Esta pergunta recua no tempo milênios antes de Cristo. E, no entanto, ainda não foi convincentemente respondida. A versão mais aceita aponta para a China, onde certas datas eram comemoradas com um jogo que reunia multidões. O povaréu se dividia em dois grupos que tentavam se ultrapassar chutando bolas de papel. Mais tarde a diversão foi adotada pelos romanos. E as bolas de papel substituídas por bexigas cheias de ar ou, simplesmente, pelas cabeças dos inimigos mortos em combate. A novidade chegou aos burgos da Bretanha, que a aperfeiçoaram, cuidando, antes, de civilizá-la, abolindo o uso das cabeças como bolas. Mas jogavam de forma tão brutal que nasceu, então, um slogan que marcaria o futebol por muitos anos: o de ser o violento esporte bretão. Tal violência gerava acidentes fatais, a ponto de o jogo ser proibido. Ele só reviveria muitos anos mais tarde, na Itália renascentista sob o nome de cálcio e na Inglaterra como football. Era, então, a diversão predileta de lordes e barões da Europa. Até que, em 26 de outubro de 1863, Mr. Kiburn, de Oxford, resolveu padronizar o jogo, dando-lhe regras cujas bases permanecem até hoje. A reunião foi na Old Freemanson’s Tavern, de Londres, onde foi fundada a Football Association. Foi na Football Association que regulamentou a separação do futebol e do rugby (que permite o uso das mãos). E o novo jogo ganhou, a partir de então, o nome de soccer. Futebol para os íntimos, no mundo inteiro.
A EXPANSÃO DO FUTEBOL PELO MUNDO
Começou em 1870, quando os ingleses levaram para a
Alemanha e Portugal. Em 1872, chegou à França, em 1876 à Dinamarca e, três anos
depois, aos Países Baixos e à Suíça. A primeira partida noturna foi jogada em
1878, num campo de Bramall Lane, em Sheffield, na Inglaterra, assistida por uma
platéia recorde de 15 mil pessoas. Finalmente, em 1893, o futebol apareceu
oficialmente na América do Sul, quando foi fundada a Associação de Futebol
Argentina.
O Século XX chegou com a bola rolando no mundo
inteiro. Aqui e ali com mais violência. Mas em alguns lugares já com uma certa
esperteza. Em 12 de outubro de 1902, realizou-se, em Viena, a primeira partida
entre seleções nacionais fora do Reino Unido, e a Áustria derrotou a Hungria
por 5x0. A partir dali, os encontros internacionais tornaram-se comuns.
Começou-se a falar, então, num organismo que controlasse as relações
futebolísticas intercontinentais. A
sugestão partiu do holandês C.A.W. Hirschman e, em 13 de janeiro de 1904, foi
criada, em Paris, a Fedération Internationale de Football Association (FIFA).
Assinaram a ata de fundação representantes da França, Bélgica, Espanha
(representada pelo Real Madrid), Suíça, Países Baixos, Dinamarca e Suécia. No
ano seguinte aderiram a Alemanha, Áustria, Itália, Hungria e Inglaterra.
Em 1930, o francês Jules Rimet, eleito para a
presidência da FIFA, organizou a primeira Copa do Mundo. O Uruguai foi
escolhido como país-sede por ser o último campeão olímpico (1928) e comemorar o
centenário da sua independência. Dali para frente o futebol transformou-se no
mais universal dos esportes. Profissionalizou-se. A FIFA adotou seus próprios
códigos esportivos e disciplinares.
O SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL
Oficialmente, o futebol chegou ao Brasil, em 1894,
quando Charles Miller, paulista do Brás, nascido em 1874 de pai inglês e mãe
brasileira, trouxe da Inglaterra a primeira bola. Miller estudou no Benister
Court School, em Southampton, onde conheceu o futebol e tornou-se um bom
jogador, a ponto de chegar à seleção do Condado de Hampshire, como
Center-forward.
Quando retornou ao Brasil, trouxe consigo toda a
parafernália do jogo. Foi, até 1910 – quando parou – o melhor jogador do país.
Depois tornou-se árbitro e, em 1914, desligou-se totalmente do esporte. Morreu
em 1953, sempre no Brás. A história é contada assim. Mas há indícios de que a
bola chegara até nós bem antes de Charles Miller. Em 1972, os padres do Colégio
São Luís, em Itu, interior paulista, teriam organizados partidas entre seus
alunos, seguindo as regras de Eton, da Inglaterra; em 1874, marinheiros
ingleses teriam batido bola na praia da Glória, no Rio; e, em 1878, outros
ingleses, tripulantes do navio “Criméia”, teriam disputado a primeira pelada
nacional diante da casa da Princesa Isabel, também no Rio. Há referências,
ainda de jogos entre funcionários da City e da Leopoldina Railway, antes do
retorno do artilheiro Miller.
Mas, para os registros oficiais, foi com a sua bola e
os seus uniformes que se jogou a primeira partida de futebol no Brasil, na
Várzea do Campo, em São Paulo, reunindo ingleses e brasileiros da Cia de Gás,
da São Paulo Railway, do London Bank, e do São Paulo Athletic Club, agremiação
que, mais tarde, passou a sediar os jogos. Em 1910 o futebol já era
regularmente praticado na Associação Atlética Machenzie College, no Sport Club
Internacional, no Sport Club Germânia, no Clube Atlético Paulistano e no
pioneiro São Paulo Athletic Club. Foram eles, que, em 1901, fundaram a liga
paulista. Não eram, porém, clubes especialistas no futebol. Os primeiros, no
gênero, foram o Sport Club Rio Grande, de Rio Grande, interior gaúcho, fundado
em 19 de julho de 1900, por um grupo de imigrantes europeus, que buscavam
implementar a prática do esporte no país, e a Associação Atlética Ponte Preta,
de Campinas, fundada em 11 de agosto de 1900, por um grupo de estudantes do
Colégio Culto à Ciência, que praticavam futebol no bairro da Ponte Preta,
sendo, portanto, o time em atividade mais antigo do estado de São Paulo e o
segundo clube mais antigo do Brasil.
No ano em que os paulistas se organizavam em liga, os
cariocas conheciam a bola, por iniciativa de Oscar Cox que, como Miller,
colocara material de jogo na bagagem, quando voltou dos estudos em Lausanne, na
Suíça. Os cariocas começaram no Rio Cricket, de Niterói, mas andaram depressa.
Já em 1901 mesmo, jogaram duas vezes com os paulistas (1 a1 e 2 a 2, em São
Paulo). Em 1902 fundaram o Fluminense Futebol Clube. Outros clubes surgiram e,
em 1906, disputaram o primeiro campeonato da cidade. Seis clubes participaram:
Fluminense, Paysandu, Rio Cricket, Botafogo, Bangu e Football Athletic. O
Fluminense conquistou seu primeiro título ao vencer o Rio Cricket por 4 a 1, na
cidade vizinha de Niterói.
Em 1910 o Fluminense trouxe ao Rio o Corinthians
londrino, na época, o supra-sumo do futebol inglês. Foi um sucesso. Finalmente,
em 1919 – quando o Brasil ganhou seu primeiro campeonato sul-americano – o
futebol já era jogado em todo o país. Mas a sua consagração internacional só
começou em 1925, depois que o Paulistano foi à Europa, ganhando oito jogos e só
perdendo um. A partir dali o futebol se popularizou de tal forma que, quando o
Vasco da Gama, no Rio, e o Corinthians, em São Paulo, resolveram
democratizá-lo, aceitando jogadores negros e operários, os elitistas não resistiram.
Era a conquista das multidões. E a transformação do futebol como esporte
nacional do Brasil.
O Brasil não só se transformou no futebol, como passou
a formar uma constelação de craques ao longo dos anos. Chegou ao ponto máximo
com a eleição de Pelé como o “Atleta do Século”.
Fonte: 50 anos de emoção e gol. A história da
Copa do Mundo/1980.
Editor Ney Bianchi / Bloch Editores S.A.
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