Nota: em 28 de abril de 2015, o comentarista do
SporTV, Lédio Carmona, escreveu em sua página pessoal no Facebook um belíssimo
texto de exaltação, enaltecimento e declaração de amor ao rádio esportivo e a
grandes nomes da latinha. É um texto significativo que nos faz voltar num tempo
em que o rádio era nosso companheiro inseparável. A grande maioria das casas
não tinha TV, mas, o rádio, seja qual for o modelo, era sagrado.
Segue o texto transcrito na íntegra...
Não tenho o menor constrangimento em dizer que, entre
infância e adolescência, meu melhor amigo foi o rádio. Acordava, almoçava,
jantava, brincava e dormia com o meu de pilhas. Ouvia Nacional, Globo, Tupi e
Continental/Guanabara (onde Orlando Baptista estivesse). Éramos inseparáveis,
eu e meus rádios - eram muitos, pois se meu time perdia algum jogo importante
eu o espatifava longe e obrigava meu pai, pobre de marré, a comprar outro no
dia seguinte.
Ainda ouço muito rádio. Hoje tenho menos tempo. Os
canais esportivos de TV a cabo fazem o papel que era do rádio ontem. Fico
ligado na TV o dia inteiro. E, nos horários dos programas, ouço rádio. Gosto da
CBN, ouço o "Globo Esportivo" e não perco o "Sala de
Redação", da Gaúcha. Acompanho algumas jornadas também, principalmente na
ida e na volta aos estádios. Nunca deixei de ouvir rádio. Jamais deixarei. É meu
amigo, sempre será.
Já escrevi aqui que fiz jornalismo porque queria ser
radialista. Meu sonho era ser igual ao Loureiro Neto. Gostava da voz do
Loureiro, do jeito calmo que dava as notícias, por ser português... Certa vez,
fui ver um jogo insignificante no Caio Martins (não lembro qual era). Sentei na
arquibancada coberta, olhei para o gramado e vi que Loureiro estava encostado
no alambrado, fumando, com uns dois beirinhas batendo papo com ele. Desci e
encostei. Entrei no papo e, durante os 90 minutos daquela pelada, Loureiro
fazia suas intervenções e conversava conosco. Foi um dos dias mais felizes da
minha vida. E um dos mais tristes foi no ano passado, quando Loureiro morreu.
Também fiquei mal quando perdemos Luiz Mendes, Waldir
Amaral, Jorge Curi, Doalcei Bueno de Camargo, Antônio Porto, Carlos Marcondes,
João Saldanha, Danilo Bahia, Orlandão, etc. E como sinto falta de Maurício
Torres, um amigo de verdade, que entrevistei em 1996 para uma matéria do Jornal
do Brasil sobre plantonistas e que, anos depois, virou um ombro-amigo. Maurício
era outro que migrou para a TV, mas nunca abandonou o carinho pela latinha.
A ida de José Carlos Araújo para a Tupi será ótima
para o rádio. Garotinho e Apolinho juntos. Luta pela audiência. Globo forte,
com Luiz Penido, que ouço desde 1974. Eraldo Leite, outro ícone, voz que me
acompanha desde 1977. Dé, Rafael Marques, Felippe Cardoso, Edson Mauro, outro
parceiro inseparável nesses 40 anos em que eu e o rádio estabelecemos essa
relação.
É uma relação de admiração, respeito e agradecimento.
Ainda fico meio tímido quando entro no mesmo elevador do Garotinho no Maracanã.
Sempre tenho vontade de tirar uma foto, de mostrar que continuo fã, apesar de
agora sermos colegas. Vivo repetindo para Eraldo que o levei para dar palestra
para minha turma na PUC, em 1985. Gargalho como Ronaldo Castro, outro
personagem que nunca esquecerei, na entrada e saída dos estádios. É a força do
rádio. As vozes são eternas. As lembranças, mais ainda.
Nunca fui radialista. Na faculdade, arrumei emprego no
JB – jamais pensei em escrever para jornal e revista. Fiz isso durante 20 anos,
sei lá. Nunca pensei em trabalhar em TV. Sou ogro, anti-social, feio, careca,
míope, desajeitado. Parei na TV, quase sem querer. E no rádio nunca trabalhei.
Talvez porque nossa relação seja mesmo de paixão, de amizade, de estar sempre
perto um do outro. Não é um compromisso, um dever, uma finalidade. Sempre será
um prazer. Meu melhor amigo.
grande ledio dando aula,tambem sou louco por radio.um abraco,mestre,
ResponderExcluirExcelente.
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