Nos anos 70, os programas sobre futebol na televisão
tinham mais ação do que muitos filmes e mexiam com paixões bem mais do que as
novelas (é bom esclarecer que tudo começou nos anos 60).
“Foi impedimento, ou não?” / “O que será que ele disse
ao juiz para ser expulso?” / Por que aquele time ganhou, por que aquele
perdeu?”
Para o torcedor brasileiro, naquela época, as
mesas-redondas sobre futebol que iam ao ar nas noites de domingo e
segunda-feira nos canais de televisão, tornaram-se uma tradição e, mais ainda,
um importante tira-teima dos lances duvidosos que aconteciam nos fins de
semana.
A fórmula dos programas eram sempre as mesmas:
críticas, análises, exibição dos gols em videotape e entrevistas com dirigentes
e jogadores. O sucesso era garantido e os profissionais que faziam parte dos
programas, tornaram-se ao lado dos gols e dos craques, atração permanente.
Anos 60...
Luiz Mendes, ele mesmo – o da “Palavra Fácil” – foi
dele que partiu a ideia do formato depois de assistir a um debate político
entre comentaristas e imaginar que o futebol também poderia render conversas
muito mais interessantes. É a constatação do quanto ele era visionário e se
tornou um dos maiores jornalistas esportivos do país, respeitado e querido por
todos. A ideia foi levada ao então diretor da TV Rio, Walter Clark, um expert
do ramo, que abraçou a causa e surgiu ali o “Grande Revista Esportiva”.
Comandada pelo apresentador Luiz Mendes, a mesa-redonda estreou na TV Rio em
1963. Após ganhar o patrocínio da empresa Facit, que fabricava máquinas de
escrever, o programa mudou de nome para “Grande Resenha Facit”.
Luiz Mendes era o âncora da discussão e, a seu lado,
estavam ninguém menos que nomes como Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, João
Saldanha, José Maria Scassa, Hans Henningsen, Vitorino Vieira e o ex-jogador
Ademir Menezes. Se hoje em dia as discussões nos programas às vezes se exaltam
um pouco, naquela época os integrantes da mesa abandonavam constantemente a
técnica e discutiam com paixão de torcedor e defendiam seus times. Nelson
Rodrigues era tricolor; José Maria Scassa, rubro-negro; João Saldanha,
botafoguense; e Vitorino Vieira e Ademir, vascaínos. Armando Nogueira, outro
botafoguense, disse em entrevistas que era o único que tentava ser isento:
inclusive usava terno para tentar passar uma imagem de credibilidade. O
programa fez um grande sucesso na época em que foi exibido e é considerado uma
das melhores mesas-redondas esportivas da televisão brasileira.
A partir de setembro de 1966 o programa passou a ser
exibido pela Rede Globo e ficou no ar até janeiro de 1971. Profissionais como
Léo Batista, Mário Vianna, Washington Rodrigues, entre outros, chegaram a fazer
parte do time “Grande Resenha Facit”. Há de se destacar que nos últimos três
meses, o programa ganhou o nome de “Super Resenha Esportiva”.
Anos 70...
Na TV Educativa, Canal 2, do Rio de Janeiro, o
“Esporte Total” era comandado por Luiz Mendes. A mesa-redonda geralmente era
composta de Sérgio Noronha, José Inácio Werneck, Achiles Chirol, Luís Lobo e
Luís Orlando. O futebol era discutido mais em tese, menos sobre lances
específicos.
Na TV Guanabara, Canal 7, do Rio, estação que
integrava a Rede Bandeirantes de São Paulo, o programa “Bola na Mesa” tinha Avelino
Dias como comandante e contava com a participação de Galvão Bueno – ele mesmo,
que era o titular de esportes da emissora -, Márcio Guedes, Paulo Stein, João
Saldanha e Oldemário Touguinhó.
“Futebol É Com Onze”, da TV Gazeta, Canal 11, de São
Paulo, era comandada por Roberto Petri e sua grande equipe era integrada por
Peirão de Castro, Dalmo Pessoa, Nilton Reina, Flávio Azetti, Paulo Victor,
Barbosa Filho, Sérgio Baclanos, J. Júnior, Sérgio Salrucci, Raul Wagner, Milton
Guimil, Geraldo Blota e José Italiano. Eles eram a atração das noites de
segunda-feira, na capital paulista.
No Rio, quem monopolizava as atenções dos apaixonados
do esporte, diariamente, às 13h, era Carlos Lima, na TV Tupi, Canal 6. Seu
programa “Operação Esporte”, do qual também participava Geraldo Mazella, tinha
um ritmo muito intenso, com muitas entrevistas e informações dos clubes
cariocas.
Os anos 80 e 90 foram períodos de transição de nomes e
o surgimento de novos programas, principalmente nos canais de assinatura, que
surgiram a partir da segunda metade dos anos 90. Alguns nomes da “velha guarda
da comunicação” viraram o século em plena atividade.
Das emissoras citadas acima, não posso deixar de
registrar que a TV Gazeta e a TV Educativa – que a partir de dezembro de 2007
passou a se chamar TV Brasil, fruto da fusão das grades da TVE do Rio de Janeiro
com a TV Nacional de Brasília – continuam em atividade com seus programas
esportivos dominicais. Roberto Avallone assumiu o programa “Mesa Redonda” da TV
Gazeta, em 1985 – com aquele seu estilo peculiar e com muita irreverência
(Exclamação! Interrogação?) –, e permaneceu até 2003, quando se mudou para a Rede
TV. Flávio Prado, vindo da TV Cultura, assumiu em agosto de 2003, a “Mesa
Redonda” da TV Gazeta.
Na TVE o programa esportivo nas noites de domingo
passou por diversas nomenclaturas a partir dos anos 80. O que não se alterou
foi o verdadeiro sentido do programa: os debates esportivos. Com nomes fixos e
convidados diferentes a cada fim de semana, surgiu como “Esporte Visão” e
depois passou a se chamar “Debate Esportivo”. Em um curto período, teve o
título de “Ataque”, até que em 2002 volta ao nome original com redação
diferente: “EsporTVisão”. A partir de junho de 2013, com mais uma alteração,
entra no ar o “No Mundo da Bola”. O programa é comandado por Sergio du Bocage,
que desde 1987 faz parte do grupo e, a partir de 2012, assumiu a bancada.
Ricardo Mazella, Paulo Stein e Alberto Léo também comandaram até 2011. Outros
nomes de destaques com participações frequentes nas noites de domingo: Luiz
Mendes, Achilles Chirol, Rui Porto, Gérson Nunes (Canhota), Sérgio Noronha,
Washington Rodrigues, Januário de Oliveira, Márcio Guedes, entre muitos outros.
Márcio Guedes, então, é praticamente efetivo.
O “Cartão Verde”, exibido pela TV Cultura a partir de
1993 – no formato mesa-redonda – foi idealizado por Michel Laurence e comandado
por José Trajano até o ano 2000, ao lado de Armando Nogueira, Luiz Alberto
Volpe e Flávio Prado, que assumiu após a saída de Trajano e ficou até 2003, na
cia de Juca Kfouri, Osmar de Oliveira, Juarez Soares, entre outros. Vladir
Lemos apresentou o programa de 2006 até seu término, em 2020. E nesses últimos
quatorzes anos, Sócrates, até 2011, Victor Birner, Xico Sá, Celso Unzelte,
Roberto Rivellino, entre outros, na bancada de comentarista.
Finalizando essa viagem sobre os debates esportivos na
TV, não posso deixar de mencionar o nome de Milton Neves, comandante do
programa “SuperTécnico” da Rede Bandeirantes, entre os anos de 1999 e 2001.
Apesar de ter ficado pouco tempo no ar, marcou época reunindo nas noites de
domingo treinadores que foram destaques na semana. Wanderley Luxemburgo, Luiz
Felipe Scolari, Abel Braga, Joel Santana, Emerson Leão, Oswaldo de Oliveira,
Zagallo, Rubens Minelli, e outros, eram figurinhas carimbadas. De dezembro de
2001 a dezembro de 2007, Milton Neves, em sua nova casa, apresentou na RecorTV,
o “Terceiro Tempo”, programa no estilo mesa-redonda. Retornando à Band em 2008,
Milton seguiu com o programa na nova emissora.
Formato hoje consagrado quando se fala de futebol, no
rádio e na TV, os programas esportivos do gênero na atualidade são repetitivos
e muitos dos personagens envolvidos, nem de longe, têm o carisma e o respeito
da maioria dos jornalistas citados acima. As exceções existem, é claro, com
alguns profissionais que merecem credibilidade.
A partir dos anos 90, com o surgimento dos canais por
assinatura, os debates ganharam um espaço ainda maior, preenchendo as grades de
programação das emissoras diariamente e em quantidade que os tornaram
enfadonhos. Mudam-se os nomes, mas os temas são os mesmos. Esse é um relato
pessoal. Nada contra àqueles que gostam e assistem na íntegra.
Nota: quando
se propõe a descrever um tema tão abrangente, corre-se o risco de esquecer
nomes e deixar de mencionar um ou outro programa. Antecipadamente peço
desculpas por alguma omissão. Fiz questão de relatar apenas os programas de TV
aberta.