BUSTO DE BARROSO DE CARVALHO NO JARDIM DE MIRACEMA |
Gilberto
Barroso de Carvalho viveu quase sempre em Miracema, onde nasceu em 23 de abril
de 1892, tendo sido seus pais os professores Antônio Firmino de Carvalho e Rosa
Barroso de Carvalho. Foi casado com Otília Lisboa de Carvalho, destacada filha de Pádua. Teve dois filhos: Lenine e Antônio. Faleceu em 24 de fevereiro de 1926.
De sua curta existência, apenas três ou quatro anos foram passados fora de sua terra natal, isso quando residiu no sul de Minas e no sul do Espírito Santo, desempenhando funções oficiais como o de professor e Diretor Técnico do Ginásio de Alegre (ES) e de elevado funcionário público, em Passos (MG). Barroso de Carvalho foi um eterno e romântico boêmio, que improvisava adoráveis versos satíricos e jocosos os quais, por muito tempo, permaneceram na memória dos seus contemporâneos.
De índole versátil como poeta, como orador, como jornalista e, especialmente, como pensador despretensioso, deixou Barroso de Carvalho renome famoso de versejador perfeito, de tribuno impressionante, de polemista destemido e de filósofo eclético. Era um estilista por natureza, daí o primor corrente de toda a sua produção literária, quer no verso, quer na tribuna, quer nas colunas da imprensa; como orador em todos os acontecimentos cívicos, sociais e políticos nunca foi, em seu tempo, igualado. Era um virtuose da palavra que arrebatava os auditórios. Por falar quase sempre de improviso, seus discursos infelizmente se perderam no tempo e no espaço.
Ficou famosa, no entanto, a frase da oração, por ele proferida em saudação ao então Governador Feliciano Sodré, no auge da campanha separatista: "Miracema! Águia cativa que sofre o martírio dos que vivem sentindo asas nos ombros e grilhões nos pés".
A obra literária de Gilberto é algo que deve ser divulgada com justa ufania pelos miracemenses, não somente pelo encantamento lógico respectivo, como pela conceituação comunicante de sua amargurada filosofia em que flutua sempre um pensamento ilustre invocando o céu, a terra e o destino. Escreveu em jornais dos Estados do Rio, Minas e Espírito Santo, principalmente nos semanários de sua cidade "O Município" e "Nova Fase".
Publicou em 1925 o seu admirável livro de versos "Pontas de Fogo", todo ele escrito em Miracema, e que foi o repositório de sonhos e realidades, aprimorados no crisol ideal de seu engenho. Sobre sua obra, na ocasião, escreveu o político e literato Nogueira da Gama: "Dentre os que modernamente perpetram o chamado modernismo, nenhum excedeu ainda e, muito poucos, poderão ombrear-se com o bardo miracemense".
Na mesma época, o tradicional jornal "O Friburguense", em especializada seção de crítica literária, a seu respeito, publicou os seguintes conceitos: "A originalidade de Gilberto Barroso de Carvalho, não vai encontrar no Parnaso nacional senão louvores, muitos louvores. O seu livro é encantador... As suas rimas e seus alexandrinos são incomparáveis...".
A intelectualidade brasileira, pelas vozes de Ozório Duque Estrada, Agripino Grieco, Joio Ribeiro, Leôncio Correia e Povina Cavalcanti, não lhe regateou elogios.
Por ocasião de seu falecimento, com apenas 34 anos, Francisco Perlingeiro escreveu no jornal "O Agrário", então existente: "O Município perdeu com Gilberto uma das mais belas esperanças de nossa mocidade", e o Dr. Vicente Moliterno, acatado escritor gaúcho, então residente na cidade, assim se manifestou: "Gilberto era para esse povo como um sol que apagasse de repente e do qual todos sentiam os reflexos de seu talento e dos seus versos, que corriam, transpondo as fronteiras de Miracema...".
Grande batalhador da causa separatista, Gilberto Barroso de Carvalho não assistiu à realização de seu sonho, falecendo antes que Miracema fosse libertada.
FONTE: DOS ESCRITOS DE MELCHIADES CARDOSO ADAPTADOS POR MARCUS FAVER.