Março de 1977. Certo que, no final do ano, teria vez
entre os profissionais, o juvenil Andrade acabou sofrendo forte decepção – de
capitão do time do Flamengo, passou a reserva e, em seguida, a reserva da
reserva. Tudo porque não aceitara uma ordem do técnico Américo Faria:
- Ele queria
me ver fixo, quase imóvel na frente dos zagueiros.
Andrade foi barrado depois de dois anos como titular.
Ficou desnorteado. Aí surgiu uma oportunidade: um empréstimo para a Venezuela.
Antes de ir, ouviu Coutinho:
- Você vai
amadurecer lá e depois terá uma oportunidade aqui.
E lá se foi o Andrade para defender o ULA Mérida.
- Encontrei
gente falando uma língua que não conhecia. Tentava dize o que queria com
gestos. Ainda por cima, me perdi num passeio perto do hotel Don Balcon. O mundo
parecia contra mim.
E não foi só isso. Ficou um mês esperando a liberação
da transferência. Estreou com fama de brasileiro bom de bola: perdeu o jogo.
- Saí
desesperado, angustiado. Queria voltar. Senti o mesmo medo de menino descalço
de Juiz de Fora.
Foi direto jantar. Pediu uma salada. O prato veio com
alface, tomate e abacate. Pensou que fosse gozação, quis briga. Não sabia que
abacate na salada é prato típico do lugar.
Custou muito a se firmar num time que tinha muitos
estrangeiros e alguns estudantes que não levavam a coisa a sério. Mas, com luta
acabou virando ídolo. Em 77, foi vice-artilheiro, ficando atrás de Jairzinho
(Furacão da Copa), que marcara 16 gols pela Portuguesa, o mais importante time
de lá. Em 78, com 20 gols, foi o principal artilheiro, com quatro gols a mais
que Tanger, brasileiro e ex-companheiro de Flamengo.
Ganhou o apelido de “Artilheiro de Paramo” – ponto
mais alto de Mérida, sempre coberto de neve e, por isso, atração turística. E
também passou a ser perseguido, tornozelo sempre inchado.
- Lá, batem
muito. Não há exame antidoping e tem zagueiro espumando, como se estivesse com
ataque epilético. Velho de 40 anos corre como menino de 15.
Andrade não ganhou títulos e mesmo assim recebeu uma ótima
proposta para ficar ao término do empréstimo. No entanto, preferiu retornar ao
Flamengo e se projetar no futebol brasileiro. Jogou na Venezuela de junho de
1977 a outubro de 1978.
Fonte: Revista Manchete Esportiva e acréscimos.
Minhas considerações: Andrade havia jogado apenas uma partida entre os
profissionais antes de ser emprestado: em 06 de outubro de 1976, no amistoso do
Flamengo contra a Seleção Brasileira, no jogo beneficente pela família do ex-jogador
Geraldo. Assim mesmo, na lateral-direita. Ao retornar do futebol venezuelano
aguardou uma oportunidade que só ocorreu em 31 de janeiro de 1979, num amistoso
contra o Bahia, na Fonte Nova. A partir
de fevereiro já estava disputando o Campeonato Estadual e não mais perdeu a
titularidade. 570 jogos e 29 gols marcados foi a sua história com a camisa
rubro-negra. E muitos títulos.
Jorge Luís ANDRADE é mineiro de Juiz de Fora, onde
nasceu em 21 de abril de 1957. Brilhante individualmente, muito técnico, com
uma habilidade rara para um jogador dessa posição: volante. Foi peça muito
importante no time do Flamengo, principalmente na primeira metade dos anos 80.
Era um dos pontos de equilíbrio da equipe e ainda saía para o jogo e organizava
o ataque.
Além do Flamengo (campeão carioca em
1979/79-especial/81 e 86, do brasileiro em 1980/82/83 e 87, e da Taça
Libertadores e do Mundial em 1981), jogou na ULA Mérida/Venezuela – por
empréstimo, Roma/Itália, Vasco – 55 jogos (campeão brasileiro em 1989),
Internacional de Lajes (SC), Atlético (PR), Desportiva (campeão capixaba em 1992), Operário (campeão
mato-grossense em 1994), Bacabal (MA) e Barreira (RJ). Andrade não se adaptou e
por isso ficou pouco tempo no futebol italiano.
Defendeu o Brasil em 11 jogos e assinalou 1 gol, sendo
9 oficiais com esse único gol. Apesar de muitos concorrentes na posição,
Andrade merecia mais oportunidades na Seleção.
Como técnico, teve uma participação importante na conquista
do Flamengo no título brasileiro de 2009. É um mistério para muitos o não
aproveitamento de Andrade em outros clubes, e até no próprio Flamengo, que
nunca mais comandou.
O craque Andrade, um nome de destaque da história do Flamengo, jogou no rival nas temporadas de 1989/90, atuando em 55 jogos e fazendo parte do time campeão brasileiro de 1989. Honrou a camisa do Vasco e mostrou o quanto era profissional. Não poderia esperar outra coisa do "Tromba". Esse é o tipo de jogador - com uma retidão dentro e fora de campo - que é respeitado por todos os torcedores.
Em uma de suas vindas a Miracema com o time master do Flamengo, tive a oportunidade de falar isso com ele pessoalmente. Humildemente, ele agradeceu e disse: "Esse reconhecimento é mais um prêmio e nos dá a certeza de que tudo valeu a pena".
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