sábado, 18 de junho de 2016

ASSOMBRAÇÕES - POR BEBETO ALVIM

Até a primeira metade da década de 60, vivíamos a pré-adolescência. Eu vivia mais ligado à turma da Rua do Sapo. Com aqueles moleques, menos abastados (mais ou menos), vivi momentos maravilhosos (dos jogos de terra, de ar e até os mergulhos na represa do Ribeirão Santo Antônio – lá na Usina Santa Rosa).

Costumava ir com eles ao Cine Sete (que sustentava a Banda Sete), em detrimento ao Cine Quinze (que sustentava a Banda Quinze), que era mais caro.

Passagem de volta obrigatória no Bar Pracinha (quando era na esquina da Francisco Procópio com a Rua Direita) e tomar a novidade do momento, que era a “Cola” litro. Dava pra seis e até oito, mas, da seguinte forma: meio copo do “negócio” e açúcar refinado por cima (daqueles açucareiros de vidro, base de borracha e chaminezinha com tampinha retrátil, destinados ao cafezinho). A “coisa” fervia, espumava e levantava o líquido até a borda do copo. Aí, rapidamente, bebia-se aquilo (argh). Era uma alternativa para quem tinha poucos centavos. Quem sempre ficava com cara de “poucos amigos” era o garçom Lúcio (os Salim nem tanto).

Rapidamente, após, caminhávamos pela Rua Direta e chegávamos ao Jardim. Ali, sempre existiam contadores de histórias. Tinha um, porém, que dizia não ser um deles. O Napoleão (? – não o funileiro, o outro) insistia em se intitular como um “lobisomem” aposentado. Como era velho e tinha vitiligo, nós, simples crianças, chegamos até a acreditar. Dentre várias historietas suas, selecionei uma (do tempo em que o “Cruzeiro” era de pau e mais alto):

“Eu dormi cedo, principalmente porque ameaçava muita chuva. O temporal veio e eu não me apercebi. Quando foi lá pelas onze horas, uma das minhas mãos começa a esfriar e me dar cócegas. Acordo e levanto-me assustado e vejo que minha casa, que fica logo abaixo do Cruzeiro, estava inundada. Saio em desabalada correria morro acima (o pouco “pedaço” que restava). Lá de cima, me dou conta que o temporal foi pior do que se previa. Eu comecei a me preocupar mais porque a chuva persistia e as águas continuavam a subir. Quando elas começaram a molhar os meus pés, não me restou outra alternativa que não subir no Cruzeiro. Lá de cima, eu tentava ver alguma coisa lá em baixo. Nada! Eu, lá na pontinha... entretanto, as águas já tocavam novamente os meus pés. Vou morrer! Mas ocorreu um milagre – a chuva parou e as águas baixaram rapidamente. Eu voltei a dormir. Pela manhã, desci o morro e perguntei a várias pessoas como elas se portaram diante do “dilúvio”. Todas respondiam que foi muita chuva, mas que conseguiram controlar as águas”

Como ele sempre voltava à historieta, mudei para outro contador de histórias, lá na Praça do Redentor, no final da Rua do Sapo. O Paulo, ex-BANERJ (antes de ir pra lá) e irmão do Batistão, ex-CREDIREAL, só contava casos de fantasmas. E pra chegar em casa? Correria pelo meio da rua.

Recentemente, ao voltar da casa do sogro do meu filho – a visitar as netas que aqui moram, resolvo fotografar os “tachões” entre Chapéu de Sol e Atafona, para subsidiar minhas crônicas sobre o “possível” asfaltamento das ruas centrais de Miracema. Eram 19h30min. Eis que, para minha surpresa, “algo” se manifesta contra o meu propósito. Os “fantasmas” de Atafona. As fotos são perturbadoras. Ainda bem que eles são de boa paz! Desci do carro e aspirei o ar e esperei por eles – que não vieram.

Mas, em Miracema... não sei, não! 

 

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