recursos.
Nosso objetivo de planejamento está relacionado com a nossa Missão e Visão de Futuro, buscando sempre um atendimento de excelência, humanizado, sem qualquer distinção entre os usuários.

A evolução da administração hospitalar está diretamente relacionada à história dos hospitais e da medicina. Os hospitais no Brasil, como em qualquer outro país, foram administrados por religiosos, médicos, enfermeiros ou pessoas da comunidade, devido ao fato de não serem vistos como uma empresa e sim como uma “instituição de caridade”. Nem sempre o gestor conhecia a prática hospitalar, nem as técnicas de gerenciamento, pois a escolha ocorria de forma empírica. Na verdade, não existia a figura do gestor, mas, sim, a função de manter a estrutura física e de cuidar das despesas com os poucos recursos existentes. Você é o 1º provedor que é formado em Administração a assumir esse posto?
- Aqui no Hospital de Miracema acredito que sim, mas em outros centros a figura do Administrador já está se tornando uma realidade, não desmerecendo a atuação dos médicos, mas, sim, reconhecendo e valorizando a atuação deles, enquanto gestores, mesmo sem a formação acadêmica e o pouco tempo disponível, muitas vezes se prejudicando profissionalmente em detrimento do bem comum.
Outro fator importante que precisa ser esclarecido é que, no caso do Hospital de Miracema e demais filantrópicos, o Provedor não pode receber nenhuma remuneração pela função, é um trabalho voluntário, o que dificulta encontrar profissionais dispostos a encarar o desafio.

O quadro de médicos que atende ao Hospital atualmente é suficiente? Tem alguma carência de especialista?
- A carência de profissionais está relacionada à falta de recursos disponíveis para a contratação de novos ou mesmo remunerar adequadamente os que aqui trabalham.

O Hospital tem carência com relação à aparelhagem?
- Os equipamentos que dispomos são relativamente suficientes para o nosso atendimento de média complexidade;

A suspensão do plano da CAMEDS não prejudicou somente aos segurados, tenho certeza que o Hospital também foi atingido com a paralisação. O que tem a dizer?  
- O plano CAMEDS representava uma receita para o Hospital em torno de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais) mensais.  Esse valor equivale a quase 50 % do nosso déficit mensal atual. 

Como funciona o plano “Amigos do Hospital”?
- Na realidade trata-se de uma contribuição voluntária, a título de doação, em que o Hospital retribui concedendo descontos quando necessitam de atendimento médico/hospitalar;

O que ficou definido na vinda do Secretário Estadual de Saúde na última segunda-feira?
- Ele visitou o Hospital para conhecer a nossa realidade e os nossos números.  Gostou muito da nossa estrutura e ficou de analisar a possibilidade de conseguir algum recurso adicional para o Hospital.   Sugeriu a transferência da Gestão do PU para o Hospital com a finalidade de sobrar mais recursos com a fusão das duas estruturas.   O Sr. Prefeito concordou com a ideia e vamos tentar colocar em prática o mais rápido possível.

Muito obrigado pela entrevista. Faça as suas considerações finais.
- O Hospital de Miracema é uma Entidade Filantrópica, pertence à população de Miracema, portanto, todos devemos lutar e ajudar de alguma forma para garantir a sua continuidade, prestando bons serviços, principalmente para os mais carentes.

Nota do blog: agradeço ao Provedor pela boa vontade e prontidão ao ser solicitado para a entrevista. Respondeu a todas as perguntas com a maior exatidão. 


4 comentários:

  1. Tadeu,

    Parabéns pela excelente entrevista, amplamente esclarecedora num assunto sério de interesse da cidade.

    Considerações particulares:

    1)É um ABSURDO a prefeitura de Miracema contribuir com R$ 35 mil por mês com o Hospital.

    Pega meia dúzia de comissionados da prefeitura que não fazem nada por exemplo, o custo com salários desses caras é muito maior que isso.

    2)Se 50% do déficit da receita do hospital venha da CAMEDES, e o município não está repassando os valores que acarretou na suspensão do plano, é claro que a administração atual da prefeitura é responsável direta pela crise no Hospital, isso é incontestável.

    3)A idéia de unir a estrutura do PU com a do Hospital parece realmente boa, poderia ocorrer.

    4)A visita do secretário foi política, não virá um centavo de investimento do Estado para o Hospital. Isso precisa ficar claro para a cidade, não adianta alimentar falsas esperanças.

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  2. E verdade aparece com um trabalho sério do repórter e com a honestidade do entrevistado.
    Parabéns a ambos pelo esclarecimento.
    Um aplauso do tamanho da grandeza do hospital

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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