ALTIVO LINHARES, LUIZ FERNANDO E MARCUS FELIPE (AO FUNDO O COLÉGIO ESTADUAL DEODATO LINHARES) |
Nascido na zona rural, na fazenda Cachoeira
Bonita, teve uma infância triste e sem colegas; inicia os seus estudos num
Colégio Primário do povoado e depois é levado, como interno, para Leopoldina.
Lá se envolve em brigas com os colegas e passa a dormir no quarto do roupeiro;
depois foge pela linha férrea e chega a Miracema com os pés sangrando de tanto
andar. Mandado para Campos e, sem sucesso nos estudos, retorna a Miracema a
procura de emprego. Até os quinze anos andava descalço e vestia um “Riscado” como
qualquer trabalhador braçal.
Adoece e durante a enfermidade entra em
conflito com o padrasto e se retira para a fazenda e passa a morar numa das
casas abandonadas desta. Não se empregando, ia muito cedo para Pádua a procura
de Advogado para se apossar de suas terras; como era menor de idade esta luta
seria demorada e difícil, mais um ano de lutas, para, finalmente conseguir o
seu quinhão. Enamora-se de Zina Queiroz e após um ano estava casado, depois de
conseguir um empréstimo com seu amigo Francisco Perlingeiro para pagar as
despesas do casamento e comprar um carro de bois.
Muda-se para a fazenda e lá começa a derrubar
matas para o plantio do café, cana, arroz, mandioca, instala um Alambique para
a Cachaça e uma Olaria. Inicia a construção da sede, mas por falta de recursos
não consegue terminá-la; faz um tapume debaixo do assoalho e lá passa a
residir; enquanto a lavoura ia se formando. Instala uma Serraria na Rua Santos
Dumont, mas a economia do distrito estava estagnada, foram dois anos perdidos.
Volta para a fazenda, é um ano farto em chuvas e as suas lavouras floresceram,
era o tempo de fazer o pecúlio com seguidas colheitas fartas.
Foi aí que os seus olhos se voltaram para o
povoado, sem estradas, sem escolas, muita gente vivendo de expediente e jogos
de azar. Passa a se interessar pela política, pelos “Tenentes” revoltosos que
queriam reformas drásticas para o Brasil. Através do tribuno Maurício de
Lacerda, faz contatos com vários deles, abriga-os em sua fazenda,
auxiliando-os. No Rio, encontra-se com Juarez Távora e dá uma ajuda substancial
para a Coluna Prestes, de dez contos de Réis – uma soma respeitável para a
época.
Os revoltosos chegam ao poder em 1930, com
Getúlio Vargas e Altivo é a principal figura no norte do Estado, tomando
Miracema, Pádua, Itaocara e Cambuci, chegando como orador em Campos do
movimento Revolucionário.
Assume a Prefeitura de Pádua e abre as estradas
de Pádua a Miracema, depois até o Porto de Itaocara. Aqui remodela o Jardim, a
Praça Ary Parreiras e o Jardim de Infância. Para esta missão, aluga todas as carroças
do distrito. Através de Ary Parreiras consegue mais duas grandes obras: o Grupo
Escolar Ferreira da Luz e a ponte sobre o rio Paraíba, em Itaocara. Não chega a
inaugurar em virtude de passar a responder um processo em Petrópolis.
Volta em 1936 como deputado classista, chega à
líder do governo e é um dos deputados mais temidos da Assembleia: nenhum
liderado assinada um projeto sem a sua prévia anuência, e chega a ser chamado
por “O Lampião do Norte”. Um ano e meio depois, com o Golpe de Estado de 1937, ele
está de volta como prefeito de Miracema. Foram oito anos de poder absoluto,
ninguém fazia nada na cidade sem clássica pergunta “E o altivo?”. Deixa
Prefeitura em 1945 e volta dois anos após como prefeito eleito, até 1950,
quando preside a mais violenta eleição de nossa história, fazendo o seu
sucessor, Plínio Bastos de Barros.
Depois de vinte anos de Poder, volta para a
fazenda, mas três anos após é convidado pelo governador Amaral Peixoto para ser
o interventor da capital do Estado que atravessava série crise financeira. Era
um convite audacioso para um político do interior. Aceitou o convite e, em
troca, seria nomeado ministro do Tribunal de Contas. Muda-se para o Rio, onde
era o primeiro chegar à sede do executivo. O rigor de sempre, sabia impor
respeito e ordem. Como a Prefeitura Municipal de Niterói estava com excesso de
funcionários, começou a demitir, cada vez mais, todo mês era uma leva, para ao
final, chegar a mil! Foi um escândalo na ex-capital do Estado.
Começou a fazer obras, implantou o serviço de
trolley bus na cidade e recuperou as finanças da Prefeitura Municipal d
Niterói. Os vereadores aproveitaram e dobraram os seus vencimentos e do
prefeito. Ele recusou a pagar e também não recebia o seu porque fora votado
fora de época. O presidente do PSD, Barcelos Feio, que era também Secretário de
Segurança, se bate pelos vereadores e Amaral Peixoto fica entre a cruz e a
espada, neutro, não queria também desagradar ao amigo e correligionário a quem
confiara à missão.
O impasse vai se agravando, e ele não cede. Por
fim escreve uma carta ao governador: “V. Exa. me conhece há muito tempo e sabe
que não me eduquei na escola do esbanjamento do dinheiro público para formar
clientela eleitoral”. Entrega a Prefeitura ao seu chefe de Gabinete, José
Geraldo Costa, assassinado dias depois no Restaurante Monteiro e volta para
Miracema.
Aqui, deixa o PSD e funda o PL levando quase
todos os seus seguidores, menos Melchiades Cardoso e Dirceu Medeiros. Pela
primeira vez conhece uma derrota eleitoral. Perde por apenas dois votos e
Moacyr Junqueira é eleito. Volta a disputar a eleição para prefeito de Miracema
e Niterói. Vence com folga em Miracema; e perde por pouco em Niterói – onde fez
apenas dois comícios e com mais empenho seria eleito também. Completa a sua
obra administrativa com mais duas construções: a Casa de Saúde e o Ginásio
Cenecista. Não faz o seu sucessor e abandona a política.
“De cem em cem anos nasce um homem como o Altivo!”,
dizia-me o professor Álvaro Lontra que hoje é nome de uma escola, com aquela
autoridade moral, o sendo de autoridade. O Homem que nasceu com inata
capacidade de intimidar e comandar os homens. Fundava um Partido Político com a
maior facilidade, envolvia os adversários e os destroçava.
O “altivismo” foi quase uma religião em
Miracema, os grandes oradores da UDN não conseguiam convencer os seus adeptos,
exercia um fascínio sobre o homem da rua e nos poderosos de então. Homem mais
de ação do que de palavras, mas o seu discurso de posse como prefeito de
Miracema é uma peça oratória que deve figurar nos anais da cidade.
Nunca esquecia um agravo. Tempos depois, Amaral
é nomeado embaixador nos Estados Unidos e veio a Miracema para inaugurar uma
ponte; quando a caravana chegou a Miracema, Altivo reuniu os choferes de praça
e deu uma “corrida” na caravana em plena rua Direita.
Afastou-se completamente da política cumprindo
o seu último mandato de prefeito e o filho, Luiz Fernando é nomeado engenheiro
do D.E.R. e começa a abrir estradas e asfaltar, pavimentando o seu caminho para
sua candidatura a deputado. Eleito e reeleito por duas vezes, com expressiva
votação, torna-se líder da Arena e em marcha batida para governar o Estado,
representando dez municípios. A sua morte nos deixou órfão de representação
popular. “Foi o maior desastre de minha vida”! É o choro silencioso do pai, com
duas lágrimas grossas. Luís Fernando era mais um executivo do que político, mas
tinha um professor em casa e ia longe.
Quando o seu busto foi inaugurado ao lado da
Biblioteca, Amaral Peixoto e Moreira Franco vieram prestigiar a solenidade e
foram fazer uma visita de cortesia. Ele os recebeu friamente, diante de um
Amaral alegre por reencontrar um antigo amigo de lutas políticas, a quem
devotava o maior apreço.
Na ausência do filho, continuei a fazer minhas
visitas para colher informações visando um livro para resgatar a memória do
município, ele ia enumerando as obras que fez – quase todas as existentes, as melhores,
sempre – ainda sonhando com mais coisas para a sua cidade, dominado pelo amor à
pátria que segundo Marcel Proust “É a grande frivolidade daqueles que estão
morrendo.”
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