Não tenho a menor dúvida em afirmar que, as décadas de 40, 50 e 60, foram
os anos de ouro do futebol brasileiro. Ganhamos três Copas do Mundo em um
intervalo de 12 anos – entre 1958 e 1970 – fato esse que nunca ocorreu com
nenhuma outra Seleção. E poderíamos ter ganhado quatro em um intervalo de 20
anos, se tivéssemos conquistado a Copa de 1950.
Essa Copa até hoje e sempre será lembrada por diversos aspectos que,
muitas vezes julgamos com o coração, esquecendo-se que do outro lado tinha um
adversário de bom nível, com jogadores de qualidade e uma raça que até hoje os
jogadores brasileiros não conseguem igualar. Dentro das quatro linhas, time por
time, será que o uruguaio não era melhor que o nosso? Os uruguaios e argentinos
praticam um futebol com muito mais intensidade, é uma mística que eles carregam
há décadas.
Nossos primeiros craques e ídolos foram Friedenreich, Domingos da Guia,
Fausto, Feitiço e Leônidas da Silva. O Diamante Negro, para aqueles que não
sabem é o apelido dado a Leônidas da Silva, que depois virou marca de chocolate
e, foi, de fato, o primeiro ídolo do esporte que ainda encontrava muita
resistência nas classes sociais mais elevadas. Para se ter uma ideia de sua
importância, só havia três ídolos no Brasil do final dos anos 30: o presidente
Getúlio Vargas, Orlando Silva, o “Cantor das Multidões”, e Leônidas da Silva.
Com o início das transmissões radiofônicas dos jogos, foi Ary Barroso um dos
responsáveis por difundir Brasil afora o futebol e fazer de Leônidas da Silva,
que jogava no seu time de coração, o Flamengo, conhecido nacionalmente. Pela
Seleção Brasileira, atuou nas Copas de 1934 e 1938, tendo marcado nove gols na
história da competição.
A Copa de 50 marcou o fim de uma geração que brilhou pelos gramados
praticando um futebol de elegância e que merecia uma conquista internacional
para coroar sua trajetória no cenário do futebol mundial. Algo parecido ocorreu
com a geração da Copa de 1982, que foi a última de qualidade individual que a
todos encantou, mesmo sem ter conquistado o título. Voltando aos anos 40 – além
de Leônidas da Silva – cito Zizinho, Romeu Pelliciari, Tim, Perácio, Jair Rosa
Pinto, Danilo Alvim, Heleno de Freitas, Tesourinha, e muitos outros que tiveram
a infelicidade de na década de 40, quando foi deflagrada a Segunda Guerra
Mundial, não ter sido disputada duas edições da Copa do Mundo – 1942 e 1946. O
mundo do futebol não conheceu uma das maiores gerações de craques já produzidas
no Brasil. Inclusive, a Copa de 1942 seria realizada no Brasil, conforme
decisão tomada pela FIFA em 1940.
Nas décadas de 50 e 60 o mundo descobriu que o Brasil não formava apenas
uma Seleção, pois tínhamos qualidade e quantidade de craques para todas as
posições. Os surgimentos de Garrincha e Pelé coincidiram com o ápice da
conquista dos três mundiais. Exceto na Copa de 1966, principalmente por motivos
organizacionais – quero dizer fora de campo – a participação brasileira na Copa
deixou muito a desejar. Perdemos mais uma vez o Pelé por contusão e não tivemos
forças para seguir na competição.
Botafogo e Santos formavam a base de nossa Seleção nos anos 60. O time
paulista da década de 60, para muitos, é o maior esquadrão já formado no país e
um dos melhores do mundo. Ao longo da
década de 60 – junto a Real Madrid, Benfica e Milan – dominaram o cenário
mundial. Grandes times foram formados aqui no Brasil ao longo dessas décadas,
os dois já citados acima e outros que também marcaram épocas. O Internacional
com seu Rolo Compressor na década de 40; o Flamengo conquistando três títulos
cariocas em sequência nos anos 40 e 50; o Vasco com seu Expresso da Vitória; o
Palmeiras com a sua primeira Academia nos anos 60; o Esquadrão Imortal
cruzeirense, com Tostão e Cia que tiveram embates inesquecíveis com o Santos de
Pelé; e dois do Nordeste, sendo o Náutico hexacampeão pernambucano entre 1963 e
1968, e vice-campeão da Taça Brasil de 67 – quando foi derrotado pelo Palmeiras
– e o Bahia campeão da Taça Brasil de 1959, derrotando o poderoso Santos na
final.
Depois da Copa de 70 só voltamos a ganhar um mundial
em 1994, isto é, ficamos 24 anos na fila. Por muito pouco não conquistamos três
Copas em um intervalo de oito anos, pois fomos vice em 98 e penta em 2002. Mesmo
com esse desempenho, a qualidade do futebol apresentado não pode ser comparada
ao período do tricampeonato. Não ganhamos a Copa de 82, mas aquele time até
hoje é lembrado e reverenciado por todos. O ex-jogador Paulo Roberto Falcão, em
relação à derrota da seleção na Copa de 82, disse o seguinte: “Acho que o
futebol teria mudado se o Brasil tivesse ganhado a Copa do Mundo de 82.
Predominaria o futebol técnico, de habilidade, coisa que não predominou”. Neste
caso, o “se” não entra em campo e talvez nada de diferente ocorresse.
Não posso deixar de mencionar o maior vexame da história do futebol
mundial, ocorrido na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando fomos eliminados
após sofrer uma goleada vergonhosa da Alemanha. Ao que parece, não serviu como
aprendizado e os resultados em campo corroboram que ano após ano a decadência é
mais do que evidente.
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