sexta-feira, 3 de junho de 2016

JOSÉ CARLOS REGO: O MIRACEMENSE QUE FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO CARNAVAL CARIOCA



Nascido em Miracema, em 3 de junho de 1935, começou aqui como locutor do serviço de alto-falante e fez reportagens para o jornal estudantil “O Federado”. Em 1957, mudou-se para o Rio e começou a sua carreira no “Jornal Imprensa Popular”. Logo se transferiu para o jornal “Última Hora”, onde se destacou na cobertura das escolas de samba. 

A sua paixão pelo carnaval floresceu e o Império Serrano era a sua escola preferida, que dividia com o Vasco da Gama, o coração do miracemense. Seu amor à Império não impediu que, sobretudo a partir dos anos 60, divulgasse as demais escolas de samba, contribuindo para que estas se projetassem e alcançassem o sucesso que agora exibem.  Em 1994 lançou o livro “A Dança do Samba – Exercício do Prazer”, no qual nominou e descreveu 156 coreografias da dança e do ritmo. A obra é considerada um clássico do tema. 

José Carlos Rego era membro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e do Conselho Superior de Música Popular do Museu da Imagem e do Som. Foi um dos integrantes permanente do júri do concurso “Estandarte de Ouro” do jornal O Globo, que premia os melhores do carnaval, desde a sua instituição, em 1972. Participou por muitos anos das transmissões do carnaval da hoje extinta Rede Manchete e, antes, da TV Educativa, ao lado de feras como Fernando Pamplona, Haroldo Costa, Albino Pinheiro, João Saldanha e Mestre Marçal.  

Quis o destino que numa quarta-feira de cinzas do ano de 2006, um AVC provocasse a sua morte cerebral. Três dias depois, mais precisamente no dia 4 de março, aos 70 anos, veio a falecer. O seu sepultamento foi no dia 5, no cemitério Jardim da Saudade, na Zona Oeste do Rio. 

Durante a vigília que precedeu o sepultamento, seu filho, Rodrigo Ernesto de Andrade Rego, leu o perfil escrito por ele, intitulado “Missão cumprida".

“No dia 3 de junho de 1935 nascia na cidade de Miracema um homem de muita ambição. Com muita coragem, inteligência e força de vontade, veio  para a cidade grande, onde buscou, trilhou e conseguiu o seu espaço. Posicionou-se como jornalista e passo a passo conseguiu ser reconhecido no seu ambiente de trabalho. Desde então, neste jornalista passou a rolar uma paixão que o acompanhou em toda a sua vida: o samba. Passou a se dedicar a conhecer a música e estudá-la profundamente. Durante estes anos, fez muitas amizades e conquistou a admiração e o reconhecimento dentro do mundo do samba. Compôs, criou, participou de um grupo de compositores e por final eternizou na forma de um livro grande parte dos seus conhecimentos. Em “Dança do samba, Exercício do prazer”. Reuniu grandes nomes que, assim como ele, faziam e fazem do samba a sua vida.

Outra paixão que levou com muito orgulho por toda a sua existência foi o prêmio Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, que desde a sua primeira edição tinha este jornalista no corpo de jurados.  O carnaval era o ápice anual desta paixão, não abria mão nunca de assistir pessoalmente aos desfiles das escolas de samba.  Mas, não por acaso, neste ano de 2006 não quis participar da festa, para surpresa dos seus familiares. Sentia-se cansado, mas hoje nós vemos que ele sabia que estava chegando a sua hora. Estava se preparando espiritualmente.

Agora falaremos um pouco do lado pessoal deste jornalista. Pessoa amável e sempre com uma palavra de carinho, uma mão sempre disposta a ajudar.  Não tinha quem o conhecesse e já no primeiro encontro não se admirasse.  Por onde passou, ajudou muita gente, mas como um bom espírita não fazia questão de se vangloriar destas ajudas.  Um excelente pai, que criou, educou e deu o caminho certo para que seus filhos pudessem crescer e caminhar sozinhos.  Viu e se orgulhou de presenciar seus filhos se formarem; mais uma parte da missão estava sendo cumprida. Sua obra não poderia terminar sem um grande presente de Deus. E ele veio no mês de janeiro, de forma grandiosa e sublime: uma neta linda que a ele foi dado o prazer de dar o nome. Luanda, assim como a capital angolana, que ele se encantou ao conhecer nos anos 80.  
Depois disso tudo, ele foi, desencarnou, foi para um mundo melhor do que este em que nós aqui ficamos. Foi encontrar velhos amigos que ele tanto amava, como o seu grande parceiro Manuel da Paixão Pires. Foi encontrar seus pais e familiares que o aguardavam de braços abertos. Agora neste mundo nós não o vemos, mas ele nos vê e tenho a certeza de que está feliz e olhando por todos nós. Este homem, negro com orgulho, grande crítico musical, jornalista, é meu pai, de quem me orgulho muito. Pai, que seguramente está aqui entre nós, te digo poucas palavras: Obrigado! Até breve!”

Nota do blog: tive o prazer de ser apresentado a ele, através do amigo Monteirinho, e num bate-papo descontraído, sua atenção e jeito simples, além de uma educação exemplar, guardo na lembrança até hoje esse momento.  

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