Nota: não tinha
intenção de fazer um texto tão grande, mas o tema é maravilhoso e quando
comecei a escrever não deu mais vontade de parar.
O Brasil Esporte Clube
foi fundado em 1º de dezembro de 1972. Esse foi o passo inicial de Luiz Fernando Linhares, que depois
partiu para a construção de um estádio na parte alta da cidade (Cehab), no
local conhecido como “buraco da égua”, já famoso por suas peladas. No final dos
anos 70 e na década de 80, o futebol de Miracema reviveu os bons tempos com a
inauguração de um novo estádio com capacidade aproximada de 15.000 pessoas,
logo denominado “Ferradurão”, devido ao seu formato de uma ferradura. Luiz
Fernando Linhares concretizou o seu sonho e, por tabela, fez do seu Brasil E.C.
mais uma força regional no futebol. Foi um dos melhores times naquele período.
No
dia 17 de dezembro de 1978, numa tarde festiva, o estádio foi inaugurado em um
jogo amistoso entre o Brasil E.C. e o Itajara, de Itaperuna. O Brasil venceu
por 4 x 0 e o atacante Ronzê foi o autor do 1º gol do Ferradurão. O time foi
assim escalado: Zé Maria, Fernando, Paulo Joel (depois Onofre), Manoel Lima e
Homero Linhares; Zé Paulo, Pestaninha e Dequinha (depois Picão); Beto, Ronzê e
Biluzinho (depois Carlos Feijão). Gostaria de esclarecer que essas informações
foram prestadas pelo amigo Gelti Rodrigues.
Luiz Fernando, Garrincha e Charles Borer (presidente do Botafogo). Foto acervo da família |
Com o apoio
incondicional de Luiz Fernando Linhares,
um botafoguense apaixonado por futebol, que era o comandante do projeto, os
miracemenses passaram a ter um compromisso nas tardes de domingo com os jogos no
Ferradurão.
Uma lei nacional
obrigou a mudança de nome do clube que passou a se chamar Bandeirantes Esporte
Clube. Exceto os mais antigos, cito como exemplo o Brasil de Pelotas (RS), aqueles
mais novos com a denominação de “Brasil” tiveram que alterar o nome da
agremiação esportiva. No início foi um pouco difícil os torcedores assimilarem
a mudança, mas logo o “Bandeirantes” caiu nas graças do povão. As cores verde e
amarelo foram mantidas.
Os embates nas
competições municipais e regionais, mais precisamente na Copa Noroeste
Fluminense, com uma rivalidade que foi se perdendo ao longo dos anos, movimentaram
a região em confrontos inesquecíveis com os também tradicionais adversários, tais
como: Paduano (Santo Antônio de Pádua), Aperibeense (Aperibé), Nacional e União
(Itaocara), Floresta (Cambuci), Grêmio Ubaense (São José de Ubá), Laje E.C.
(Laje do Muriaé), Venancense (do distrito de Comendador Venâncio/Itaperuna),
Retiro (do distrito de Retiro/Itaperuna), Soledade (do distrito de
Raposo/Itaperuna), Porto Alegre (Itaperuna), Porciunculense (Porciúncula), Natividade
(da cidade do mesmo nome), Serrano (Varre-Sai) e o Olympico (Bom Jesus do
Itabapoana). Os rivais domésticos não podem ser esquecidos, tais como:
Miracema, Associação, Operário, Vasquinho, Ipiranga (do distrito de Venda das
Flores) e Paraíso (do distrito de Paraíso do Tobias).
Com o surgimento da
Rádio Princesinha do Norte – a partir de 1982 – uma equipe de esportes foi
formada, sob o comando do narrador Adilson Dutra, e apesar de todas as
dificuldades de uma rádio pequena e do interior, as transmissões dos jogos foi
mais uma atração para os amantes do esporte. Durante a semana, o programa “Bola
em Jogo”, a partir das 18h, além do noticiário dos grandes da capital, os times
amadores da cidade passaram a ter o seu espaço no programa esportivo. Foi um
somatório de fatores que fez dos anos 80 uma década inesquecível para o nosso
futebol. Assim era composta a equipe de esportes: Adilson Dutra, Fernando Nascimento, Chico David, José Luiz da Silva, Wellington
Ronzê, Paulo Joel, Marco Aurélio Moura, Gelti Rodrigues e nas carrapetas o incansável
Chiquinho Titoneli, o técnico que preparava as linhas para as transmissões dos
jogos. Grande Chiquinho!
Retornando ao futebol
dentro das quatro linhas, muitos jogadores desfilaram seu talento com as
camisas do Brasil e do Bandeirantes, que teve como técnico por mais tempo o
professor de Educação Física Eduardo
Amaral, mais conhecido como Piazza.
Na equipe de apoio, primeiro o Fota,
pai dos ex-jogadores Orlando Fumaça e
Negão – esse último jogou no Bandeirantes –, e depois o Ismael, foram os massagistas dessa época. A torcida
era bastante animada, com charangas, e um torcedor em especial e que virou
símbolo do Bandeirantes – o Furica –
não pode ser esquecido. Não é Carlos
Fera?
Tive a felicidade de
acompanhar o início desse projeto e, posteriormente, o prazer de jogar contra e
junto com essas feras. É muito difícil escolher um time ideal, mas o
Bandeirantes tinha uma equipe base que até hoje é lembrada por quem vivenciou
aquela época. Escolhi a minha seleção em cima dessa base: Zé Maria, Fernando, Manoel Lima, Tachinha e Luís Carlos; Zé Paulo,
Pestaninha e Dequinha; Beto, Ronzê e Biluzinho. Prefiro não citar mais
ninguém para evitar injustiça com muitos outros que poderiam fazer parte da
lista, alguns deles, meus amigos até hoje.
Não posso deixar de mencionar
outras pessoas que foram muito importantes para manter acesa a chama do futebol
amador, comandando as equipes – dentro e fora de campo – que também tiveram a
sua importância para o nosso futebol: o
eterno Jair Polaca (Miracema), Sabino, Justo, Juca e Joci (Vasquinho), Senhor Jair
(Operário), José Luiz da Silva (Associação) e outros abnegados.
Com a trágica e
repentina morte de Luiz Fernando
Linhares, ocorrida em 05 de março de 1981, causada por um acidente
automobilístico, não somente a região perdeu um líder político em plena
ascensão, mas o esporte de Miracema ficou órfão de seu patrono. Por alguns anos
o projeto ainda se manteve firme, com uma dedicação incomum do também abnegado Milton
Padilha, e o time seguiu disputando as competições. Posteriormente, com o
declínio do futebol amador na cidade e na região, concomitantemente com a
entrada de alguns times na disputa do futebol profissional, afastou-se das
competições e com o passar dos anos o estádio Ferradurão foi se degradando até
chegar a ser interditado. Recentemente foram feitas reformas e o mesmo já se
encontra em condições de uso.
O nome oficial do
estádio passou a ser Deputado Luiz Fernando
Linhares, uma homenagem mais do que justa para aquele que foi o mentor
dessa obra.
O QUE NOS RESTA DESSE
TEMPO, MEUS AMIGOS, APENAS SAUDADES!