terça-feira, 21 de junho de 2016

FRIAÇA: O PORCIUNCULENSE QUASE HERÓI DA COPA DO MUNDO DE 1950


Nascido em Porciúncula-RJ, em 20 de Outubro de 1924, Albino Friaça Cardoso jogava no Ipiranga, de Carangola, no interior de Minas Gerais, quando o destino bateu à sua porta. Num amistoso contra o Vasco da Gama, em 1943, o Ypiranga ganhou por 2 x 1, com dois gols de Friaça. Não ficou mais no Ypiranga e foi no Vasco, ao lado de grandes craques como Eli, Ademir Menezes, Ipojucan, entre outros, que surgiu para o futebol brasileiro.


Guarani
Friaça se destacava por ser um jogador de chute forte e excelente visão de jogo e de muita habilidade. Atuava em qualquer posição do ataque. Pelo Vasco foi Campeão Carioca de 1947 e do Sul-Americano de 1948. Em 192 jogos marcou 113 gols pelo time cruzmaltino. No ano de 1949, após alcançar a fama pelo Vasco, Friaça foi vendido para o São Paulo e participou da conquista do Campeonato Paulista do mesmo ano. Mas o título não foi a única vitória do jogador: ele se tornou o artilheiro do campeonato com 24 gols. Marcou 45 gols em 64 jogos pelo tricolor paulista. Jogou também pela Ponte Preta e Guarani, de Campinas, onde encerrou a carreira em 1958.

Foi o autor do único gol brasileiro na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Uruguai derrotou o Brasil por 2 a 1, em pleno Maracanã. Esse gol foi o único que Friaça marcou nas 13 partidas que fez com a camisa da Seleção Brasileira. A vitória, histórica e consagradora, parecia um fato consumado após o primeiro gol brasileiro. No entanto, o triunfo eminente caiu por terra com os dois gols uruguaios. De herói nacional, Friaça foi mais um dos cabisbaixos jogadores brasileiros que deixou o Maracanã naquele fatídico dia.
Brasil de 1950
Ele sempre trazia os jogadores daquela época para Porciúncula. Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes, Ipojucan, entre outros. O Biguá (ex-Flamengo) e o Lafaiete (ex-Fluminense) acabaram se casando com moças da cidade.
Seu uniforme da Copa de 50


Friaça na Calçada da Fama, no Maracanã, em 2002
Tive o prazer de ver o Friaça em duas oportunidades: em Miracema, num jogo noturno no campo da Associação Atlética Miracema, hoje estádio Irmãos Moreira, no confronto pela Copa Noroeste entre Associação e Porciunculense. Mais tarde, no início dos anos 90, em Itaperuna, onde ele foi homenageado antes de um jogo e recebeu uma placa das mãos do também ídolo Roberto Dinamite.

Friaça sempre foi um homem alegre, mas ficou debilitado principalmente por causa da morte de um dos filhos. Depois da tragédia, Friaça nunca se privou do cigarro e da bebida que prejudicaram sua saúde.

Em 2005, foi internado com insuficiência respiratória em Itaperuna. Para piorar o seu quadro, teve um acidente vascular cerebral e ficou cego do olho direito.



Friaça veio a falecer no dia 12 de janeiro de 2009, aos 84 anos, no hospital São José do Avaí, em Itaperuna (RJ), depois de ter ficado 45 dias internado, devido a uma pneumonia, que o levou a falência múltipla dos órgãos. Ele deixou a esposa Maria Helena e três filhos: Ronaldo, Rogério e Maria Inês. O quarto filho, Ricardo, morreu em 1992, aos 33 anos, em um acidente enquanto praticava voo livre.

O jornalista Geneton Moraes escreveu um livro, Dossiê 50, lançado em 2000, e entrevistou todos os titulares daquela decisão de 1950. Abaixo, um trecho do depoimento de Friaça publicado na referida obra:

Albino Friaça Cardoso tinha 25 anos, oito meses e 26 dias quando realizou o sonho de fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro de um Maracanã superlotado. O gol saiu logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouqueceu. Friaça também.
... A emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: “Friaça, você fez o gol!” Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área.
Louco de alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César Alencar.
... Passei uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol. Eu tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair. E logo eu que fiz o gol.
Se o Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a Seleção ia ser campeã do mundo.
... Ali nós já éramos deuses – admite Friaça.
Friaça só não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali – além da queda do César Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria.  Consumada a tragédia brasileira diante da maior platéia até hoje reunida par um jogo de futebol, a dor da derrota desnorteou o autor do gol do Brasil.  
... O trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros jogadores, andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um só: como é que a gente foi perder com um gol daqueles?
Depois das voltas inúteis em torno do campo do Vasco naquela noite de domingo, Friaça pirou.
... Só me lembro de que a gente subiu para o dormitório. Eram umas onze da noite. Troquei de roupa e me deitei.
... Não me lembro de nada do que aconteceu depois. Quando dei por mim, por incrível que pareça, eu estava em Teresópolis, no meu carro. Passei pela barreira, fui para um hotel.
... Quando me perguntaram: “Friaça, o que você quer?” Eu simplesmente não sabia onde estava. Só sabia que estava embaixo de uma jaqueira, no terreno do hotel. Não sei como é que saí com meu carro da concentração. Não sei como é que fui bater em Teresópolis.
... Um médico que era prefeito de Teresópolis é que me deu uma injeção. Comecei, a saber, onde é que me encontrava uns dois dias depois. A minha família, em Porciúncula, estava atrás de mim, sem saber onde é que eu estava.  O pior é que eu também não sabia. De 64 quilos eu passei para 59.

Clique no link abaixo: 
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2 comentários:

  1. Entrevistei o Friaça quando reportava para a Radio Princesinha do Norte um jogo pela Copa Noroeste, não me lembro qual foi o adversário do Porciunculense, sei que o jogo foi no Ferradurão.
    Terminado o jogo, solicitei uma entrevista ao Friaça que gentilmente me concedeu. Foi longa, perguntei sobre tudo e respondeu-me sem meias palavras, infelizmente a nossa emissora não gravou a entrevista ao vivo, Adilson Dutra, talvez se lembre dela e possa confirmar, pois ele narrou esse jogo. Outro que pode confirmar também é o meu amigo Ataíde de Souza, no dia seguinte me disse que, tinha ouvido e gostado, havia sido uma boa entrevista. Acho que foi mesmo.

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    1. A perda desse arquivo da Princesinha foi algo lamentável. Imagino a sua emoção ao entrevistá-lo.

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