sábado, 10 de novembro de 2018

A BORBOLETA E SUA NATUREZA – POR BEBETO ALVIM



A borboleta negava-se a voar.
A natureza, porém, insistia que ela o fizesse;
Afinal, voar era a sua prerrogativa.
Mas, relutante, a borboleta dizia não,
Privando a todos do seu voo de majestade asas,
Multicoloridas, em tons e nuances.
Arrebatava suspiros,
Atentos olhares,
Bocas entreabertas.
A admiração se espalhava,
Tomava conta pela magia de sua beleza,
E todos pediam, rogavam e até choravam,
Conclamando que ela realizasse o tão esplêndido voo.
Mas ela dizia não.
E o impasse começou.
E continuou perpetuando pelo tempo de seu arbítrio.
E a alegria de sua alegoria sumiu das pessoas, que,
Em histeria geral, entravam em terrível desespero.
E a revoada nos ares,
Quais efemérides, desapareceu do céu e deixou todo mundo triste.
Ela própria amuou.
Dizia estar exausta, por tanto voar.
Alegava velhice e doença.
Mas o certo era que, além da cadeia alimentar,
Que a natureza se houve por bem administrar,
A terrível mão Homem
Encarregava-se da execução
Da pior e mais nociva parte.
Provocando impactos letais aos aspectos finais.
Privando o Mundo de esfuziante beleza.
Até que um inesperado dia...
A borboleta novamente alçou voo.
E voou, voou, voou...
Dias e dias sem parar.
Apesar da admiração que causou
Parecia estar se punindo tal o incessante voar.
Mas, assim como voltou a voar,
O belo inseto voltou a parar,
Como se sua vida esvaísse.
Fixou-se em uma parte do tronco
Em que seu mimetismo melhor funcionava
E lá ficou... até secar.
Por que a borboleta parou de voar?
Por que a borboleta voltou a voar?
Por que a borboleta voou até morrer?


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

HELENO DE FREITAS: UM GÊNIO DA BOLA, UM CRAQUE TEMPERAMENTAL



Um dos atacantes mais clássicos e brigões que o futebol brasileiro já teve, faleceu em 08 de novembro de 1959, ainda muito jovem, aos 39 anos, na Casa de Saúde São Sebastião, na cidade mineira de Barbacena, onde estava internado desde 1954 tratando de uma enfermidade mental – sífilis cerebral. Paralisia geral progressivo foi a causa de sua morte, constatada no óbito. Ele foi enterrado em São João Nepomuceno - MG, sua cidade natal. 

Atacante impetuoso e artilheiro nato, deixando-se conduzir pelo entusiasmo, eram constantes os atritos que provocava em campo, até mesmo com seus próprios colegas, porque não gostava de conhecer o sabor da derrota. Não aceitava passe errado de companheiros e cobrava-os a todo momento. Era um profissional com alma de amador e espírito de menino brigão. Anjo e demônio no futebol.

Quando começou no juvenil do Fluminense, como médio esquerdo, Heleno já mostrava seu espírito irrequieto, sendo expulso pela primeira vez. Não chegou a atuar no time principal do Tricolor, mas conquistou o Campeonato Carioca Juvenil de 1939. Em 1940 decidiu ingressar no Botafogo, e por lá ficou até 1948, marcando 206 gols em 234 jogos. Faz parte da história do Alvinegro e está na galeria dos maiores artilheiros do clube. Estreou no selecionado brasileiro em 1944, atuando em 18 partidas e marcando 11 gols, todas oficiais. O seu melhor momento na Seleção foi no Sul-Americano de 1945, no Chile. O Brasil ficou em segundo lugar, mas o futebol mostrado pelo atacante foi suficiente para despertar a atenção dos dirigentes do Boca Juniors, que mais tarde vieram buscá-lo. Em abril de 1948 vestiu pela última vez a camisa do escrete, seguindo para o exterior. Pela Seleção foi campeão da Copa Roca (1945), e da Copa Rio Branco (1947).

Saiu do Botafogo para o Boca Juniors, na maior transação do futebol brasileiro até então, onde atuou ao lado de vários nomes respeitáveis e deixou a marca de sua personalidade contraditória. Voltando ao Brasil, Heleno de Freitas ingressou no Vasco, em 1949, então sob as ordens de Flávio Costa. Seu futebol ainda era de qualidade e fez ótimas partidas, ajudando o clube na conquista do Campeonato Carioca daquele ano. Mas a sua condição de brigão não foi esquecida. Depois de várias tentativas, deixou São Januário após 24 jogos e a excelente marca de 19 gols, desgastado com o treinador, e mais uma vez seduzido por uma proposta do exterior. Jogou no Atlético de Barranquilla, da Colômbia, tornando-se um verdadeiro ídolo da torcida, como demonstra o fato de ter uma estátua em praça pública na cidade.  Ganhou muito dinheiro dos argentinos e colombianos. 

Quando foi contratado pelo Santos, em 1951, vestiu a camisa na apresentação e não fez sequer um jogo oficial. As confusões se tornaram corriqueiras e acabou sendo demitido. Ninguém mais acreditava no seu retorno ao futebol, quando recebeu e aceitou um convite para jogar no América. No clube rubro, Heleno fez uma única partida, sendo essa a primeira (e última) vez que jogou no Maracanã. O América perdeu por 3 a 1 para o São Cristóvão, Heleno não conteve o seu nervosismo, que chegou ao extremo, foi expulso mais uma vez e nunca mais apareceu no clube. Mais tarde, assim descreveu Heleno sobre esse fatídico jogo: “Eu não podia morrer sem jogar no Maracanã”.

Essa sua fama de brigão era somente dentro de campo. Invariavelmente procurava os companheiros que tinha ofendido para desculpar-se. Heleno era boêmio e frequentador assíduo dos bares e dos bordeis. Ele gastou a bola, mas também teve vida social intensa, embora não fosse de beber. Preferia as mulheres, que conquistava com seu charme e com a elegância que não abria mão de apresentar. Por conta dessa vida tão desregrada, acabou contraindo a sífilis, doença altamente contagiosa.

Em 1952, Heleno é internado pela primeira vez, em uma clínica na Tijuca. A sífilis continuou avançando e consumia a cabeça do jogador, que acabou ficando louco. Declarada a enfermidade de que era vítima, sua família providenciou seu internamento no Sanatório de Barbacena, em 1954. Lá começou a engordar e também a ingressar no time da Casa de Saúde São Sebastião. Mas não esquecera a briga e criava sucessivos casos em campo, tal como fizera muitos anos antes como atleta profissional. Aos poucos foi sendo deixado de lado. Sua mania era guardar recortes que falassem de futebol, assim como discutir táticas e técnica do esporte que sempre o empolgou.

O craque era formado em Direito e falava inglês e espanhol fluentemente. Heleno tinha pinta de ator e ganhou o apelido de “Gilda”, personagem bela e explosiva interpretada pela atriz Rita Hayworth. Vestia-se com ternos sempre bem cortados. O ex-jogador deixou um filho de dez anos.  

Em 12 de fevereiro de 2012, foi homenageado em sua cidade natal, São João Nepomuceno, que fica na Zona da Mata mineira, com uma estátua de bronze de 2,30m na praça Barão do Rio Branco, no centro. Homenagem essa efetuada pela prefeitura municipal, quando seu filho ilustre completaria 92 anos.

Heleno nasceu bem de vida e terminou precariamente em um sanatório, completamente louco. A sua trajetória no futebol foi marcada por lances geniais, mas seu temperamento incontrolável prejudicou e muito a sua carreira.

Resumindo: Heleno de Freitas faz parte do seleto grupo dos maiores atacantes do futebol brasileiro de todos os tempos.


terça-feira, 6 de novembro de 2018

CORPO HUMANO LEVA 14 DIAS PARA SE ACOSTUMAR COM HORÁRIO DE VERÃO


Um estudo realizado no Brasil concluiu que o corpo humano precisa de ao menos 14 dias para se adaptar totalmente ao horário de verão. Enquanto essa adequação não ocorre, são comuns problemas como falta de atenção, de memória e sono fragmentado.

O horário de verão 2018 começou no último dia 4 de novembro e vai até o dia 16 de fevereiro de 2019. Nesse período, o relógio é adiantado em uma hora.

Ele vai vigorar no Distrito Federal e nos seguintes Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

O objetivo é economizar energia elétrica e gerar um ganho aproximado de R$ 150 milhões, de acordo com estimativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico, o órgão governamental que controla o setor. A medida é comum em muitos países. As primeiras ideias sobre o tema surgiram no fim do século 18 e um de seus maiores defensores foi o patriarca americano Benjamin Franklin.  Ele dizia que a mudança no horário era necessária para gerar "economia tanto em velas como em querosene”.

Sobre seu impacto na saúde, a temperatura do corpo começa a subir mais cedo do que antes do horário de verão. Isso aponta para uma desestabilização entre os ritmos da temperatura corporal e da atividade de repouso. A pessoa fica mais propensa a ter déficits de atenção, pode ter maior fadiga durante o dia, problemas para dormir, e até mesmo a diminuição da duração do sono. 

Uma dica é ir acordando 15 minutos mais cedo diariamente, para que a transição ocorra aos poucos.

BOL Notícias 

O BOM VICENTE FEOLA - POR JOSÉ MARIA DE AQUINO




Nota: texto publicado na revista Placar de novembro de 1975. 

Um humanista do futebol, tranquilo até na hora da morte. Para o humano Feola, jogador era gente.   

Um campeão discreto, um conhecedor dos homens, um cultor do futebol. Esse foi Vicente Feola que poucos conheceram. Bem mais conhecido foi o folclore que o envolveu – preço pago pelo técnico da primeira Seleção Brasileira campeã do mundo pela sabedoria que o fez estar, quase sempre, à frente de seu tempo – no respeito ao jogador, no sentido humanista que tinha do esporte. É que soube conservar – até a morte.

Para quem nunca privou mais de perto de sua amizade, ouvindo seus conselhos, participando de suas histórias, sentindo em cada palavra que dizia uma ponta de sabedoria, a imagem – falsa – que ele refletia podia ser mesmo aquela do dorminhoco. Do técnico de poucos conhecimentos que abandonava o time em campo e que só conseguia ganhar jogos e títulos porque não complicava.

Uma imagem que não o incomodava e que ele, quase sempre, analisava com boa pitada de ironia. As palavras podiam mudar, mas o sentido da resposta era sempre o mesmo.
- Isso nunca me atingiu. E eu até que podia me dar a esse tipo de luxo, essa falsa impressão. Eu tinha Zagalo no time. Ele foi o jogador de maior percepção que já tive sob minhas ordens. Sempre me perguntam se o mais importante não era o Zito e eu sempre respondo que ele era bom porque não deixava a faísca sumir, a chama se apagar. Mas o orientador, o crânio era, sem a menor dúvida, o Zagalo.

Filho de imigrantes italianos, os pais queriam vê-lo médico famoso e tiveram que se contentar com as glórias de um técnico que só não foi fielmente reconhecido aqui no Brasil. Estranho, mas verdadeiro. Técnico da seleção campeã do mundo em 1958, na Suécia, exatamente aquela que marcou o fim de uma época de desorganização e o início de um período em que um jogo, um título, começou a ser ganho também fora do campo, nunca lhe renderam as homenagens, nunca lhe deram as glórias que, por exemplo, dedicaram a Zagalo, seu discípulo, depois da conquista em 1970, uma conquista evidentemente mais fácil.

Foi o técnico que perdeu a Copa da Inglaterra, em 1966, aquela que antes parecia bem fácil de ser ganha e não foi crucificado, amargurado, quase banido como foi Flávio Costa depois da derrota de 1950. Se depois da primeira não lhe reconheceram todo o valor, na segunda souberam sentir e medir que era bem pequena sua parcela de culpa. Uma dimensão que também ele, sem confundir sinceridade com amizade, fazia questão de não esconder.

O humanista
- Eu também acho que quem perdeu a Copa foi o meu amigo João Havelange. O chefe é sempre o culpado pelo fracasso de qualquer empreendimento. Nunca o funcionário, o pequeno empregado. E o Havelange era o chefe de tudo, aquele que deu as ordens e fez as exigências.

Sua parcela de culpa, dizia sempre, estava resumida ao fato de ter aceitado as exigências do povo e de parte da imprensa. Tinha sentido que seria impossível ganhar a Copa de 66 com os mesmos jogadores de 58 e 62, tentou formar uma base inteiramente nova com Carlos Alberto, Brito, Joel, Gérson, Jairzinho, naquela seleção de 1963, e acabou sendo dobrado pelo amor que o povo cria por seus ídolos. E os ídolos ainda eram Garrincha, Gilmar e outros.

Em 1958 insistiu na convocação de Pelé e brigou para que não o tirassem da relação por estar contundido. Sentia que aquele negrinho podia ser a chave de tudo e correu o risco de disputar a Copa com apenas 21 jogadores. Poucos sabiam, mas foi num papo descontraído, num canto sossegado – como gostava – que convenceu Garrincha de que devia centrar as bolas onde estava Vavá, e nãop chutá-las na rede, como andava fazendo. Preveniu Vavá para que não reagisse se o ponta lhe dissesse alguma coisa e armou seu esquema.
- Mané, você já percebeu que o Vavá está chegando atrasado, perdendo todos os seus centros? Vamos fazer uma coisa: você agora vai centrar um pouco mais para dentro.


Garrincha deu uma bronca enorme em Vavá e nunca mais chutou bolas na rede. Foi o primeiro técnico brasileiro a dirigir um time com humanidade, bondade e sabedoria. Começou assim em 1937, quando chegou ao São Paulo, e era assim até três meses atrás, antes de ser definitivamente internado no Hospital Santa Catarina, vítima de um colapso cardíaco e de complicações circulatórias, proibido de receber visitas, e onde morreu no último dia 6, cinco dias depois de ter completado 66 anos de idade.

Viveu 38 anos ligados ao São Paulo, foi seu técnico várias vezes, ganhou os títulos de 1948 e 1949 e sempre que ficou de fora, na secretaria, nunca negou seu apoio aos técnicos que eram contratados. Olheiro da Seleção Brasileira desde 1949 foi auxiliar de Flávio Costa na Copa de 1950, técnico em 1958 e 1966 e só não foi ao Chile, em 1962, porque na época sofria delicada crise renal.

O pioneiro
Antes dele os técnicos eram mais conhecidos pela quase tirania com que dirigiam o time, não entendendo, como ele, que nem todos podiam ser vistos como marginais. Em 1945 já levava o time do São Paulo para se concentrar em Campos do Jordão antes de jogos mais importantes e nessa mesma época já falava e escrevia sobre a necessidade de se organizar um bom departamento médico, de se cuidar dos dentes dos jogadores, do asseio corporal, do bom preparo físico, feito de maneira científica, e de se fundarem escolinhas de futebol, um sonho que o São Paulo procurou realizar, que concretizou definitivamente no princípio deste ano mas que ele não pode sentir mais de perto.


 Sempre gordo, tranquilo e bom observador, não gostava de meias palavras. Vivia dizendo para Paraná que, se não fosse tão teimoso e se não estivesse tão errado com relação a certas coisas, ainda seria o ponta-esquerda titular do São Paulo. Contratou Leônidas em 1942 e não permitiu que ele parasse em 1947, quando ainda tinha bom futebol para dar. Trouxe Poy da Argentina quando tinha apenas 18 anos, cuidou de Bauer, de Canhoteiro, de Roberto Dias e de quase todo garoto bom de bola que começou o passou pelo São Paulo.

Mais admirado no exterior – foi técnico do Boca Juniors da Argentina em 1959 – do que no Brasil, foi apresentado como o inventor do 4-3-3, mas parecia não dar a mínima importância aos elogios.
- Sabe o que é tática para mim? É reunir uma equipe que se entende bem.A maneira de jogar surge do entendimento do grupo. Depois do WM ninguém inventou mais nada.

Algumas vezes falou dos críticos, dos entendidos.
- Eles sempre ganham os jogos depois que foram realizados. No papel e sem adversário pela frente é muito fácil.

Vicente Ítalo Feola morreu tranquilo como sempre procurou viver e seu enterro foi acompanhado por bom números de amigos. Gente que de alguma maneira ganhou com sua experiência. Dirigentes, jornalistas, jogadores e torcedores. Gente que mais tarde, não apenas porque agora ele morreu, talvez entenda a importância que ele teve para o futebol brasileiro.

Nota: Vicente Feola nasceu em São Paulo no dia 1º de novembro de 1909. Também faleceu na capital paulista em 6 de novembro de 1975.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

OBESIDADE E OSTEOARTRITE NO JOELHO - POR VICTOR TITONELLI


A osteoartrite ou mais popularmente conhecida como artrose do joelho, é uma doença que pode causar um quadro de dor incapacitante para a pessoa portadora. Ocorre quando há lesão ou desgaste/degeneração da cartilagem de revestimento que recobre o fêmur e a tíbia. Cerca de 60% das pessoas acima de 65 anos apresentarão sintomas relacionados à osteoartrite no joelho.

Sintomas:
* dor no joelho
* inchaço recorrente
* deformidade progressiva no membro afetado
* crepitação/estalido
* sensação de instabilidade na articulação

É sabido que depois da idade (pacientes com mais de 60 anos), a obesidade é o maior fator causal relacionado a essa grave patologia. Alguns artigos sugerem, que o ganho de peso de cerca de 5 kg, pode elevar o risco de osteoartrite em cerca de 40%.

Pode ser tratada de maneira não cirúrgica, nas fases inicias, porém, em casos avançados só o tratamento cirúrgico através da prótese total de joelho, trará alívio para as dores intensas causadas por essa doença. Em casos de queixas como estas procure um especialista em joelho. Procure sempre ajuda de um profissional de educação física, endocrinologista e de um nutricionista para o auxílio na perda de peso. 


Victor Titonelli é médico ortopedista especialista em Cirurgia do Joelho. 
Trabalha no INTO – Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. 

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

AÉRTON PERLINGEIRO: UM COMUNICADOR DE DESTAQUE DA TV BRASILEIRA


Minhas considerações:

Aérton Perlingeiro nasceu em Miracema no dia 28 de dezembro de 1921. O local de seu nascimento foi confirmado por seu filho, Jorge Perlingeiro, conhecido comunicador carioca e que apresenta há muitos anos a apuração dos desfiles das Escolas de Samba. Antero Perlingeiro e Jandira Belizário Perlingeiro são os nomes dos pais de Aérton. Ele foi um apresentador de rádio e TV, e por décadas teve muito prestígio. Lembro-me perfeitamente de seus programas e, naquela época, comentava-se muito por aqui que ele havia nascido em Santo Antônio de Pádua. Já ouvi relatos que ele nasceu próximo ao distrito de Paraíso do Tobias, que faz divisa com Pádua. A família Perlingeiro é muito tradicional na cidade vizinha de Santo Antônio de Pádua.

 

Abaixo transcrevo o texto de Billy Brasil, publicado no Recanto das Letras, em 27/01/2014.

 

Aérton Começou sua carreira artística em 1943, na Rádio Transmissora, no Rio. Sempre como apresentador e locutor. Transferiu-se par a Rádio Tupi, Rádio Fluminense e para a Rádio Clube.

 

No ano de 1956, foi para a televisão. Em São Paulo, o colega Aírton Rodrigues criou o programa “Almoço Com As Estrelas”. E o mesmo fez Aérton Perlingeiro no Rio de Janeiro. Ambos os programas foram um sucesso e tinham o mesmo formato: Uma mesa grande, para um almoço rápido e vários cantores, atores e personalidades nacionais eram entrevistados.

 

No Rio, Aérton era o mestre de cerimônias, além de ser também o produtor. Naquele tempo era assim e por isso ele e Aírton Rodrigues tinham muito trabalho. Mas tinham também muita fama e estima por parte de toda a classe artística, que desejava muito aparecer nesses programas.

 

Tanto o programa de São Paulo como o do Rio, era transmitido na hora do almoço de sábado e ficavam no ar por várias horas. O programa do Rio chamava-se Aérton Perlingeiro Show e existiu de 1956 até 1980, quase 30 anos no ar, só terminando quando a emissora faliu. O programa de Aérton teve 2204 edições. Tinha alguns quadros e o que era dedicado ao Samba, Jorge Perlingeiro, seu filho, apresentava.

 

Aérton foi um recordista da televisão brasileira. Personalidade muito querida pela classe artística foi um grande incentivador dos cantores populares e do teatro brasileiro. No seu programa, marcavam presença gente importante como Fernanda Montenegro, Fábio Junior, Sidney Magal e o proprietário das Emissoras Associadas, Assis Chateaubriand.

 

Criou o troféu O Velho Capitão, busto de bronze representando a figura de Assis Chateaubriand. Esse troféu foi entregue para mais de 300 personalidades, dentre os quais as cantoras Maysa Monjardim, Elis Regina e Elizeth Cardoso e o próprio Chateaubriand, que foi pessoalmente receber o prêmio no programa, três meses antes de morrer. Homem do rádio e da televisão, Aérton foi incansável na promoção da arte, principalmente música e teatro. Por 23 anos ficou na liderança do IBOPE.

 

Aérton sofria de forte bronquite e veio a falecer no Rio de Janeiro, em 31 de outubro de 1992, aos 70 anos.


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

ROQUE, O SAPATEIRO - POR JOSÉ ERASMO TOSTES



Roque era um sapateiro italiano, meu vizinho. Andava sempre com as botinas engraxadas e um avental amarrado no pescoço. Morava com a esposa e um filho, Miguel.

Roque era um homem forte, ao contrário de sua esposa, franzina, já com os cabelos brancos, e não era muito boa da cabeça. Usava sempre um xale jogado nas costas, óculos redondos com aros de ouro e chinelos de liga. Seu filho Miguel foi criado até rapaz sem sair de casa, tornando-se um técnico em rádio.

A totalidade dos sapateiros em nossa cidade era descendente de italianos, assim como José Poly, Humberto Poly, Oterige, entre outros. Roque, praticamente, foi quem ensinou o ofício à maioria dos sapateiros em nossa cidade.

Eu, garoto ainda, era quem buscava água na mina para o Roque, ganhando com isso sempre um tostão e passava sempre horas em sua casa e na oficina. Os sapatos eram sempre feitos a mão, bico fino, salto carrapeta, solão, chuteiras, botinas, botas alpino. Às vezes o freguês colocava o pé em cima de um jornal velho e tirava a medida, assim como o João Neguinho, um músico da Banda Quinze de Novembro, que para fazer um par de botinas para ele gastava-se o couro de um bezerro. João Neguinho só calçava as botinas quando ia tocar na Banda (era tocador de baixo) e depois as deixava embaixo da cama. Contam que, certa vez, quando foi calçá-las, a gata tinha feito um ninho, deixando dentro delas 12 gatinhos (!).

Eram poucas as pessoas que possuíam rádio naquela época. Em nossa rua, somente o Roque tinha um rádio, GE, para onde todos nós corríamos a ouvir o Repórter Esso, na época da guerra.

À noite, em sua sapataria, jogava-se baralho, amigos e vizinhos. Roque era um italiano Rico. Possuía duas casas na Rua Paulino Padilha e, nos fundos, que dava para outra rua, mais seis casas geminadas.

Eu ficava admirado por minha rua chamar-se Paulino Padilha, enquanto as outras tinham nomes como Rua do Sapo, Rua do Lixo, Rua dos Prantos ou dos Prontos, Rua do Café, Rua da Laje, Rua da Capivara, Rua do Biongo, Rua das Flores, Beco do Inferno, Rua Direita, da Avenida e Praça dos Boêmios. Meu pai, com a calma que lhe era peculiar, começou a enumerar: Rua do Sapo devido a uma mina d’água, onde os sapos coaxavam e faziam barulho, hoje Francisco Dias Tostes; Rua do Café, onde haviam muitos pés de café nos morros, indo em direção ao Hospital (hoje essa rua é dividida em três: Rua dos Gabriéis, Cláudio Aquino e José Monteiro de Barros); Rua dos Prantos, a que ia em direção ao cemitério, ou dos Prontos, onde os moradores tinham baixo poder aquisitivo, hoje Elpídio Portes Mendes; Rua do Lixo, porque servia de depósito para o mesmo, hoje Francisco Cardoso; Capivara, em direção à cidade de Palma, que antigamente tinha este nome, hoje Rua Cândido Dias Tostes, assim como a Rua da Laje, que seguia em direção à cidade de Laje do Muriaé, hoje Avenida Carvalho; Beco do Inferno, onde moravam diversas mulheres que brigavam todos os dias, precisando sempre da intervenção da polícia, hoje Rua Pedro Elídio; Rua do Centenário, inaugurada em 1922, cem anos após a independência, hoje Rua Barroso de Carvalho; Rua das Flores, por ser uma rua onde quase todas as casas tinham em suas frentes jardins ou jardineiras, hoje Rua José Carlos Moreira; e Rua do Biongo, onde haviam dezenas de pequenas casas cobertas de sapé nas quais ficavam hospedados os integrantes de circos que por aqui passavam, hoje Rua Deodato Linhares; Avenida, hoje Rua Santo Antônio, era onde haviam diversas casas de lenocínio comandadas por uma mulher chamada Japonesa, frequentadas pelos homens da cidade; Praça dos Boêmios, onde os mesmos se concentravam no boteco de um turco chamado Farid, hoje Praça José Giudice; e Rua Direita, única rua onde se pagava imposto predial, tinha os prédios melhores e era a mais organizada, hoje Rua Marechal Floriano.

Roque, após a morte da mulher, ficou morando com a empregada, uma mulata de nome Amélia. A esta altura, o Miguel, já homem feito, se tornara técnico profissional em rádios e TV e os aprendizes do Roque, assim como o Anibinha, o Lecy e muitos outros, já trabalhavam por conta própria. Lecy era especialista em fazer sapatos femininos e o Anibinha em solados finos.

Adoece o Roque com um tumor na cabeça, as casas geminadas são vendidas para fazer face às despesas. Morre o Roque. O Miguel assume a casa e, mais tarde, assume também a mulata Amélia. Morre a Amélia e anos depois morre o Miguel, terminando assim a família Magaldi.

E a vida continua... 



A AUTOMEDICAÇÃO É UMA PRÁTICA BASTANTE COMUM NO BRASIL E MUITO PERIGOSA. 2ª PARTE E FINAL


... continuação 

A autora Marcia Kedouk em seu livro “Tarja Preta – Os segredos que os médicos não contam sobre os remédios que você toma”, conta em um dos capítulos quais são os perigos reais de usar medicamentos comuns sem orientação médica.

Salonpas
Princípio ativo: Salicilato de metila e levomentol
Para que serve: Dores musculares
Efeitos indesejados: Quando aplicado diretamente na pele, os riscos de intoxicação são menores, porque a quantidade de remédio absorvida pelo corpo é menor. O problema do Salonpas está na combinação com outros medicamentos, como anticoagulantes, remédios para diabetes, ou alergia ao princípio ativo da Aspirina, ou histórico de sangramento no estômago ou intestino e ainda doenças nos rins e fígado.

Eno
Princípio ativo: Bicarbonato de sódio, carbonato de sódio e ácido cítrico.
Para que serve: Azia (Queimação no estômago)
Efeitos indesejados: Pouca gente sabe, mas sal de frutas Eno tem uma grande quantidade de sódio: dois envelopes de Eno contêm 1,7 gramas de sódio. É praticamente a recomendação diária máxima de consumo, 2 gramas. Se a pessoa tiver problemas no coração ou pressão alta, tomar muito sal de frutas pode ser um verdadeiro perigo.
Por outro lado, usar antiácidos demais acaba prejudicando a produção natural de suco gástrico e diminuindo a absorção dos alimentos.

Omeprazol
Princípio ativo: Omeprazol
Para que serve: Dores no estômago principalmente as provocadas por lesões das mucosas
Efeitos indesejados: O Omeprazol atua diminuindo a produção de suco gástrico. Usá-lo por muito tempo pode causar o efeito contrário, ou seja, um excesso de produção da gastrina. O uso prolongado também pode afetar os níveis de magnésio no organismo, o que pode levar a problemas cardíacos.

Neosoro
Princípio ativo: Cloridrato de nafazolina
Para que serve: Desentupir o nariz
Efeitos indesejados: Essa substância tem vários efeitos perigosos: induz a tolerância, causa efeito-rebote e até dependência psicológica. Quando se usa demais, o corpo “acostuma” com o medicamento, e acabam sendo necessárias doses maiores para ter o mesmo efeito.
Usar demais a nafazolina inda pode causar uma rinite provocada por medicamentos, alterar a pressão sanguínea e causar problemas no coração.

Torsilax
Princípio ativo: Diclofenaco sódico, carisoprodol, paracetamol e cafeína.
Para que serve: Dores musculares
Efeitos indesejados: Diclofenaco é um anti-inflamatório, e esse tipo de medicamento pode afetar a muscosa do estômago, causando uma série de problemas: náusea, vômito, diarreia, cólicas abdominais, sangramento gastrointestinais e úlceras.

Amoxil
Princípio ativo: Amoxilina (antibiótico)
Para que serve: Infecções (combate de bactérias)
Efeitos indesejados: O que acontece quando se usa muito antibiótico? As bactérias passam a resistir, aumentando proliferação das superbactérias – aquelas que não reagem ao tratamento com antibióticos comuns.

A AUTOMEDICAÇÃO É UMA PRÁTICA BASTANTE COMUM NO BRASIL E MUITO PERIGOSA. 1ª PARTE


A facilidade de acesso aos medicamentos, a farta propaganda dos laboratórios e uma saúde pública que não funciona são alguns dos fatores que levam o brasileiro a sempre ter uma “farmacinha” em casa ou na bolsa. No entanto, alguns dos remédios mais usados e conhecidos escondem riscos sérios se forem usados de maneira abusiva.

Não significa que aquele remédio para dor de cabeça ou azia nunca deva ser utilizado. Quer dizer que, se usado de maneira constante, sem conhecer os efeitos combinados com outro medicamento que você já utilize ou não procure um médico mesmo se os sintomas não passarem, a automedicação pode, sim, ser perigosa.

A autora Marcia Kedouk em seu livro “Tarja Preta – Os segredos que os médicos não contam sobre os remédios que você toma”, conta em um dos capítulos quais são os perigos reais de usar medicamentos comuns sem orientação médica. 

Tylenol
Princípio ativo: Paracetamol
Para que serve: Dor e febre 
Efeitos indesejados: Quando o fígado processa o paracetamol, ele se transforma em NAPQI, que é uma substância muito tóxica. Ela é eliminada rapidamente pelo organismo. O perigo está no excesso: em adultos,  4 gramas por dia ou 1 grama de só vez podem sobrecarregar o fígado.
O resultado são lesões irreversíveis e até mesmo fazer o fígado parar de funcionar. E nem precisa tomar a dose excessiva sabendo o que está tomando: o risco é grande porque a pessoa pode estar tomando Paracetamol a mais sem saber, já que ele faz parte de vários outros medicamentos, como você pode ver nesta lista. Misturar paracetamol com anti-inflamatórios também pode ser perigoso para a saúde.

Neosaldina
Princípio ativo: Dipirona, mucato de isometepteno e cafeína
Para que serve: Dor e febre
Efeitos indesejados: Consumir dipirona em excesso pode diminuir a quantidade de glóbulos vermelhos e brancos, assim como as plaquetas do sangue. Dipirona pode também causar um quadro alérgico grave, conhecido como choque anafilático. E o que é pior: mesmo em pessoas que sempre usaram o medicamento sem problemas. É por isso que alguns países, como Estados Unidos e Austrália, por exemplo, proibiram a venda da dipirona.
Além disso, tomar remédios para dor sem parar pode diminuir a endorfina no organismo, que é uma espécie de analgésico natural.

Dorflex
Princípio ativo: Dipirona, citrato de ofernadrina e cafeína
Para que serve: Dores musculares
Efeitos indesejados: Além da dipirona, cujos efeitos indesejados acabamos de ler, também existe a orfenadrina, que se tomada em excesso pode até mesmo levar à morte. Outros efeitos são: boca seca, alterações nos batimentos do coração, tremor, agitação, delírio e coma.

Aspirina
Princípio ativo: Ácido acetilsalicílico
Para que serve: Dor e febre moderada
Efeitos indesejados: O uso em excesso de aspirina pode levar ao causar choque cardiovascular e insuficiência respiratória. Se a pessoa for diabética, Aspirina demais pode levar à hipoglicemia, porque portadores de diabete já usam outros remédios para controlar a doença.
Usar em combinação com álcool ou outro anti-inflamatório, nem pensar: a Aspirina pode causar úlcera e sangramentos fortes no estômago e intestino.

Continua... 

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

CARLOS ALBERTO TORRES: O CAPITA DO TRI


A jogada foi simbólica, com vários passes precisos e dribles curtos. Pelé recebeu na entrada da área e, sem olhar, rolou a bola para o lado. Carlos Alberto apareceu na corrida e encheu o pé: Brasil 4 x 1 Itália. Foi dele o último gol em uma competição que sintetizou a qualidade do futebol brasileiro. Ao marcar esse quarto gol na final de 1970, o Capitão do Tri também pôs o ponto final numa era de ouro do nosso futebol. O próprio lateral-direito levantou a taça de campeão e trouxe a Jules Rimet em definitivo para o Brasil. A imagem de Carlos Alberto chutando e levantando a taça jamais será apagada de nossa memória.  Também participou da Copa do Mundo de 1974.

Ainda menino, Carlos Alberto Torres já demonstrava sua personalidade forte. Depois de faltar ao trabalho para tentar uma oportunidade no juvenil do Fluminense, seu pai aplicou-lhe uma inesquecível surra. Torres apanhou calado e mais tarde, encarando o pai, disse: “Não adianta o senhor me bater. Quero ser jogador de futebol”. 

Elegante, técnico e de forte personalidade, Carlos Alberto tinha passadas largas e fôlego para atacar e defender com a mesma desenvoltura, coisa raríssima em sua época. Ele é considerado um dos mais completos laterais pelo lado direito que o Brasil já teve. Além das qualidades físicas e técnicas, era um líder nato. Com apenas 17 anos, em 1962, recebeu do treinador Zezé Moreira sua primeira oportunidade para atuar no time principal do Fluminense, onde jogou de 1962 a 1965 e uma breve passagem em 1976 (campeão carioca em 1964 e 1976).


Três anos depois estava no Santos de Pelé, acumulando títulos, de 1965 a 1970, 1972 a 1975 (campeão paulista em 1965, 1967//68/69 e 1973, campeão da Taça Brasil em 1965 e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1968). Passou pelo Botafogo em 1971 e pelo Flamengo em 1977. Ainda corria o ano de 77 quando Carlos Alberto foi jogar nos Estados Unidos, pelo Cosmos, de 1977 a 1980 e 1982, ano em que encerrou a carreira, e pelo Newport Beach, em 1981. Foi campeão norte-americano em 1978, 1980 e 1982.

Em 1983 iniciou a carreira de técnico e em seu primeiro trabalho na nova função, foi campeão brasileiro do mesmo ano, dirigindo o Flamengo. Pelo Fluminense foi campeão carioca em 1984 e conquistou a Copa Conmebol, em 1993, comandando o Botafogo. Foi técnico de diversos times aqui do Brasil e do exterior, até 2005, quando se afastou definitivamente dos gramados.  

Carlos Alberto Torres nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de julho de 1944, e nos deixou  em 25 de outubro de 2016, aos 72 anos, após sofrer um infarto fulminante em sua residência, no Rio.

Números da carreira:
Fluminense – 165 jogos e 19 gols
Santos – 445 jogos e 40 gols
Botafogo – 22 jogos
Flamengo – 20 jogos
Cosmos – 100 jogos e 6 gols
Newport Beach – 19 jogos e 2 gols
Seleção Brasileira – 69 jogos e 9 gols, sendo 54 oficiais e 8 gols