segunda-feira, 10 de julho de 2017

ALEXANDRE E ADÃOZINHO: ARTILHEIROS DO PORTO ALEGRE, DE ITAPERUNA

Alexandre e Adãozinho 

Adãozinho é escalado na última hora e faz a alegria de uma cidade inteira.

Ele não estava nos planos do técnico Gildo Rodrigues, mas a torcida não o esquecia. Nem quatro prestigiosos fazendeiros da região, que se cotizaram e fizeram um “vaquinha” para pagar seu salário, o mais alto do time. E Adãozinho, 34 anos, fez jus à fama e ao salário.   

Adãozinho e Alexandre, os primeiros agachados a partir
da esquerda.
O curioso é que o jogador só teve condições de jogo na véspera da partida, quando apressados dirigentes o inscreveram na federação. E como reza a lenda, Adãozinho, como ponta, tem também o seu lado maluco. Tanto que, conhecendo a si próprio – costumava abandonar as equipes no meio da competição – fez incluir no contrato um clausula que o deixa sem receber salários se cometer qualquer ato de indisciplina. Nascido em Itaperuna, o jogador sempre brilhou nos campos de várzea da cidade e nas vizinhanças. Depois de marcar muitos gols e levar zagueiros à loucura, Adãozinho acabou contratado pelo Porto Alegre com a ajuda financeira de fazendeiros.

A fama de Adãozinho rompeu os limites de Itaperuna. Há quatro anos, foi jogar em Campos, no Americano e no Goytacaz, mas saudoso de casa, não alcançou o sucesso esperado.

Mais comedido, Alexandre, 26 anos, artilheiro do time e autor do outro gol, é mineiro de Sete Lagoas e dono de inesgotável vocação ofensiva. Na terceira divisão fez 26 gols; na segunda, 16; e, na primeira, iniciou com o pé direito, estreando com mais um gol.

O estilo vigoroso de Alexandre lembra o de Roberto, que brilhou no Botafogo nos anos 60. Seu nome, como o de Adãozinho, foi gritado em coro pela torcida e, isoladamente, pelo técnico do Flamengo, que o elogiou publicamente.  

Alexandre e Adãozinho fizeram a alegria dos torcedores locais, dos fazendeiros e dos donos de botequins, lotados até de madrugada na comemoração de uma inesperada e merecida vitória.

Nota: texto transcrito na íntegra do jornal O Globo, de 11 de março de 1987, no dia seguinte à vitória do Porto Alegre sobre o Flamengo, por 2 a 0, pelo Campeonato Carioca, com reportagem de Marcos Penido. 

Fotos Arquivo do Eusébio Dornellas 

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