Nota: esse texto maravilhoso foi publicado no jornal Dois Estados, de
Miracema, em 15 de abril de 2015. Para aqueles que não conhecem a sua história, José Maria de Aquino é um dos maiores e mais respeitados jornalistas
esportivos do Brasil.
“Nasci em Miracema,
minha terrinha santa”, precisava sair para ganhar o mundo, tinha chance de ir
para Campos, mas meus pais disseram não. Então, fui para São Paulo, onde já estava meu
irmão Paulo. Lá eu trabalhava no
escritório de uma fábrica, estudava à noite e me preparava para ingressar na
faculdade de Direito. Nunca, ao contrário do meu irmão, sonhei ou desejei ser
jornalista. Queria estudar Direito e ser Promotor de Justiça. Prestei
vestibular para a PUC e passei bem. Fui bom aluno. Formado, comecei a advogar
com dois amigos. Mas Deus nos reserva uma vida diferente da que desejamos ou
imaginamos, e minha trajetória começou a mudar quando foi fundado o Jornal da
Tarde.
Meu irmão e meu cunhado
(Luiz Carlos Secco), que trabalhavam no Estadão, insistiram para que eu fosse
trabalhar no Jornal da Tarde. Fiz o teste, fui aprovado e passei a gostar do
jornalismo. Fui tocando os dois barcos (jornal e escritório) até que as viagens
passaram a tomar mais meu e a me seduzir. Acabei fechando o escritório em 70. Naquele tempo, não era necessário ter diploma
de jornalista, e o curso de Direito me ajudava a ver as coisas de uma forma
diferente dos outros companheiros.
Fui me firmando com o
tempo, ganhei três prêmios da Associação dos Cronistas Esportivos por três anos
seguidos e o Prêmio Esso de Informação Esportiva, em 1969, juntamente com
Michel Laurence, com a série “O Jogador é um Escravo”, publicada no Estado de
São Paulo. O destino me fez jornalista,
e gostei. Trabalho em Copas do Mundo e
Olimpíadas desde 1966, com exceção a do ano passado, realizada no Brasil. Não pretendo trabalhar nas Olimpíadas do Rio,
em 2016, mas gostaria muito de voltar às coberturas na Copa da Rússia, em 2018.
As pessoas acham que “cobrir Copa e
Olimpíada” só vale estando no local. Em
algumas, pela posição de chefia que ocupava, tive de permanecer no Brasil, na
retaguarda – tão importante e até mais trabalhosa do que na frente. E fui a algumas – Copas e Olimpíadas – em que,
mesmo estando no local, passava dia e noite na redação. Alguns enxergam como enriquecimento do
currículo, mas penso diferente.
Algumas coberturas
foram marcantes, como a Copa de 70, estreando na revista Placar; a de 82,
comentando para a TV Globo; a de 86, chefiando a reportagem da Globo; a
Olimpíada de 76, em Montreal, no Canadá, descobrindo Nadia Comaneci; a de 80, na Rússia, chorando com o urso Misha
na festa de encerramento; e na Copa de 2010, trabalhando pelo portal Terra, um
veículo novo e diferente. Sentir intimamente as diferenças de trabalhar usando
máquina de escrever, telex, despachar filmes por passageiros nos aeroportos até
ligar o computador, escrever, apertar uma tecla e tudo está lá para leitura.
O primeiro grande
momento, estando lá, e talvez o mais importante de todos, pelo resultado e pela
qualidade, foi, claro, a Copa de 70. Uma
viagem longa, o desafio do início da revista Placar e o tricampeonato do
Brasil, com a facilidade de trabalhar, conversando todos os dias com os
jogadores e membros da comissão técnica, bem diferente do que acontece hoje. Depois foi sentir a dor nas lágrimas do João
do Pulo, após a prova do salto triplo, em Moscou-1980, sentindo-se “roubado” no
ouro, içando com a medalha de bronze. Poder abraçá-lo minutos antes da
entrevista. Abraçar Éder Jofre depois da
conquista do título mundial dos penas, em Brasília, e ganhar de presente um par
de luvas que usou nos treinamentos. São
inúmeros momentos que me recordo com carinho.
Em 1970, visando a Copa
do Mundo, a editora Abril decidiu publicar a Placar e, para economizar tempo,
contratou quase toda equipe que fazia a edição de Esportes do jornal Estado de
São Paulo. O futebol brasileiro tinha
grandes jogadores e o esporte no geral também tinha grandes atletas. E não
havia a concorrência dos programas esportivos da televisão, que hoje mostram
tudo instantaneamente e milhares de vezes. Naquela época o que havia era a qualidade e
interesse dos leitores com informações ainda inéditas e exclusivas. Não vejo como um jornalismo romântico. Digo
que os tempos eram outros. A revista era mensal, trazia grandes e inéditas
reportagens, mas, com o advento da televisão e internet, esse tipo de revista
perdeu espaço no mercado. Mesmo naquela
época, a Placar correu o risco de fechar logo após a Copa do Mundo de 70 porque
as vendas caíram de 240 mil exemplares na Copa para 59 mil. Foi uma luta para
não fechar.”
Acompanho futebol faz tempo e poucos jornalistas têm uma história tão digna quanto essa. Moro no interior de São Paulo, mais precisamente em Presidente Prudente, sou torcedor do Palmeiras e um fã incondicional do Zé Maria, se assim posso chamá-lo. Miracema também é a terra de Célio Silva e Orlando Fumaça. Um grande abraço do Paulo Melo.
ResponderExcluirObrigado pela participação e também a terra dos saudosos Irmãos Moreira.
ResponderExcluirGRANDE JORNALISTA JOSÉ MARIA DE AQUINO, COLECIONO A PLACAR DESDE OS ANOS 70 E CURTIA MUITO O SEU TRABALHO. VALEU A MATÉRIA TADEU. PARABENS.
ResponderExcluir