terça-feira, 5 de julho de 2022

O AMIGO DO RÁDIO ESPORTIVO: POR LÉDIO CARMONA

 


Nota: em 28 de abril de 2015, o comentarista do SporTV, Lédio Carmona, escreveu em sua página pessoal no Facebook um belíssimo texto de exaltação, enaltecimento e declaração de amor ao rádio esportivo e a grandes nomes da latinha. É um texto significativo que nos faz voltar num tempo em que o rádio era nosso companheiro inseparável. A grande maioria das casas não tinha TV, mas, o rádio, seja qual for o modelo, era sagrado.  

 

Segue o texto transcrito na íntegra...

 

Não tenho o menor constrangimento em dizer que, entre infância e adolescência, meu melhor amigo foi o rádio. Acordava, almoçava, jantava, brincava e dormia com o meu de pilhas. Ouvia Nacional, Globo, Tupi e Continental/Guanabara (onde Orlando Baptista estivesse). Éramos inseparáveis, eu e meus rádios - eram muitos, pois se meu time perdia algum jogo importante eu o espatifava longe e obrigava meu pai, pobre de marré, a comprar outro no dia seguinte.

 

Ainda ouço muito rádio. Hoje tenho menos tempo. Os canais esportivos de TV a cabo fazem o papel que era do rádio ontem. Fico ligado na TV o dia inteiro. E, nos horários dos programas, ouço rádio. Gosto da CBN, ouço o "Globo Esportivo" e não perco o "Sala de Redação", da Gaúcha. Acompanho algumas jornadas também, principalmente na ida e na volta aos estádios. Nunca deixei de ouvir rádio. Jamais deixarei. É meu amigo, sempre será.

 

Já escrevi aqui que fiz jornalismo porque queria ser radialista. Meu sonho era ser igual ao Loureiro Neto. Gostava da voz do Loureiro, do jeito calmo que dava as notícias, por ser português... Certa vez, fui ver um jogo insignificante no Caio Martins (não lembro qual era). Sentei na arquibancada coberta, olhei para o gramado e vi que Loureiro estava encostado no alambrado, fumando, com uns dois beirinhas batendo papo com ele. Desci e encostei. Entrei no papo e, durante os 90 minutos daquela pelada, Loureiro fazia suas intervenções e conversava conosco. Foi um dos dias mais felizes da minha vida. E um dos mais tristes foi no ano passado, quando Loureiro morreu.

 

Também fiquei mal quando perdemos Luiz Mendes, Waldir Amaral, Jorge Curi, Doalcei Bueno de Camargo, Antônio Porto, Carlos Marcondes, João Saldanha, Danilo Bahia, Orlandão, etc. E como sinto falta de Maurício Torres, um amigo de verdade, que entrevistei em 1996 para uma matéria do Jornal do Brasil sobre plantonistas e que, anos depois, virou um ombro-amigo. Maurício era outro que migrou para a TV, mas nunca abandonou o carinho pela latinha.

 

A ida de José Carlos Araújo para a Tupi será ótima para o rádio. Garotinho e Apolinho juntos. Luta pela audiência. Globo forte, com Luiz Penido, que ouço desde 1974. Eraldo Leite, outro ícone, voz que me acompanha desde 1977. Dé, Rafael Marques, Felippe Cardoso, Edson Mauro, outro parceiro inseparável nesses 40 anos em que eu e o rádio estabelecemos essa relação.

 

É uma relação de admiração, respeito e agradecimento. Ainda fico meio tímido quando entro no mesmo elevador do Garotinho no Maracanã. Sempre tenho vontade de tirar uma foto, de mostrar que continuo fã, apesar de agora sermos colegas. Vivo repetindo para Eraldo que o levei para dar palestra para minha turma na PUC, em 1985. Gargalho como Ronaldo Castro, outro personagem que nunca esquecerei, na entrada e saída dos estádios. É a força do rádio. As vozes são eternas. As lembranças, mais ainda.

 

Nunca fui radialista. Na faculdade, arrumei emprego no JB – jamais pensei em escrever para jornal e revista. Fiz isso durante 20 anos, sei lá. Nunca pensei em trabalhar em TV. Sou ogro, anti-social, feio, careca, míope, desajeitado. Parei na TV, quase sem querer. E no rádio nunca trabalhei. Talvez porque nossa relação seja mesmo de paixão, de amizade, de estar sempre perto um do outro. Não é um compromisso, um dever, uma finalidade. Sempre será um prazer. Meu melhor amigo.

 

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