Nascido
em Porciúncula-RJ, em 20 de Outubro de 1924, Albino Friaça Cardoso jogava no
Ipiranga, de Carangola, no interior de Minas Gerais, quando o destino bateu à
sua porta. Num amistoso contra o Vasco da Gama, em 1943, o Ypiranga ganhou por 2 x 1, com dois gols de Friaça. Não
ficou mais no Ypiranga e foi no Vasco, ao lado de grandes craques como Eli,
Ademir Menezes, Ipojucan, entre outros, que surgiu para o futebol brasileiro.
Guarani |
Foi o autor do único gol brasileiro na final da Copa do Mundo de 1950, em que o Uruguai derrotou o Brasil por 2 a 1, em pleno Maracanã. Esse gol foi o único que Friaça marcou nas 13 partidas que fez com a camisa da Seleção Brasileira. A vitória, histórica e consagradora, parecia um fato consumado após o primeiro gol brasileiro. No entanto, o triunfo eminente caiu por terra com os dois gols uruguaios. De herói nacional, Friaça foi mais um dos cabisbaixos jogadores brasileiros que deixou o Maracanã naquele fatídico dia.
Brasil de 1950 |
Seu uniforme da Copa de 50 |
Friaça na Calçada da Fama, no Maracanã, em 2002 |
Friaça sempre foi um homem alegre, mas ficou debilitado principalmente por causa da morte de um dos filhos. Depois da tragédia, Friaça nunca se privou do cigarro e da bebida que prejudicaram sua saúde.
Em 2005, foi internado com insuficiência respiratória em Itaperuna. Para piorar o seu quadro, teve um acidente vascular cerebral e ficou cego do olho direito.
Friaça
veio a falecer no dia 12 de janeiro de 2009, aos 84 anos, no hospital São José
do Avaí, em Itaperuna (RJ), depois de ter ficado 45 dias internado, devido a
uma pneumonia, que o levou a falência múltipla dos órgãos. Ele deixou a esposa
Maria Helena e três filhos: Ronaldo, Rogério e Maria Inês. O quarto filho,
Ricardo, morreu em 1992, aos 33 anos, em um acidente enquanto praticava voo
livre.
O
jornalista Geneton Moraes escreveu um livro, Dossiê 50, lançado em 2000, e
entrevistou todos os titulares daquela decisão de 1950. Abaixo, um trecho do
depoimento de Friaça publicado na referida obra:
Albino
Friaça Cardoso tinha 25 anos, oito meses e 26 dias quando realizou o sonho de
fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro de um Maracanã superlotado. O
gol saiu logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouqueceu.
Friaça também.
... A
emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César
de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: “Friaça,
você fez o gol!” Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois
caímos dentro da grande área.
Louco de
alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César Alencar.
...
Passei uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol.
Eu tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair.
E logo eu que fiz o gol.
Se o
Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a Seleção
ia ser campeã do mundo.
... Ali
nós já éramos deuses – admite Friaça.
Friaça só
não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali – além
da queda do César Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria. Consumada a tragédia brasileira diante da
maior platéia até hoje reunida par um jogo de futebol, a dor da derrota
desnorteou o autor do gol do Brasil.
... O
trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros jogadores,
andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um só: como é
que a gente foi perder com um gol daqueles?
Depois
das voltas inúteis em torno do campo do Vasco naquela noite de domingo, Friaça pirou.
... Só me
lembro de que a gente subiu para o dormitório. Eram umas onze da noite. Troquei
de roupa e me deitei.
... Não
me lembro de nada do que aconteceu depois. Quando dei por mim, por incrível que
pareça, eu estava em Teresópolis, no meu carro. Passei pela barreira, fui para
um hotel.
...
Quando me perguntaram: “Friaça, o que você quer?” Eu simplesmente não sabia
onde estava. Só sabia que estava embaixo de uma jaqueira, no terreno do hotel.
Não sei como é que saí com meu carro da concentração. Não sei como é que fui
bater em Teresópolis.
... Um
médico que era prefeito de Teresópolis é que me deu uma injeção. Comecei, a
saber, onde é que me encontrava uns dois dias depois. A minha família, em
Porciúncula, estava atrás de mim, sem saber onde é que eu estava. O pior é que eu também não sabia. De 64 quilos
eu passei para 59.
Clique no link abaixo:
https://www.youtube.com/attribution_link?a=Zx7MvYtWeZE&u=%2Fwatch%3Fv%3DPZwJXnn2kFA%26feature%3Dshare
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Entrevistei o Friaça quando reportava para a Radio Princesinha do Norte um jogo pela Copa Noroeste, não me lembro qual foi o adversário do Porciunculense, sei que o jogo foi no Ferradurão.
ResponderExcluirTerminado o jogo, solicitei uma entrevista ao Friaça que gentilmente me concedeu. Foi longa, perguntei sobre tudo e respondeu-me sem meias palavras, infelizmente a nossa emissora não gravou a entrevista ao vivo, Adilson Dutra, talvez se lembre dela e possa confirmar, pois ele narrou esse jogo. Outro que pode confirmar também é o meu amigo Ataíde de Souza, no dia seguinte me disse que, tinha ouvido e gostado, havia sido uma boa entrevista. Acho que foi mesmo.
A perda desse arquivo da Princesinha foi algo lamentável. Imagino a sua emoção ao entrevistá-lo.
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