"É
um sentimento de muita tristeza – sobretudo pelo fato de a educação não ter chegado até
esses políticos. Se tivesse chegado, teriam o compromisso com a transformação
da sociedade, só que para todos. Mas não é essa a visão de educação deles, que
têm compromissos de outra natureza." O desabafo é da doutora em educação
Neide Noff, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo), sobre a PEC (Proposta de Emenda à
Constituição) dos gastos públicos aprovada na terça-feira (13) pelo Senado Federal.
A PEC 55 prevê o
congelamento dos investimentos federais em áreas como educação e saúde pelo
período de 20 anos. Para a professora, doutora pela Faculdade de Educação da
USP (Universidade de São Paulo) e há 30 anos no ramo, o argumento defendido
pelo governo federal de que a proposta preservará essas áreas – como alegado,
por exemplo, pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) – não corresponde à
realidade.
"Na verdade, essa
PEC é muito ruim para a educação porque compromete a qualidade do ensino. Há
necessidade de se pensar educação pelo aspecto de investimento nas mídias
digitais e pelas questões de salários e sobrevivência de um professor – que
precisa de atualização profissional e de políticas públicas de formação –, por
exemplo, mas também no que se refere às vagas em creches. Congelar investimento
por 20 anos é uma aberração, é impedir o crescimento do setor, e o que pode ser
pior: é regredir no que já se conquistou", avaliou.
Para a educadora, um
dos efeitos práticos que podem ser sentidos a médio prazo ao se atrelarem os
investimentos em áreas federais à inflação, no setor educacional, é o prejuízo
à formação dos professores.
A educadora disse que
ainda mantinha uma esperança de que a PEC não passasse no Senado, ou, então,
que fosse aprovada preservando áreas como a educação. "Nossos representantes realmente precisam muito ainda do processo
de educação neles, mesmo porque o descrédito do cidadão em relação a eles é
muito grande. Por outro lado, torço para que a nova geração não os tenha como
modelo e que os veja assim: como antimodelo", concluiu.
BOL Notícias
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