Até a primeira metade da década de 60, vivíamos a pré-adolescência. Eu
vivia mais ligado à turma da Rua do Sapo. Com aqueles moleques, menos abastados
(mais ou menos), vivi momentos maravilhosos (dos jogos de terra, de ar e até os
mergulhos na represa do Ribeirão Santo Antônio – lá na Usina Santa Rosa).
Costumava ir com eles ao Cine Sete (que sustentava a Banda Sete), em
detrimento ao Cine Quinze (que sustentava a Banda Quinze), que era mais caro.
Passagem de volta obrigatória no Bar Pracinha (quando era na esquina da
Francisco Procópio com a Rua Direita) e tomar a novidade do momento, que era a “Cola” litro.
Dava pra seis e até oito, mas, da seguinte forma: meio copo do “negócio” e
açúcar refinado por cima (daqueles açucareiros de vidro, base de borracha e
chaminezinha com tampinha retrátil, destinados ao cafezinho). A “coisa” fervia,
espumava e levantava o líquido até a borda do copo. Aí, rapidamente, bebia-se
aquilo (argh). Era uma alternativa para quem tinha poucos centavos. Quem sempre
ficava com cara de “poucos amigos” era o garçom Lúcio (os Salim nem tanto).
Rapidamente, após, caminhávamos pela Rua Direta e chegávamos ao Jardim.
Ali, sempre existiam contadores de histórias. Tinha um, porém, que dizia não
ser um deles. O Napoleão (? – não o funileiro, o outro) insistia em se
intitular como um “lobisomem” aposentado. Como era velho e
tinha vitiligo, nós, simples crianças, chegamos até a acreditar. Dentre várias
historietas suas, selecionei uma (do tempo em que o “Cruzeiro” era de pau e
mais alto):
“Eu dormi cedo, principalmente porque ameaçava muita chuva. O temporal
veio e eu não me apercebi. Quando foi lá pelas onze horas, uma das minhas mãos
começa a esfriar e me dar cócegas. Acordo e levanto-me assustado e vejo que
minha casa, que fica logo abaixo do Cruzeiro, estava inundada. Saio em
desabalada correria morro acima (o pouco “pedaço” que restava). Lá de cima, me
dou conta que o temporal foi pior do que se previa. Eu comecei a me preocupar
mais porque a chuva persistia e as águas continuavam a subir. Quando elas
começaram a molhar os meus pés, não me restou outra alternativa que não subir
no Cruzeiro. Lá de cima, eu tentava ver alguma coisa lá em baixo. Nada! Eu, lá
na pontinha... entretanto, as águas já tocavam novamente os meus pés. Vou
morrer! Mas ocorreu um milagre – a chuva parou e as águas baixaram rapidamente.
Eu voltei a dormir. Pela manhã, desci o morro e perguntei a várias pessoas como
elas se portaram diante do “dilúvio”. Todas respondiam que foi muita chuva, mas
que conseguiram controlar as águas”
Como ele sempre voltava à historieta, mudei para outro contador de
histórias, lá na Praça do Redentor, no final da Rua do Sapo. O Paulo, ex-BANERJ
(antes de ir pra lá) e irmão do Batistão, ex-CREDIREAL, só contava
casos de fantasmas. E pra chegar em casa? Correria pelo meio da rua.
Recentemente, ao voltar da casa do sogro do meu filho – a visitar as
netas que aqui moram, resolvo fotografar os “tachões” entre Chapéu de Sol e
Atafona, para subsidiar minhas crônicas sobre o “possível” asfaltamento das
ruas centrais de Miracema. Eram 19h30min. Eis que, para minha surpresa, “algo”
se manifesta contra o meu propósito. Os “fantasmas” de Atafona. As fotos são
perturbadoras. Ainda bem que eles são de boa paz! Desci do carro e aspirei o ar
e esperei por eles – que não vieram.
Mas, em Miracema... não sei, não!
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