domingo, 18 de agosto de 2019

JOSÉ MARIA DE AQUINO: UM MIRACEMENSE DE VERDADE


Nota: transcrito do jornal Dois Estados, de 27 de abril de 2006, com matéria assinada por Adilson Dutra.

Miracema é um berço do jornalismo brasileiro? Quem fala sobre este e outros assuntos é um dos mais brilhantes repórteres brasileiros, jornalista por opção, segundo ele a carreira de advogado tinha preferência, e cuja trajetória é conhecida no país inteiro. José Maria de Aquino, nascido na “Santa Terrinha”, como ele gosta de chamar a sua terra natal, está em São Paulo há exatos cinquenta e seis anos. Saiu daqui já rapaz e parou em terras paulistanas porque seu pai achou Paraná longe demais. “Meu pai queria que fôssemos para mais longe ainda, o Paraná, terra jovem 50 anos atrás e pronta para ser desbravada.  Paramos aqui. Eu sentia saudade, mas era longe demais para ir a todo instante. Na época nem ônibus direto havia".

COMEÇO DE TUDO

“Saí em janeiro de 50. Não pensava em ser jornalista. Nunca pensei, até dezembro de 1965. Eu pensava ser advogado criminalista ou promotor público. Fiz direito, trabalhei na promotoria, mas me decepcionei, porém essa é outra história”. Falando sobre a tradição da terra em ter grandes jornalistas, José Maria de Aquino cita alguns companheiros de imprensa, que segundo ele deixaram o umbigo na terra e eram sempre presentes. “Sempre me lembro de que muitos grandes jornalistas – o que não é meu caso – deixaram o umbigo aí. Lembro-me do José Maria Miguel fundando um centro, que batizou Cazuza (nada com o cantor/compositor). E a paixão do Ory por falar no serviço de alto falante com programa esportivo às 18h".

LAURO E POLACA

Sobre a bola, sua outra paixão, José Maria guarda com muito carinho algumas lembranças do Miracema FC, mas dois jogadores em especial, Jair Polaca e Lauro Carvalho, estão sempre em suas crônicas ou comentários. “O Lauro jogava muito. Vi, e vejo cada vez menos, profissionais regiamente pagos com bola igual à dele. Não gostava de correr, é verdade, ou não sentia necessidade, tal a diferença. Polaca não era craque, pelo menos não no meu tempo (ele já era veterano), mas tinha um ideal, manter vivo o futebol de Miracema, e isso me agradava. Pena que não souberam dar a ele o valor que tinha – pelo futebol e, depois, pelo carnaval".

PRÊMIO ESSO

Recebendo o Prêmio Esso
O Prêmio Esso de Jornalismo é um programa institucional da Esso Brasileira de Petróleo criado em 1955 e vem desde então promovendo o reconhecimento do mérito dos profissionais de imprensa através da indicação e escolha dos melhores trabalhos publicados nos jornais e revistas, segundo o julgamento de comissões independentes formadas exclusivamente por jornalistas e especialistas da área de Comunicação. Um desses premiados foi ele, José Maria de Aquino, em 1969, com o trabalho “O jogador é um escravo”, publicado no jornal Estado de São Paulo. O outro, ganho em 1966, foi com a equipe do Jornal da Tarde que cobriu, com um toque acima dos demais, o casamento do Rei Pelé. Ele fala sobre os prêmios. “Os dois prêmios ajudaram bastante. Antes eu já havia ganhado outros dois da Aceesp – Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Mas o jornal, revolucionário na época, ajudava bastante. A questão, e não problema, é que sempre fui retraído...”


MOMENTOS MÁGICOS E ETERNOS

Foram muitos, a começar pela Copa do México em 1970, quando cobriu pela Revista Placar. Os Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá em 76, também é indescritível segundo José Maria de Aquino. Moscou em 80, foi especial. “O assédio aos brasileiros era incrível, tínhamos sempre que ter em mãos algo sobre Pelé, e felizmente levei algumas revistas e pôsteres do Rei e pude abrir algumas portas”. Olimpíadas de Los Angeles, em 84, um grande evento promovido pelo mega país americano, foi outro grande momento vivido pelo jornalista miracemense.
“Mas gostoso mesmo, diz José Maria, é ser cercado em uma cachaçaria em São Paulo, por quase duas dúzias de jovens estudantes, todos sóbrios e ávidos por um autógrafo e um bate papo sobre futebol e a vida. Bom mesmo é saber que mesmo depois de deixar o Sportv, oito meses atrás, os jovens não se esqueceram de mim”, completa.

AMIGOS E COMPANHEIROS

Junto aos netos e de sua tia Antônia Aquino Lomba
“Amigos são poucos, infelizmente. Sou exigente para considerar alguém amigo. A menor mancada e, pronto... O Jobinha é do peito. Adilson Dutra, embora bem mais moço, que só fui conhecer anos depois – 1979 –, embora desconfiado no início está na pequena relação. Aqui mais perto? O Deco, o povo de Miracema não conhece. O Seco, meu cunhado. O Pedro Rocha – uruguaio e ex-craque do São Paulo – que é mais que um jogador. Na selva de pedras tem lugar para companheiros, mas não para muitos amigos. E, como já vim criado, com os “defeitos” de interiorano, não consegui fazer muitos, mas por aí deixei alguns. O Foguete, que me inventou no Miracemense Ausente. O Joãozinho Moreno, gente fina, o Ory, que não vejo há tempos. O zangado do Chapadão. Um especial: o Jofre Salim. Jofre foi, e ainda é, um tremendo incentivador. Acho que como ele, só meus filhos. E olhe que ele é bem mais velho que eu.”


COPA DA ESPANHA DE 1982

Miracema abriu o coração para homenagear seu filho famoso. As ruas da cidade, principalmente aquelas em que os parentes mais chegados residiam, estenderam faixas de aplausos a José Maria de Aquino e a Globo, por ter levado um miracemense para comentar os jogos da Copa do Mundo. José Maria, na sua simplicidade, fala sobre o assunto: “Só soube da faixa depois da Copa, quando recebi umas fotografias. Emocionei-me. Acho que chorei um pouco".

AMOR POR MIRACEMA...

“Gosto de Miracema. Vivemos, eu e meu irmão, lembrando os casos da nossa época, contando para as pessoas daqui, que não acreditam em muitos. Não passa uma semana sem que contemos os casos da Batuquinha, da Nestorina, do Zé Colado. E eu, estou sempre forçando um jeito de falar da terrinha. Meus filhos (Paulo e Cecília) conhecem as histórias e a filha as repete tão bem quanto eu. Nunca me afastei. Apenas vim para muito longe. Como não tinha deixado namorada... Por isso lembro-me, que terminei meu agradecimento pelo título de Miracemense Ausente (fui apanhado de surpresa, não sabia que havia uma solenidade), disse que era ausente de corpo, porque de espírito estava sempre brincando nos jambeiros do jardim.”

OS CRAQUES

“Além do Lauro? Achei que o Zé Souto faria carreira – era bom goleiro – mas fez bem em seguir primeiro os estudos. O Vadeco era bolão. Talvez se tivesse sido levado... Estou falando de gente que jogaria em time principal e de primeira linha – não hoje, mas naquele tempo. Vadeco era um Dequinha, aquele médio volante do Flamengo." 









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