Nota: transcrito do jornal Dois Estados, de 27 de abril
de 2006, com matéria assinada por Adilson Dutra.
Miracema é um berço do jornalismo brasileiro? Quem
fala sobre este e outros assuntos é um dos mais brilhantes repórteres
brasileiros, jornalista por opção, segundo ele a carreira de advogado tinha
preferência, e cuja trajetória é conhecida no país inteiro. José Maria de
Aquino, nascido na “Santa Terrinha”, como ele gosta de chamar a sua terra
natal, está em São Paulo há exatos cinquenta e seis anos. Saiu daqui já rapaz e
parou em terras paulistanas porque seu pai achou Paraná longe demais. “Meu
pai queria que fôssemos para mais longe ainda, o Paraná, terra jovem 50 anos
atrás e pronta para ser desbravada. Paramos aqui. Eu sentia saudade, mas era longe
demais para ir a todo instante. Na época nem ônibus direto havia".
COMEÇO DE TUDO
“Saí em
janeiro de 50. Não pensava em ser jornalista. Nunca pensei, até dezembro de
1965. Eu pensava ser advogado criminalista ou promotor público. Fiz direito,
trabalhei na promotoria, mas me decepcionei, porém essa é outra história”. Falando sobre a tradição da terra em ter grandes
jornalistas, José Maria de Aquino cita alguns companheiros de imprensa, que
segundo ele deixaram o umbigo na terra e eram sempre presentes. “Sempre me lembro de que muitos grandes
jornalistas – o que não é meu caso – deixaram o umbigo aí. Lembro-me do José
Maria Miguel fundando um centro, que batizou Cazuza (nada com o
cantor/compositor). E a paixão do Ory por falar no serviço de alto falante com
programa esportivo às 18h".
LAURO E POLACA
Sobre a bola, sua outra paixão, José Maria guarda com
muito carinho algumas lembranças do Miracema FC, mas dois jogadores em
especial, Jair Polaca e Lauro Carvalho, estão sempre em suas crônicas ou
comentários. “O Lauro jogava muito. Vi,
e vejo cada vez menos, profissionais regiamente pagos com bola igual à dele. Não
gostava de correr, é verdade, ou não sentia necessidade, tal a diferença. Polaca
não era craque, pelo menos não no meu tempo (ele já era veterano), mas tinha um
ideal, manter vivo o futebol de Miracema, e isso me agradava. Pena que não
souberam dar a ele o valor que tinha – pelo futebol e, depois, pelo carnaval".
PRÊMIO ESSO
Recebendo o Prêmio Esso |
MOMENTOS MÁGICOS E ETERNOS
Foram muitos, a começar pela Copa do México em 1970,
quando cobriu pela Revista Placar. Os Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá em
76, também é indescritível segundo José Maria de Aquino. Moscou em 80, foi
especial. “O assédio aos brasileiros era
incrível, tínhamos sempre que ter em mãos algo sobre Pelé, e felizmente levei
algumas revistas e pôsteres do Rei e pude abrir algumas portas”. Olimpíadas
de Los Angeles, em 84, um grande evento promovido pelo mega país americano, foi
outro grande momento vivido pelo jornalista miracemense.
“Mas gostoso
mesmo, diz José Maria, é ser cercado em uma cachaçaria em São Paulo, por quase
duas dúzias de jovens estudantes, todos sóbrios e ávidos por um autógrafo e um
bate papo sobre futebol e a vida. Bom mesmo é saber que mesmo depois de deixar
o Sportv, oito meses atrás, os jovens não se esqueceram de mim”, completa.
AMIGOS E COMPANHEIROS
Junto aos netos e de sua tia Antônia Aquino Lomba |
COPA DA ESPANHA DE 1982
Miracema abriu o coração para homenagear seu filho
famoso. As ruas da cidade, principalmente aquelas em que os parentes mais
chegados residiam, estenderam faixas de aplausos a José Maria de Aquino e a
Globo, por ter levado um miracemense para comentar os jogos da Copa do Mundo.
José Maria, na sua simplicidade, fala sobre o assunto: “Só soube da faixa depois da Copa, quando recebi umas fotografias.
Emocionei-me. Acho que chorei um pouco".
AMOR POR MIRACEMA...
“Gosto de
Miracema. Vivemos, eu e meu irmão, lembrando os casos da nossa época, contando
para as pessoas daqui, que não acreditam em muitos. Não passa uma semana sem
que contemos os casos da Batuquinha, da Nestorina, do Zé Colado. E eu, estou
sempre forçando um jeito de falar da terrinha. Meus filhos (Paulo e Cecília)
conhecem as histórias e a filha as repete tão bem quanto eu. Nunca me afastei.
Apenas vim para muito longe. Como não tinha deixado namorada... Por isso
lembro-me, que terminei meu agradecimento pelo título de Miracemense Ausente (fui
apanhado de surpresa, não sabia que havia uma solenidade), disse que era
ausente de corpo, porque de espírito estava sempre brincando nos jambeiros do
jardim.”
OS CRAQUES
“Além do
Lauro? Achei que o Zé Souto faria carreira – era bom goleiro – mas fez bem em
seguir primeiro os estudos. O Vadeco era bolão. Talvez se tivesse sido
levado... Estou falando de gente que jogaria em time principal e de primeira
linha – não hoje, mas naquele tempo. Vadeco era um Dequinha, aquele médio
volante do Flamengo."
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