domingo, 15 de dezembro de 2024

MARCELÃO, VOCÊ JÁ ESTÁ FAZENDO MUITA FALTA...

 


Acordei no já cinzento sábado (14) com a triste notícia da morte repentina do amigo Marcelo Santos, o Marcelão, de Cabo Frio, um dos maiores pesquisadores do nosso futebol e profundo conhecedor das categorias de base do futebol carioca. Aos 53 anos, um infarto fulminante o levou do nosso convívio. Seu corpo foi velado e sepultado em Arraial do Cabo.

 

Dono de um arquivo fotográfico magnífico, o cara sabia de tudo e um pouco mais. Era uma verdadeira enciclopédia! Trocávamos conhecimentos com freqüência e sua boa vontade em ajudar era uma coisa inigualável. Tinha por costume não entrar em debates ou discussões acaloradas. Torcia pelo Vasco da Gama, mas tratava todos os clubes de maneira igualitária, respeitoso e defendendo a classe de jogadores. Em nossas constantes resenhas, dizia o quanto ficava aborrecido quando alguém citava que “esse” ou “aquele” atleta não vingou.

 

Marcelão foi um grande divulgador do esporte em geral, da Região dos Lagos, sempre citando em suas postagens filhos da terra espalhados por esse mundão da bola e se destacando em sua profissão. Uma perda gigante e grande referência.

 

O mundo nos prega muitas surpresas. Muitas nos fazem sofrer, trazem tristeza, dor e luto. A sua partida – amigo Marcelão – tão prematura, foi uma dessas surpresas imprevisíveis do destino que nos tiram o chão. Ninguém poderia imaginar que você nos deixaria tão cedo. A cidade de Cabo Frio – porque não dizer a Região dos Lagos – chora a perda de um filho muito querido. Um cara do bem e sempre com um sorriso no rosto. Tudo aconteceu muito rápido e fica ainda mais difícil de aceitar sua morte.

 

Foi goleiro da Cabofriense, Arraial do Cabo, Apollo e também destaque no futsal. Após encerrar a carreira trabalhou por muitos anos como treinador de goleiro. Marcelão é de uma família de desportistas – seu pai e tios jogaram profissionalmente – e era primo do ex-atacante André, revelado pelo Santos e com passagens por vários clubes, que recentemente encerrou sua carreira.

 

A história do futebol empobrece quando se perde um apaixonado com tanto conhecimento e divulgador de fatos que marcaram esse esporte. Somando-se toda sua humildade em dividir com leitores e amigos tantas informações e registros fotográficos com aquele talento especial muito peculiar do Marcelão.

 

As manifestações de pesar e solidariedade aos familiares nas redes sociais apenas confirmaram o tamanho de sua importância e o quanto fará falta entre nós.

 

Minha amizade, carinho e respeito por você, amigo, agora, têm como destino o CÉU. Tenho certeza que foi recebido pelos jogadores que tanto ajudou a divulgar contando suas histórias nas telas do computador e celular.

 

 

 

domingo, 1 de dezembro de 2024

CRUYFF ETERNO: REVOLUCIONÁRIO QUE MUDOU O FUTEBOL


 

Por Richard Williams – editor do jornal britânico “The Guardian”, após sua morte ocorrida em 24 de março de 2016.

 

Se pudesse citar um único momento para dizer como uma geração mudou sua forma de enxergar o futebol, esse momento seria quando Johan Cruyff driblou o defensor sueco Jan Olsson, aos 23 minutos de um jogo da fase de grupos da Copa do Mundo de 1974. A multidão no Westfalenstadion, em Dortmund, na Alemanha, esfregou os olhos, incapaz de acreditar no que tinha visto. Mas era verdade. O holandês, com a camisa 14, usou o peito do pé direito para trazer a bola de volta para dentro, de forma a encontrar sua perna de apoio, antes de girar 180 graus e disparar em direção à linha de fundo.

 

Quando ele fez o mesmo drible na vitória por 2 a 0 sobre a Inglaterra, três anos antes, ainda assim haviam olhos surpresos no “truque” que levou Wembley ao deliro. A multidão estava esperando por isso, e ele não poderia decepcioná-la.

 

Este era o futebol de outro planeta, o futebol reinventado por um mestre que descartou a forma “dura” de jogar para transformá-la em um modelo de jogo, não apenas esteticamente mais agradável como também mais letal e incontestavelmente mais eficiente. O resultado não foi só uma nova composição de dribles, mas a construção de uma mentalidade diferente, finalmente, introduzindo-a ao jogo. Com Johan Cruyff, a graça de Rudolf Nureyev vinha para o campo.

 

Cruyff encarnou a nova forma. Ágil, veloz, ferozmente competitivo, sempre em alerta para tudo ao redor e equipado com truques técnicos e táticos, ele utilizou o futebol como, antes de tudo, uma desculpa para por em prática a sua criatividade. Quando apareceu para o cenário internacional no final da década de 1960, o futebol, enfim, estava pronto para ser sacudido por um grupo de revolucionários de cabelos compridos.

 

E o futebol nunca teve um revolucionário tão completo como Johan Cruyff. Este era um homem, não só capaz de manter o seu lugar na lista de todos os tempos de grandes jogadores individuais – aquela que tem Puskas, Di Stéfano, Pelé, Diego Maradona, Zinedine Zidane, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi –, mas capaz de exercer uma influência mais ampla como um pensador, mudando a maneira como o mundo viu o futebol e a forma como eles passaram a jogar.

 

Ele não estava sozinho nesta tarefa. No início, ele precisava de Rinus Michels, o treinador do Ajax, que usou a longa história do clube de inovação tática como base para a versão final do sistema, método conhecido como Total Football (Futebol Total), e Stefan Kovacs, que sucedeu Michels. Ele precisava de companheiros como Piet Keizer, Haan, Neeskens e Krol, uma geração de holandeses capaz de implantar não apenas grandes habilidades técnicas, mas a imaginação flexível o suficiente para lidar com uma nova forma de jogar e a florescer dentro dela.

 

No Futebol Total, entendia-se que cada jogador poderia aparecer em qualquer parte do campo. No entanto, não era exatamente assim. Na realidade, funcionava como uma visão mais ampla de jogo, de forma a fazer seus jogadores passarem a jogar em outras posições – um atacante como um full-back, por exemplo – para que ele tenha uma visão mais profunda do jogo. Assim capacitados de fazer uns a função dos outros. Assim, os adversários tinham maiores dificuldades para enfrentar os holandeses.

 

Cruyff era o líder, seja vestindo o branco e vermelho do Ajax ou o laranja da Holanda. Quando ele pegava a bola e fazia uma pausa antes de partir para a corrida, era capaz de mudar a dinâmica do jogo em uma fração de segundo. Messi, no Barcelona, mostrou a mesma qualidade, mas ninguém, exceto, talvez, Maradona, teve a habilidade de Cruyff, assim como sua capacidade de redirecionar o rumo de uma partida.

 

Como se seus olhos fundos pudessem focar a bola nos pés, como seu ídolo, Faas Wilkes, holandês famoso pela habilidade e dribles, cuja carreira começou em Rotterdam, mas que também jogou na Itália e na Espanha em 1950, a visão de Cruyff era ampla em todas as áreas do campo.

 

Como jogador, conquistou três Copas da Europa consecutivas com o Ajax, oito títulos da Eredivise – Campeonato Holandês –, e cinco Copas KNBV. Na Espanha, foi campeão da liga nacional e da Copa do Rei, seguido por títulos holandeses como Feyenoord, antes de anunciar sua aposentadoria em 1984.

 

Durante todo esse tempo, apenas uma vez Cruyff se esqueceu de que antes de colocar sua magistralidade em campo, sua prioridade era vencer. Infelizmente, isso aconteceu durante seu auge, na final da Copa do Mundo de 1974, ao perder a grande decisão e, consequentemente, o torneio para a Alemanha Ocidental. Para os admiradores da filosofia holandesa, foi difícil de aceitar que o time de Cruyff havia sido batido.

 

Esta derrota, talvez, tenha marcado a carreira de Cruyff, como o dia em que, já como técnico do Barcelona e com um time dos sonhos com Romário, Stoichkov, Guardiola e Koeman, foi arrasado pelo Milan de Fabbio Capello, pelo placar de 4 a 0, no Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia. No entanto, Cruyff já tinha dado início a sua segunda grande contribuição ao futebol, lançando a base do Barcelona que hoje desfrutamos.

 

Cruyff começou sua carreira como técnico no Ajax. No time holandês, conquistou a Copa da Holanda por duas vezes e ainda foi responsável por subir Dennis Bergkamp. Em seu retorno ao Camp Nou, montou um time que o sagrou campeão espanhol por quatro vezes seguidas, além de ter conquistado a Copa da Europa em 1989 e a Taça da Europa de 1992, ambas diante da Sampdoria. Talvez ainda mais significativamente, ele criou a academia de La Masia, que viria surgir mais tarde garotos como Messi, Xavi Hernández e Andrés Iniesta.

 

Ele foi demitido em 1994, mas seu legado foi seguido pelos treinadores que se sucederam no clube, como Frank Rijkaard, Pep Guardiola e Luis Henrique que desenvolveram o estilo de jogo de Cruyff ao longo dos últimos dez anos.

 

Nos últimos anos, as relações de Cruyff com seus clubes eram muitas vezes turbulentas. Nomeado diretor técnico do Ajax, em 2008, retirou-se em um mês após desacordos. Nomeado presidente honorário do Barcelona, em 2010, foi removido do cargo apenas quatro meses depois de ter assumido. Um retorno ao Ajax em 2011, como conselheiro, durou tempestuosos 14 meses.

 

Quando a Holanda de Bert van Marwijk, que abusava da força física, chegou à final da Copa do Mundo de 2010 diante da Espanha, Cruyff apoiou o lado adversário. Isso tudo fazia parte do homem, e mesmo assim nada disso importa ao lado das memórias e as imagens sobreviventes daquele atleta glorioso e sua corajosa imaginação. Com Johan Cruyff, a graça de Rudolf Nureyev veio para o campo de futebol. E o futebol nunca foi o mesmo novamente.  

 

 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

UM ESPETÁCULO CHAMADO GARRINCHA – POR ROBERTO PORTO

 


Nota: crônica publicada no Jornal dos Sports em 15 de dezembro de 2003.

 

Aquele sábado, 15 de dezembro de 1962, há exatos 41 anos, amanheceu nublado e abafado. Às vésperas do verão, naquela época como hoje, fazia muito calor no Rio. O folclórico roupeiro Aloísio Birruma, contemporâneo de Carlito Rocha (1894/1991) no lendário Campeonato Carioca de 1948, acordou cedo, colocou as superstições na balança e decidiu: o Botafogo iria disputar a final da tarde daquele dia, contra o Flamengo, usando as habituais camisas de mangas compridas. Se a mandinga dera certo desde o início do campeonato, não seria no último ato que ele iria mudar o esquema. Até porque o treinador, Marinho Rodrigues, não se metia em sua seara. Aloísio falou, estava falado. E como fiel seguidor de Carlito, Aloísio sabia que não se deve provocar os deuses do futebol, obviamente chefiados por Jesus Cristo, devoção máxima do dirigente.

 

Antigo jogador alvinegro, Marinho havia participado de dois jogos em 1948 – da infeliz estreia contra o São Cristóvão (quando o Botafogo sofreu sua única derrota) e da vitória sobre o América, ainda no primeiro turno. De certa forma, desde o início, ficara implicitamente combinado: Marinho mandava no time e Aloísio, no uniforme. E não havia bicampeão do mundo que desafiasse as determinações do roupeiro: Nilton Santos, Garrincha, Amarildo e Zagallo podiam até não gostar daquelas mangas compridas, mas ficavam quietos em seus cantos. Quem poderia reclamar de calor era Didi. Mas Didi já não estava no Botafogo. Disputara cinco partidas com o time, no turno, e, tal qual um caixeiro viajante, fora tentar a sorte no Peru depois de boicotado e renegado no Real Madrid.

 

A rigor, Marinho Rodrigues não estava preocupado com o uniforme que o Botafogo iria utilizar. O ex-zagueiro direito, substituto imediato de Rubinho na campanha de 1948, sabia que Flávio Costa, o “professor”, iria armar o Flamengo de maneira diferente e isso sim o colocava em estado de alerta. No lugar do já velho e surrado 4-2-4, Flávio certamente escalaria três homens no meio de campo – Carlinhos, Nelsinho e o jovem Gérson, pela canhota. O técnico rubro-negro sabia que teria que bloquear o setor adversário, que sempre contava com três jogadores a partir do momento em que Zagallo desembarcara em General Severiano, em 1958, logo após a Copa do Mundo da Suécia. Marinho queria apenas que o Botafogo não mudasse seu esquema. Mesmo precisando da vitória para conquistar o bicampeonato, seu time iria jogar fechado, explorando os contra-ataques. E, de certa forma, não era difícil enfrentar o Flamengo, precisando só do empate, sempre eufórico, empurrado pelos gritos de guerra de seus milhares de torcedores.

 

O Flamengo, apesar da vantagem do empate, tinha mais problemas. Flávio Costa agindo com certa dureza e absoluta falta de psicologia com o ponteiro-direito, também campeão do mundo de 1958, o saudoso Joel Martins – o dispensou no momento em que o ônibus que conduzia a delegação rubro-negra passou pela Rua Silveira Martins, ironicamente na Praia do Flamengo, pertinho de onde o clube fora fundado na época áurea do remo, no Século XIX. Flávio, não podendo fazer substituições, decidiu levar apenas 11 jogadores para o Maracanã. Mandou o motorista parar o ônibus e disse ao jogador, que começara a carreira nos juvenis alvinegros:

- Olha, Joel, não precisar de você. Pode saltar e ir para casa.

 

O esquema do “professor” ficou claro. Além de escalar Gérson no meio-campo, ele acabara de escolher o também jovem Espanhol para jogar na ponta-direita. O técnico estava convencido de que Espanhol, rápido e habilidoso, faria um carnaval pelo setor esquerdo do Botafogo. Rildo era bom marcador, mas certamente faria as habituais faltas, parte intrínseca de seu repertório. E se Nilton Santos, aos 37 anos, quase 38, viesse socorrê-lo na condição de quarto-zagueiro, abriria uma avenida para Henrique e Dida, que teriam apenas o veterano Jadir (ex-Flamengo) pela frente no meio da área. Flávio sabia também que o Alvinegro teria quatro desfalques: três na prática e um psicológico. Joel Martins, ex-Bangu, contundido, homônimo do ponteiro rubro-negro, seria substituído por Paulistinha na lateral-direita. Zé Maria, machucado, havia cedido seu lugar justamente a Jadir. E Arlindo, o garoto de ouro dos juvenis da época de Jairzinho e Roberto, também sentira a perna. Em seu lugar jogaria o pé-de-coelho Edson Praça Mauá, campeão de 1957. O problema psicológico, obviamente, seria a nostalgia da ausência de Didi. Que clube resistiria à ausência de um Didi? Flávio Costa só não contava com Garrincha, com o desequilíbrio técnico e tático que teria pela frente. E Garrincha, naquela tarde quente, exagerou na dose.

 

Naquele sábado, o eterno Manoel Francisco dos Santos, então com 29 anos completados em outubro – faria com a camisa alvinegra, com a mais absoluta e convicta das certezas, a última grande partida de sua curta vida (1933-1982). Garrincha não fez chover, apesar do tempo encoberto e do calor que quase sufocou os 145 mil pagantes e – é sempre bom lembrar – abafou os dez jogadores obrigados a usar camisas de mangas compridas.Mas jogou como nunca, como para gravar com letras de ouro sua passagem pelo glorioso Botafogo de Futebol e Regatas. A rigor, Garrincha, Edson e Zagallo dobraram apenas os punhos. Mas Quarentinha e Amarildo, literalmente, arregaçaram as mangas para enfrentar, como sempre – ontem como hoje – o adversário e a empolgada torcida rubro-negra. Quem esteve no lotado no Maracanã naquele dia viu uma espécie de canto do cisne de um dos melhores jogadores do mundo. A partir de 1963, a artrose corroeu ainda mais as pré-existentes degenerações nas extremidades ósseas de suas fíbulas e fêmures. Artrose avançada e irreversível diagnosticada pelo excelente reumatologista Nélson Senise (1918-2001). Senise havia sido consultado, pela Juventus, após a Copa de 1962, para um diagnóstico definitivo sobre o verdadeiro estado físico do jogador. O alvinegro de Turim queria Garrincha, mas desistiu ao saber da gravidade da artrose.

- A artrose de Garrincha é irreversível – diagnosticou o médico.

 

Até hoje o improvisado 4-3-3 de Flavio Costa é discutido. Para uns, simplesmente não deu resultado porque Garrincha desequilibrou totalmente o jogo. Para Gérson, o Canhotinha de Ouro, Flávio Costa só o escalou para dar o primeiro combate a Garrincha, fazendo uma espécie de guardião do lateral-esquerdo Jordan. E Gérson, que no ano seguinte iria parar em General Severiano, comprado por Cr$ 150 milhões à vista – o Botafogo vendera Amarildo ao Milan e enchera os cofres – sua missão era simplesmente impossível. E até hoje ele diz:

- Brincadeira, certo? Como é que eu ia marcar aquele cara, certo?

 

Com Armando Marques na arbitragem, o Botafogo, todo agasalhado, meias e calções negros – Aloísio vetara as meias cinzas de 1957 – e camisas de mangas compridas entrou em campo com Manga, Paulistinha, Zé Maria, Nilton Santos e Rildo; Aírton, Édson e Zagallo; Garrincha, Quarentinha e Amarildo. O Flamengo, com seu uniforme tradicional, pisou o gramado do Maracanã com Fernando, Joubert, Vanderlei, Décio Crespo e Jordan; Carlinhos, Nelsinho e Gérson; Espanhol, Henrique e Dida. O jogo foi Garrinha, e Garrincha foi o jogo.

 

Logo aos 10 minutos, Aírton pegou o rebote de um ataque rubro-negro e lançou Mané entre Gérson e Jordan. O número 7 alvinegro passou de passagem por seu marcador, entrou na área e chutou de pé direito no canto direito de Fernando. Aos 35 a jogada se repetiu, sempre com Aírton, meias arriadas, procurando Garrincha. Dessa vez, porém, Mané perdeu o ângulo e quase da linha de fundo bateu forte para a área na esperança de encontrar Quarentinha ou Amarildo, que estavam no lance. Caprichosamente, o chute de Garrincha passou pelo goleiro Fernando, bateu no nariz de Vanderlei e entrou: 2 a 0 Botafogo. Agora, para chegar ao título, o Flamengo precisaria no mínimo de dois gols.

 

O terceiro e último gol, que encerrou as esperanças rubro-negras, veio logo aos dois minutos do segundo tempo e merece uma descrição toda especial. Amarildo, jogando com uma proteção na coxa, recebeu na intermediária e tocou de imediato para Zagallo, nas costas de Joubert. Zagallo, quase da linha de fundo, centrou alto sobre o meio da área. Quarentinha, acrobático, acertou em cheio uma tesoura voadora da marca do pênati e a bola explodiu no peito de Fernando. Por fim, Garrincha, que corria livre pela direita, só teve o trabalho de aproveitar o rebote de Fernando e empurrar a bola para o fundo da rede no gol à esquerda das tribunas. A torcida alvinegra, chefiada por Otacílio Batista do Nascimento, o Tarzã, quase veio abaixo.

 

O lance foi tão rápido, tão inesperado, que o experiente narrador Oduvaldo Cozzi – um dos mais brilhantes do rádio esportivo brasileiro – se confundiu todo. Cozzi pegou a tabela Amarildo-Zagallo e o chutaço de Quarentinha (que ele chama de Quarenta na descrição do lance). Mas não apanhou a entrada fulminante de Garrincha. Quem corrigiu o narrador é o ponta Otávio Name (1934-1978), que tempos depois seria redator do Jornal do Brasil, ao lado de nomes famosos como João Máximo, Oldemário Vieira Touguinhó, Marcos de Castro, José Inácio Werneck, Antônio Maria Filho, João Saldanha e Sandro Moreyra e, de maneira bem mais modesta, o locutor que vos fala. Os últimos momentos da partida na voz de Oduvaldo Cozzi são espetaculares.  São quase dois minutos de posse de bola de Garrincha, cercado por Carlinhos, Jordan e Gérson, no espaço mínimo de um metro quadrado. Só quem tem essa fita histórica tem a ideia das mágicas de Mané. Nos últimos minutos, o jogo descambou ligeiramente para a violência. Paulistinha e Dida trocaram pontapés e foram expulsos por Armando Marques. Sobre a arbitragem por sinal, um detalhe: preocupado com o clima do jogo, Armando jamais correu para o meio de campo nos três gols do Botafogo. Correu, sim, para apanhar a bola aninhada na rede, dando à torcida alvinegra a impressão de que o lance fora impugnado. Anos depois, reconheceu o equívoco, que fez com que muitos torcedores cortassem o grito de gol.

 

Na época, Armando Marques reconhecia seus erros.

Um detalhe. Garrincha, ao final da partida, declarou que não sentira calor:

- Calor? Que calor? Estou acostumado a jogar no sol. Com o tempo nublado é mole. Não é Zagallinho?

terça-feira, 22 de outubro de 2024

TONINHO: APELIDADO VANUSA


 

Antônio José dos Santos, o Toninho Vanusa, nasceu na capital paulista em 26 de junho de 1956. Surgiu como um talentoso meia-armador que também jogava de ponta-esquerda. Foi campeão do Torneio de Cannes defendendo a Seleção Brasileira em 1974.


Apesar de ter tido um bom começo de carreira, com o passar do tempo não foi o jogador que muitos esperavam. Ficou marcado como um jogador lento, nada afeito à marcação e de pouca objetividade ofensiva. Sua reconhecida habilidade se limitava à armação de jogadas. Toninho também ficou muito conhecido pelos longos cabelos loiros que lembravam os da cantora Vanusa, por isso o apelido.


Quando chegou ao Palmeiras, em 1974, chegaram a dizer que o Verdão havia encontrado o sucessor de Ademir da Guia. Toninho teve duas passagens pelo Palmeiras: entre 1974 e 1975, e a segunda entre 1978 e 1979. Marcou 7 gols em 70 partidas e conquistou o título paulista de 1974.

Toninho jogou por diversos clubes, além do Palmeiras: Nacional (SP), onde iniciou a carreira, Náutico, Vasco – 28 jogos e 1 gol, em 1979, Juventus, Goiás, Taubaté, Criciúma, Grêmio Maringá, Figueirense, CSA, Saltense (SP) e Uberaba, onde encerrou a carreira em 1989.




Toninho faleceu na capital paulista em 24 de junho de 2009. O ex-jogador já se encontrava internado e não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. Dois dias após a sua morte ele completaria 53 anos.

 

 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

SABARÁ: MAIS UM ATACANTE DE DESTAQUE VASCAÍNO

 





Onofre Anacleto de Souza é paulista de Atibaia, onde nasceu em 18 de junho de 1931. Sabará é considerado um dos melhores pontas-direitas do futebol brasileiro. Foi um atacante rápido, com boa capacidade de drible, eficiência nos cruzamentos e chutes a gol. Rápido e raçudo, Sabará era daqueles jogadores que davam a alma pelo time e não hesitava em reclamar quando algum companheiro merecia. Durante 12 anos foi um dos jogadores mais populares entre os torcedores vascaínos.


Faz parte da relação dos grandes atacantes da história do Vasco e o terceiro jogador que mais entrou em campo, perdendo apenas para Roberto Dinamite e Carlos Germano.


Começou na Ponte Preta e depois jogou por Vasco – 585 jogos e 167 gols (campeão carioca em 1952, 1956 e 1958, e do Rio-São Paulo em 1958), Portuguesa (RJ) e Deportivo Itália/Venezuela, onde encerrou a carreira em 1965.


Pela Seleção Brasileira, porém, Sabará não repetiu o sucesso. Considerado um jogador de clube, não teve muitas oportunidades. Principalmente depois do surgimento de Garrincha, em 1953. Vestiu a camisa do Brasil em 10 jogos e marcou 1 gol, sendo 9 oficiais.


Deixou o Vasco magoado após uma reformulação no grupo. Foi para a Portuguesa e esperava ansiosamente o dia de enfrentar o ex-clube e provar que ainda poderia ser útil. Comandada por Gentil Cardoso, a Portuguesa venceu o Vasco por 2 a 1.


Morreu aos 66 anos, na capital carioca, em 08 de outubro de 1997, vitimado por um problema renal.

CHICÃO: ESSE NÃO BRINCAVA EM SERVIÇO

 




Francisco Jesuíno Avanzi nasceu em Piracicaba, interior paulista, em 30 de janeiro de 1949. Chicão era um volante que se destacava mais pela disposição do que pela técnica, e acabou ficando marcado como um jogador viril e até mesmo violento. O seu melhor momento foi defendendo o São Paulo, entre os anos de 1973 e 1979, quando disputou 312 jogos e marcou 19 gols. Tornou-se ídolo do Tricolor como um grande exemplo de raça e amor à camisa.


Foi um dos líderes do São Paulo na conquista do Brasileiro de 1977. Começou no XV de Piracicaba e jogou por União Agrícola Barbarense (SP), São Bento, Ponte Preta, Atlético Mineiro, Santos, Londrina, Botafogo (SP), Corinthians de Presidente Prudente (SP) e Mogi Mirim, onde encerrou a carreira em 1986.


Disputou a Copa do Mundo de 1978, na Argentina, apesar de todo o clamor de uma parte da imprensa brasileira por Falcão em seu lugar. No confronto contra a Argentina, no mundial, encarou os hermanos como se estivesse jogando em solo brasileiro.  Pela Seleção foram 11 jogos, sendo 9 oficiais.


Chicão morreu novo, aos 59 anos, em 08 de outubro de 2008, vítima de câncer no esôfago, em sua cidade natal.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

CHICO: UM DOS GRANDES NOMES DA HISTÓRIA DO VASCO

 


Francisco Aramburu, o Chico, nasceu em Uruguaiana-RS, em 07 de janeiro de 1922. Atacante inteligente, rápido e valente, de dribles em velocidade e chute forte com os dois pés. Faz parte da galeria dos grandes atacantes da história do Vasco.


Chegou ao time carioca com a fama de ser um grande atacante. E não decepcionou quem confiou em seu futebol. Foi titular absoluto da ponta-esquerda do Vasco entre 1945 e 1952 e um dos destaques daquele grupo vitorioso que ficou conhecido como o “Expresso da Vitória”, e personagem de duelos memoráveis contra o flamenguista Biguá. Mas uma briga leal, sem pontapés e violência. Dessa rivalidade nasceu uma profunda amizade. Marcou 132 gols em 308 jogos com a camisa cruzmaltina.


Estava em campo na fatídica decisão da Copa do Mundo de 1950, na derrota de 2 a 1 para o Uruguai, em sua única participação de um Mundial. Ainda pela Seleção conquistou a Copa Roca em 1945, e a Copa Rio Branco em 1946/47 e 1950. Defendeu o Brasil em 21 jogos e marcou 8 gols, sendo 19 oficiais.


Atuou no Ferrocarril de Uruguaiana, uma rápida passagem pelo Grêmio e brilhou no Vasco (campeão carioca em 1945, 1947, 1949/50 e 1952, e do sul-americano em 1948). Deixou o Vasco após alguns desentendimentos com o técnico Flávio Costa, em 1954.  Antes de encerrar a carreira em definitivo, atuou em dois amistosos com a camisa do Flamengo: em março de 1955 e em julho de 1956, marcando um gol.


Morreu aos 75 anos de causa desconhecida, na capital carioca, em 1º de outubro de 1997.   

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

SCIREA: O LÍBERO DOS LÍBEROS

 


Vítima de um acidente de carros, na Polônia, em 03 de setembro de 1989, o ex-zagueiro Gaetano Scirea morreu aos 36 anos quando se dirigia para observar um adversário da Juventus pela Copa UEFA. Seu carro bateu em um caminhão de combustível, explodindo e causando a morte instantânea, além do motorista e de outro passageiro que estava no mesmo carro.

  

Nascido em Cernusco sul Naviglio, uma província de Milão, na Itália, em 25 de maio de 1953, Scirea começou sua carreira na Atalanta, clube com o qual estreou na Série A em 1972. No entanto, foi na Juventus que se consagrou como um dos melhores defensores do mundo, tento conquistado, dentre outros títulos, sete Scudettos. Scirea foi um dos maiores líberos do mundo, com muita técnica e ótima visão de jogo conseguiu o respeito no mundo futebolístico.


Scirea jogou na Atalanta (1972/74) e pela Juventus (1974/88), onde conquistou sete Scudettos, duas Copas da Itália, uma Copa dos Campeões, uma Recopa, uma Supercopa da Europa, uma Copa da Uefa e um Mundial de Clubes, todos pela “Vecchia Signora”. Defendeu a seleção da Itália nas Copas de 1978, 1982 e 16986, sendo campeão na Espanha, em 82.

 

Enquanto o líbero é uma contribuição genuinamente italiana para o futebol, Gaetano Scirea foi um dos maiores intérpretes da função. Jogador habilidoso e elegante, dotado de extraordinária capacidade de antever as jogadas, encerrou sua longa carreira sem receber um único cartão vermelho.

 

Fez seu primeiro jogo vestindo a camisa da seleção italiana principal em dezembro de 1975, contra a Grécia, mas somente com a aposentadoria do mítico Facchetti, em 1977, é que Scirea se tornaria o legítimo dono da camisa 6 da Itália (o motivo de ter utilizado o nº 7 na Copa da Argentina, deve-se ao fato de que a federação italiana fazia a inscrição dos jogadores, quando de uma Copa do Mundo, por posição e em ordem alfabética). O auge da participação de Scirea na Azzurra foi na Copa do Mundo da Espanha, quando foi campeão. A eliminação da Copa de 1986, no México, frente à França, foi também a despedida da seleção, onde atuou em 78 jogos e marcou 2 gols.

 

Scirea se retirou do cálcio aos 35 anos, ao término da temporada 1987/88, quando passou a exercer a função de “olheiro” da Juventus.


Seu exemplo ficou registrado para os mais novos, pois, além de respeitado e admirado dentro de campo, Gaetano Scirea era considerado um cavalheiro fora dele. Esse faz parte do seleto grupo de jogadores do exterior que sempre admirei. 

 


domingo, 15 de setembro de 2024

PAULO GOULART: PEGAR PENAL ERA COM ELE MESMO



PAULO Anchieta GOULART Filho nasceu em Muriaé, na Zona da Mata mineira, em 11 de março de 1955. O ex-goleiro iniciou sua carreira nas categorias de base no Nacional de sua cidade natal.


Foi para o time amador do Fluminense em 1971 e cinco anos depois foi promovido ao time principal. Em 1979, assumiu a posição de titular e permaneceu no Tricolor até o início de 1983. Foi peça importante na conquista do Campeonato Carioca de 1980. Atuou em 138 jogos e sofreu 140 gols pelo Fluminense. Sua carreira ficou marcada também como um grande pegador de pênaltis.


Após a saída do Fluminense, ainda teve passagens por Criciúma, Ceará, Marília, Rio Negro (AM), Paysandu, Pouso Alegre (MG), Olaria e Porto Alegre, de Itaperuna, onde encerrou a carreira, em 1988, aos 33 anos.


Fixou residência em Muriaé e após se formar em Direito, exercia com a mesma responsabilidade e competência que enfrentava os atacantes adversários, a advocacia.


Em 15 de setembro de 2023, vítima de um infarto, faleceu em sua cidade natal, aos 68 anos. Passou mal na academia, quando já havia terminado de fazer seu exercício. Foi socorrido, mas não resistiu. Sua morte, de uma forma tão abrupta, foi muito sentida, principalmente em Muriaé, onde era uma pessoa de ótimo relacionamento e querido por todos.


                         

Paulo Goulart - entrevistado por Cícero Melo, da ESPN - recebendo uma homenagem do Nacional, de Muriaé, em 2016, antes de um jogo do Fluminense na cidade mineira.


terça-feira, 10 de setembro de 2024

BIGODE: OUTRO JOGADOR MARCADO PELA DERROTA DE 1950

 


João Ferreira, mais conhecido como BIGODE, mineiro da capital, onde nasceu em 04 de abril de 1922, ex-lateral-esquerdo com passagem por Sete de Setembro (MG), Atlético (bicampeão mineiro em 1941/42), Fluminense (campeão carioca em 1946, e da Copa Rio em 1952), Flamengo e Seleção Brasileira. Ótimo marcador, de técnica limitada, mas muita disposição na disputa das jogadas.


No Fluminense atuou em 391 jogos e marcou um gol, entre os anos de 1943 a 1949, e 1952 a 1955. Em apenas sete jogos começou como reserva. Esteve no Flamengo, nas temporadas de 1950 e 1951, atuando em 71 jogos.


Participou da Copa do Mundo de 1950 e vestiu a camisa do Brasil em 11 jogos, sendo 10 oficiais. Esse é mais um jogador (ao lado do ex-goleiro Barbosa) que de vez em quando é criticado – injustamente – pelo fatídico lance que terminou no gol da vitória do Uruguai, na final da Copa do Mundo de 1950.


Bigode morreu em São Mateus-ES, em 31 de julho de 2003, aos 81 anos. Apresentava quadro de insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica. Fumante, ele estava com pneumonia crônica, que evoluiu para choque séptico.

 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

ADEMIR / ZIZINHO: HISTÓRIAS DO FUTEBOL MACHÃO (PARA AS MOCINHAS DE HOJE EM DIA)

 


Nota: reportagem da Revista Placar edição nº 443, de 20/10/1978, assinada por Aristélio Andrade.

 

A violência passou dos limites? Mestre Ziza e Ademir Meneses respondem: “As mocinhas de hoje deviam jogar no nosso tempo!”

 

Zezinho e Ademir fizeram época. Atacantes, habilidosos, foras de série, viveram numa época heróica e romântica do futebol brasileiro. Uma época em que bater era regra, punir nem pensar. Ziza dá o exemplo:

- Num Flamengo e Botafogo, Caxambu fez um golaço e foi buscar a bola no fundo da rede. Voltou sem os dentes da frente.

Naqueles dias, idos de 40, havia cadeiras na pista, junto às linhas laterais, e as cercas eram baixas. Toda comemoração de gol era respondida com sopapos e xingamentos, desde que as torcidas se equivalessem. Dentro de campo, o pau comia solto. Zezé Moreira, hoje finíssimo treinador do Bahia, não fazia outra coisa senão ater. Lembra Zizinho, com uma ponta de nostalgia.

- Dava medo jogar  contra aquela defesa do Botafogo – Zezé Moreira, Zezé Procópio, Nariz, Canalli, Zarci e Grambel. Era a “Cavalaria Rusticana”, ou simplesmente “Esquadrão de Cavalaria”. Batiam pra valer. É que jogador expulso podia ser substituído. Contra o Flu de 36/37, um dos melhores times que vi jogando, o Zezé entrava exclusivamente para tirar um ou dois jogadores de campo. De preferência o Tim ou o Romeu. Ele acabava expulso e, no seu lugar, entrava o Martim, um craque, que ficava no banco só aguardando a vez.

Os beques usavam chuteiras de bico duro, com reforço de metal sob o couro curtido. Toda espécie de intimidação era válida. O Bahia, por exemplo, tinha um defensor, de nome Popó, que usa quatro dentes de ouro na frente. Cada dente tinha uma letra. Quando ele partia em cima do atacante, abria o bocão e deixava a inscrição à mostra: P-O-P-Ó. Popó atuava ao lado de incêndio, Bacamarte e Bolivar. Pelos nomes, tem-se uma ideia de seus talentos futebolísticos.

Violência, portanto, sempre existiu. Ademir de Meneses, hoje conceituado comentarista da Continental, do Rio, nem se abala com as acusações ao jogo violento:

- A chiação, isso sim, cresceu muito.

Nos idos de 40 e 50, os zagueiros disputavam entre sim o mérito da primeira expulsão. Por isso não escolhiam onde nem como bater. Segundo Zizinho, havia de tudo: tocos no tornozelo, cotoveladas nas costelas, socos nos rins, bicos de peito. “Queriam ver quem era expulso primeiro. Era a glória”. Tempos quentes, esses. Tanto que o primeiro jogador a curtir suspensão  de um ano foi Olavo, do Bangu. Sua façanha: arrancou a bandeira de escanteio e abriu a cabeça de um juiz. Mas, para Zizinho, o mais violento de todos foi Gérson dos Santos, do Botafogo. Cinta:

- Antes de começar o jogo, eu cumprimentava um a um os adversários. Com o Gérson não adiantava. Ele rosnava: “Olha, Queixada, perdi tudo nos cavalos e estou disposto a ganhar esse bicho, mesmo que tenha de matar um...”

Não havia as garantias de um Maracanã, de um Beira Rio. Ademir e Zizinho cansaram-se de ficar retidos em vestiários, horas a fio, até conseguir uma retirada com segurança. E houve o episódio famoso de Buenos Aires, quando ocorreu o contrário. Ademir relembra:

- Copa Roca de 45. Eu tinha quebrado, sem querer, a perna do Batagliero, na partida do Rio. Em Buenos Aires, o Batagliero desfilou com a perna engessada, antes de um jogo valendo pelo Sul-Americano. Começa o jogo, o Jair quebra a perna do Salamón. A massa invadiu o campo e foi pro massacre. Foi a pior briga que já vi, todo mundo batendo em todo mundo.

Os jogadores, debaixo de pancada, conseguiram refúgio no vestiário. Um funcionário da AFA, minutos depois, veio advertir: “Não respondemos por suas vidas, caso não voltem ao campo”.

O Brasil voltou. E, é claro, perdeu.

Zizinho apanhou muito. Mas também deu. Ademir, ao contrário, foi uma vítima. Ao longo de sua carreira, quebrou as duas pernas, teve afundamento no malar. E tem cicatrizes por todo o corpo. Para piorar, a desproteção era total, pois nem existia a medicina esportiva.

No final da década de 30, ninguém sabia, no Brasil, o que era uma operação de meniscos. O primeiro a se submeter a uma cirurgia dessas foi o Russo, Adoldo Milmann, assim mesmo no exterior. Não era sem propósito, aliás, que a maioria dos atletas  usava joelheiras para proteger a região.

Jogar futebol nos dias de hoje, assim, é  moleza. Para Ademir e Zicinho, a aparente violência que se observa é provocada por fatores externos. Um deles, o cartão amarelo. Diz Zizinho:

- O beque sabe que, na primeira falta, receberá, no máximo, um cartão amarelo. Aí, ele dá firme, faz a falta desclassificante impunemente. Mas isso não significa que a violência seja fenômeno atual. O futebol sempre foi um esporte violento, pois é impossível evitar o choque. Se quiserem acabar com isso, que botem uma rede no meio do campo e vão jogar voleibol!

 

 

 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

SANDRO MOREYRA E SUAS PAIXÕES: A CRÔNICA ESPORTIVA E O BOTAFOGO



Sandro Moreyra nasceu no Rio de Janeiro em 28 de janeiro de 1918. Filho do poeta e jornalista Álvaro Moreyra e de Eugênia Moreyra, uma das primeiras feministas brasileiras, Sandro foi um dos maiores jornalista e cronista esportivo brasileiro, uma figura muito querida entre seus companheiros de classe. Há que se ressaltar sua paixão pelo Botafogo.  


Começou em 1946, no jornal Tribuna Popular. Depois, passou pelo Diário da Noite, até chegar ao Jornal do Brasil, em 1958. Em 1981, começou a escrever uma coluna no jornal e também na revista Placar com histórias curiosas sobre personagens do futebol brasileiro. A coluna durou cinco anos, até sua morte, e o sucesso deu origem a seu único livro publicado, “Histórias de Sandro Moreyra”. 


Seus personagens preferidos nessas histórias eram Garrincha e o goleiro Manga. De Garrincha, especialmente, conhecia muitas histórias por ter feito a cobertura do Botafogo para o Jornal do Brasil. Quando o Botafogo contratou o ponta-direita, Sandro, ainda no Diário da Noite, grafou o nome dele como “Gualixo” na notícia. Ele achava o nome “Garrincha” feminino e usou o nome de cavalo famoso à época no turfe.


Sandro foi um crítico contundente das más administrações do Botafogo a partir dos anos 70. Algumas de suas frases em uma entrevista à revista Placar: “O único orgulho agora, é dizer que o Brasil só foi campeão do mundo quando teve botafoguense”; “Sendo o futebol de hoje 70% de força, não há mais lugar para a arte do velho Botafogo”.


Vítima de hemorragia digestiva faleceu na capital carioca em 29 de agosto de 1987, aos 69 anos. Sandro era pai da jornalista Sandra Moreya, da Rede Globo, que faleceu em 10 de novembro de 2015, aos 61 anos, após travar uma luta contra o câncer. Teve mais uma filha (Eugênia) oriunda de um dos três relacionamentos.  


Em agosto de 2017, o jornalista e professor Paulo Cezar Guimarães lançou pela Editora Gryphus o livro “Sandro Moreyra, um autor à procura de um personagem”. Assim o autor definiu Sandro: “A geração dele era de uma época romântica em que se exercia o jornalismo com paixão e prazer”.

ALCIR PORTELA: UMA VIDA DEDICADA AO VASCO

 


Alcir Pinto Portela Prates nasceu no Rio de Janeiro em 09 de maio de 1944. A história desse volante técnico que jogava sério, duro na marcação, sem ser violento, se confunde com a do Vasco, onde atuou em 511 jogos e marcou 36 gols, entre os anos de 1964 e 1975, tendo sido o capitão do time campeão brasileiro de 1974. Foi campeão também do Torneio Rio-São Paulo de 1966 e do carioca de 1970. Foram onze anos de serviços prestados, como jogador, ao time da Colina.  


Em 1974, ganhou o prêmio Belfort Duarte, que premiava o jogador que passasse dez anos sem sofrer uma expulsão, tendo jogado pelo menos 200 partidas.  


Alcir iniciou a carreira nas categorias de base do Vasco. Jogou por empréstimo no Bonsucesso ( ainda nos anos 60), e encerrou a carreira no Mato Grosso, antes da divisão do estado, vestindo a camisa do Operário, em 1976.


Ao encerrar sua trajetória dentro de campo, permaneceu no Vasco por mais de 20 anos atuando como treinador, auxiliar técnico e supervisor. Sua identificação com o clube é algo ser destacado.

Após muitos anos de serviços prestados, teve uma grande decepção ao ser demitido pelo presidente Eurico Miranda.


Além do futebol, o carnaval era sua outra paixão. Não deixava de desfilar pela Imperatriz Leopoldinense, onde fazia parte da direção de harmonia.


Depois de lutar durante oito anos contra um câncer de próstata, Alcir faleceu por falência múltipla de órgãos, aos 64 anos, em 29 de agosto de 2008, na capital carioca.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

ALCINDO: O "BUGRE XUCRO"


 

Alcindo Martha de Freitas nasceu em Sapucaia do Sul-RS, em 31 de março de 1945. Foi um atacante raçudo e oportunista. Para ele não existia bola perdida e sabia como poucos proteger a bola na frente dos zagueiros. Tinha grande inteligência e presença na área. Marcou época defendendo o Grêmio. É uma das glórias da história do clube e maior artilheiro com 230 gols em 378 jogos. Tarciso vem em segundo com 223 gols em 723 jogos.


Revelado nos juvenis do Internacional, Alcindo acabou se consagrando no rival. Antes de chegar ao Grêmio atuou pelo Rio Grande, em 1963. O “Bugre Xucro” (como era chamado pelo narrador Geraldo José de Almeida) estreou com a camisa do Grêmio em 1964 e foi pentacampeão gaúcho em 1964/65/66/67/68. Jogou posteriormente no Santos (campeão paulista em 1973), Jalisco/México, América (campeão mexicano em 1976), retornou ao Grêmio para uma breve passagem em 1977, conquistando mais um título estadual, encerrando a carreira no interior paulista, em 1978, pela Francana.



Participou da Copa do Mundo de 1966 e defendeu o Brasil em 7 jogos, marcando 1 gol, todos oficiais.


Morreu aos 71 anos, na capital gaúcha, em 27 de agosto de 2016, por complicações da diabetes.