Na semana decisiva para o Rio receber a
ajuda federal de R$ 2,9 bilhões, o governador em exercício Francisco Dornelles
faz o alerta: a segurança do estado está sob ameaça. Ele afirma que a frota da
polícia pode parar porque não há dinheiro para a gasolina. “Só aguentaremos até
o fim desta semana”, diz ele. Dornelles ressalta, no entanto, que o crédito
extraordinário da União destinado à segurança pública para a Olimpíada sairá
até quinta-feira. O dinheiro seria o suficiente para arcar com os custos da pasta
por três meses. Hoje, a segurança do estado consome R$ 940 milhões por mês. O
pagamento dos servidores, no entanto, continua indefinido. Mas já está batido o
martelo sobre como o estado remanejará seus recursos após receber a verba do
Planalto.
Entrevista:
O socorro federal de R$
2,9 bilhões será utilizado para pagar despesas da segurança pública. De que
forma?
A segurança é
prioritária, temos que cobrir os problemas da área. A frota da polícia corre o
risco de parar. Conseguimos fazer uma ginástica financeira e só aguentaremos
até o fim da semana. Ao ouvir o delegado que se queixou da falta de helicóptero
em uma operação policial, me senti frustrado, mas dou toda razão a ele. O
secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame está preocupado com os
recursos da polícia. E não é só ele. São todos os secretários. Em casa que não
tem pão, todos brigam, ninguém tem razão. O da Saúde (Luiz Antônio de Souza
Teixeira Júnior) chora no meu gabinete e, para mim, isso é muito penoso.
E o impacto da crise na
Olimpíada do Rio? O senhor tem falado em riscos.
Sou otimista com
relação aos Jogos, mas tenho que mostrar a realidade. Podemos fazer uma grande
Olimpíada, mas se algumas medidas não forem tomadas, pode ser um grande
fracasso. Tenho dito que, sem segurança e sem metrô, haverá dificuldades. Como
é que as pessoas vão chegar aos locais de competições sem metrô? Como é que as
pessoas vão se sentir protegidas na cidade sem segurança? Temos que dar a
demonstração de que estamos equipando a segurança e com a mobilidade pronta
para que as pessoas venham ao país.
A medida provisória
para liberar o crédito não foi assinada ainda. O que falta?
Ainda está no prazo
combinado, que é até o dia 30, quinta-feira. Considero que liberação da
subvenção está certa. O governo federal não ia baixar uma medida se não fosse
liberar.
E qual será a
destinação dos recursos estaduais que poderão ser remanejados?
Saúde, metrô e barcas,
além de pagamento de despesas atrasadas. O metrô está quase pronto. Falta pouco
mais do que um quilômetro, mas estamos devendo mais de R$ 400 milhões para as
empresas (responsáveis pelas obras). Elas já tinham prontas mais de 7 mil
cartas de aviso prévio para demissão de funcionários. Só não deram continuidade
porque fizemos mais uma ginástica. A situação da saúde é calamitosa. No caso
das barcas, temos uma embarcação novinha parada, que não entra em operação por
falta de pagamento.
Quanto ao salário dos
servidores, parte desse remanejamento de recursos não vai para a folha de
pagamento?
A folha de pagamento não
tem nada a ver com o dinheiro que vai sair. Não posso mentir para os
servidores. A segunda parcela não está definida ainda. Até terça-feira, vou ter
um levantamento do que temos em caixa para pagar. O pagamento é obrigação
nossa. Ter uma pessoa trabalhando o mês todo e não receber é uma forma de
trabalho escravo. O funcionalismo do Rio é de bom gabarito. Nosso problema é a
queda de arrecadação. Nós estamos vivendo para pagar a folha. Com exceção dos
professores, que recebem em dia pelo Fundeb (Fundo da Educação Básica) e, ainda
assim, estão em greve. Todos estão com atraso no governo. E digo, aumento,
neca. Não tem dinheiro para isso.
O pagamento de salários
para as forças de segurança está garantido com a ajuda do governo federal?
Temos que olhar os termos
da nova medida provisória. O pessoal vai ser pago, mas temos que ver como. O
salário tem que ser pago.
O que o senhor achou de
o prefeito Eduardo Paes dizer que a Olimpíada não pode ser desculpa para a
crise?
Cada um fala o que
quer. Não sou candidato a mais nada. Então, podem jogar toda a culpa em mim.
Quero que Paes ganhe a eleição. Ele está fazendo uma grande administração. Se
tudo o que ele fala é para ajudar na eleição, então estou de acordo.
As secretarias estão
demorando a apresentar os cortes?
Não. O decreto que fiz
diz que os cortes devem começar no dia 1º de julho, mas ainda assim já estamos
agindo.
Como está a relação com
o Judiciário e o Legislativo diante da crise?
Em plena harmonia.
E passados esses três
meses da ajuda federal, o que será do estado?
O pacto é para a
Olimpíada. Depois a gente vai ter que pensar.
A Cedae será
privatizada? A venda é uma imposição do governo federal?
Não houve imposição do
governo federal. Privatização da Cedae é um nome fantasia. Ninguém pensa em
privatizar a Cedae. Nunca se pensou em privatizar Petrobras e, sim, quebrar o
monopólio. Há grupos técnicos que defendem que, para estimular o investimento
no estado, a Cedae poderia conceder à iniciativa privada a exploração de água,
como fazem hoje Niterói, Petrópolis e Resende.
Há resistência para
isso?
Há posições diferentes.
A vitória sangrenta é sempre burra. A derrota sangrenta é mais burra ainda. Tem
que se fazer isso dentro de um clima de consenso. A Cedae tem que compreender
que certas concessões são mais vantajosas do que ela explorar sozinha. A
companhia receberia o dinheiro e poderia aplicar em outras áreas. Mas não há
unanimidade.
Além da queda do preço
do petróleo, o que fez o Rio chegar a esta situação?
O pior problema
chama-se Previdência. Muitos se aposentam muito cedo, e temos quase o mesmo
número de servidores ativos e inativos. Houve reajuste salarial. Muitos
ganharam o aumento e se aposentaram. Fomos obrigados a aumentar muito o número
de policiais, de professores… O estado contou com uma economia crescendo entre
3% e 4%, quando foi o contrário. Não se pensou que a cadeia de petróleo fosse
despencar.
Como está o governador
Pezão?
Parece tão bem que digo
a ele: “Pezão, acho que você está enganando a turma”. Nessa hora difícil do
estado, você está mesmo se escondendo da gente.
E o senhor? O que achou
de enfrentar essa crise à frente do governo?
Para mim foi um
abacaxi. Eu já tinha decidido encerrar a minha carreira política. Não quis
concorrer ao Senado e só aceitei disputar a vice porque achei que seria como o
Marco Maciel (vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso), só assumindo de
vez em quando. De repente, caiu essa bomba em minhas mãos.
TEXTO EXTRA
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