sexta-feira, 25 de novembro de 2016

ROBERTO DINAMITE: UM ARTILHEIRO IMPLACÁVEL




Após dois anos lutando contra um câncer no intestino, Bob Dinamite faleceu em 08 de janeiro de 2023, na capital carioca, aos 68 anos. Sentiu-se mal no dia anterior e foi internado. Ao longo dos últimos meses era nítido que o seu quadro de saúde se agravava dia após dia. As imagens veiculadas nas redes sociais ao lado de ex-jogadores e amigos que foram visitá-lo demonstravam o quanto ele estava sendo castigado por essa doença. Uma das marcas registradas do Roberto era o sorriso estampado em seu rosto. Sorriso esse, que, aos poucos, foi de se desfazendo na luta diária de enfrentamento contra essa doença. Quis o destino que ele nos deixasse em um domingo, dia dedicado ao futebol e que ele, por tantas vezes, explodiu as redes adversárias levando alegria aos torcedores vascaínos e para todos que apreciam aquilo que o futebol tem em sua essência: O GOL. 

Roberto não é apenas um ídolo do Vasco. É um dos poucos jogadores que é respeitado e admirado por torcedores rivais, principalmente dos adversários domésticos. Pode-se dizer o mesmo de Zico, seu grande amigo e rival - rivalidade essa apenas dentro de campo. Essa amizade e admiração mútua servem de exemplos para confirmar que, o futebol é um esporte e deveria ser compartilhado entre amigos e desconhecidos, dentro de um ambiente saudável e sem essa violência que tanto nos assusta. 

Nascido em Duque de Caxias-RJ, no dia 13 de abril de 1954, pouco antes de completar 15 anos, em 1969, o menino Carlos Roberto de Oliveira foi descoberto pelo olheiro Gradim e começou sua carreira de sucesso no Vasco, jogando na escolinha.  Menos de dois anos mais tarde, nem bem completara 17 anos, o jovem atacante teve as primeiras oportunidades no time de cima do Vasco, graças ao então técnico Admildo Chirol. Não foram precisos mais do que dois jogos para que a revelação fizesse seu primeiro gol entre os profissionais, em jogo pelo campeonato brasileiro, contra o Internacional.

Impressionado com a violência do chute que deu ao Vasco o segundo gol na vitória por 2 x 0 sobre o time gaúcho, o saudoso jornalista Aparício Pires, do Jornal dos Sports, redigiu, no dia seguinte, uma manchete profética: “Garoto Dinamite explode o Maracanã”. Nascia para o futebol, no dia 25 de novembro de 1971, Roberto Dinamite.

Na campanha que deu ao Vasco seu primeiro campeonato brasileiro, em 1974, Roberto foi o grande comandante da equipe, assinalando 16 gols, que o tornaram artilheiro da competição – dez anos mais tarde, Dinamite voltaria a ser artilheiro do Brasileirão, novamente com 16 gols, quando o Vasco perdeu a final para o Fluminense.

Depois de ser campeão carioca em 1977 e artilheiro em 78 – ao lado de Cláudio Adão e Zico, ambos do Flamengo, com 19 gols – Roberto ainda ajudou o Vasco a chegar a mais uma decisão, quando foi derrotado na final do brasileiro de 79, para o Internacional, antes de ser vendido ao Barcelona, da Espanha. Roberto não se adaptou ao futebol espanhol e sua breve passagem pela Europa foi frustrante em todos os aspectos. Foram 8 jogos e 3 gols marcados.

Depois de quase ter sido contratado pelo Flamengo, o Vasco acabou trazendo o seu ídolo de volta, poucos meses depois da despedida. E esse retorno não poderia ter sido melhor. No reencontro com o Maracanã, enfrentando o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro de 1980, Dinamite levou a torcida ao delírio, ao marcar os cinco gols da vitória vascaína. Foi artilheiro do certame estadual em 1981, com 31 gols, e campeão carioca em 1982.

Ainda em 1982, convocado para disputar sua segunda Copa do Mundo – estivera na Argentina, em 1978 – o atacante acabou não sendo escalado em nenhum jogo por Telê Santana, o que lhe causou, segundo ele, a maior mágoa da carreira. A sua participação na Espanha foi substituindo o atacante Careca, cortado antes de iniciar a competição por lesão. Na Copa de Argentina Roberto marcou 3 gols. Os seus números na Seleção são os seguintes: 47 jogos e 25 gols, sendo 38 oficiais e 20 gols.

Com 12 gols foi artilheiro do carioca de 1985. Roberto Dinamite ajudaria o Vasco a conquistar o bicampeonato estadual, em 1987/88, fazendo dupla com Romário, antes de sofrer, ainda em 88, uma grave contusão que o afastou da equipe e fez com que muitos diagnosticassem precocemente o fim da carreira do ídolo.

Depois de enfrentar uma longa recuperação, Roberto foi emprestado à Portuguesa de Desportos – 14 jogos e 11 gols, e ao Campo Grande – 14 jogos sem marcar nenhum gol. Predestinado a ser campeão pelo Vasco, voltou a São Januário e, novamente efetivado no comando do ataque, sagrou-se campeão estadual de 1992, invicto, último título de uma brilhante carreira. Pelo Vasco foram 1.022 jogos e 617 gols marcados como profissional. Ainda é o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, desde 1971, com 190 gols, e também do Campeonato Carioca, com 284 gols, seguido por Zico (239) e Romário (233). 

Em março de 1993, Roberto despediu-se do futebol em amistoso contra o Deportivo La Coruña, no Maracanã, jogo para o qual convidou o eterno adversário e grande amigo Zico, que acabou vestindo a camisa do Vasco e participando do jogo. Estava encerrada a carreira do maior ídolo e artilheiro da história do Vasco da Gama. Assim Roberto definiu a sua trajetória no futebol: "Não era uma Brastemp, do nível de Zico e Reinaldo, mas eu fazia gols." 

A sua passagem na presidência do Vasco - que não foi das mais felizes, pelo contrário, foi uma decepção por tudo que se esperava - não pode macular sua trajetória dentro de campo. O Roberto jogador é um ídolo e o Roberto dirigente não deixou boas recordações. No entanto, a serenidade é necessária para distinguir as duas funções. 

Nota: texto publicado originalmente em novembro de 2016 e editado em janeiro de 2023. 


 

4 comentários:

  1. Um texto tão bem escrito, com fotos do homenageado pelos clubes que passou muito legal, bem ao modo Blog do Tadeu Miracema, mas no final um parágrafo e uma foto sem a menor necessidade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Uma lembrança de agradecimento ao ídolo do time adversário e de muitos brasileiros, que com muita simplicidade aceitou o convite sem fazer nenhuma restrição. Esse é o Zico!

      Excluir
  2. Esses vascaínos tem uma coisa com o Zico que não dá pra entender. Rssss

    ResponderExcluir