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Senhor Erasmo recebendo o Prêmio Mérito Cultural Dr. Hermes S. Ferreira 2015
Foto Secretaria Municipal de Cultura e Turismo |
O senhor José Erasmo Tostes nos deixou no dia 23 de julho de 2016, e o blog faz uma simples homenagem a esse ilustre cidadão - que fazia parte da Academia Miracemense de Letras - publicando suas crônicas. Sempre fui um leitor assíduo de sua coluna "Tipos & Fatos Inesquecíveis" - que já teve livro publicado - para conhecer pessoas e histórias antigas da nossa querida Miracema.
Numa
noite dessas, do meu quarto, ouvia uma pessoa que tocava violão, e, naqueles
acordes plangentes de Chão de Estrelas, foi-se descortinando em minha mente
tempos em que, em nossa mocidade, frequentávamos os bailes no Aero Club e no
Salão Primavera, sempre de terno branco de Teilon S.120 e Panamá no verão; no
inverno, casimira Aurora azul-marinho. As moças ficavam todas de um lado e os
rapazes do outro. Atravessávamos o salão para tirar as moças para dançar; hoje
é totalmente diferente.
E,
naqueles pensamentos, me vêm à memória a figura do Justo Cunha, dono de uma
garagem de bicicletas para aluguel, assim como o aluguel de patins que
andávamos no Rinque, as brincadeiras de crianças, o jogo de bola, o pique no
jardim, a corrida do jardineiro por treparmos no pé de jambo, o tempo passado
no Rio de Janeiro na época da guerra, onde na Praça Mauá víamos centenas de
marinheiros americanos, abraçados em mulheres, entrando no Bar Asiática, que
ficava no térreo do Edifício de A Noite, do Colégio Ferreira da Luz, onde
matávamos as aulas, dos pãezinhos do Leco, do Colégio Miracemense com o seu
internato de estudantes de todas as partes, moças eleitas rainhas dos
estudantes; era uma festa sempre esperada.
Do
coreto redondo que ficava na parte de cima do jardim, das festas do João
Cândido e do Morro da Jove, Maria Batuquinha no caxambu, onde hoje é a
Prefeitura, das madrugadas no Boteco do Farid, do meretrício na Avenida Eiras,
dos circos, dos parques de diversões, dos carnavais com serpentina,
lança-perfume e confetes, da caça de preá no Departamento de Café, dos banhos e
das pescas no Ribeirão Santo Antônio, dos piqueniques no Conde, onde haviam
árvores e muita água, do Hotel do Zé João, na Rua das Flores, do Cinema 15, que
ficava na mesma rua, do Miguelzinho, gerente do Cinema 7, do Burú, que pintava
as tabuletas do cinema, do apito da Fábrica, das chaminés da Usina Santa Rosa e
da Cerâmica, quando soltavam fumaça do trem na Estação, dos motoristas de táxis
que ficavam ao lado do Bar Pracinha, com o Boboca que gostava de colocar a bola
na boca da caçapa, do Teodoreto no Chevrolet 39, do Zinho Saco Frio, do Belo em
um Chevrolet 38 cascudo, Buca no Ford 47, Zé Barros, Zé Gonzaga, Nilo Boca
Larga, Carlos Onofre e Tereco.
E,
naqueles pensamentos, ainda a nos trazer tipos e fatos inesquecíveis, víamos o
Gerson Barbeiro e o Netinho, ambos com salão na Rua Direita, o Temótheo, um
negro que fazia barba a domicílio, sempre carregando uma valise igual as dos
médicos, João Caetano, que ao cortar o rosto do freguês com a navalha, colava
um pedaço de papel, do Schuller e suas fotos, do bife na chapa feito pelo
Agiludo, da tropa de escoteiros, dos discursos do Briguelo e da mulher do
Gamelão, do pé de ipê amarelo, dos mendigos Neca Solão e Izabel dos Cachorros,
Verônica, apelidada Mãe do Rundunga e das escadarias do Colégio Miracemense,
que jamais deveriam ser modificadas.
E,
dessas lembranças, o conjunto Boêmios do Céu, que era formado por seis
componentes: Carlúcio Cava, Ceguinho da Vós de Ouro, José do Banjo, José
Magacho, Iranilsom Ciufo e o Chiquito. Na década de 40, tocaram na Rádio Tupi e
Mairink Veiga, do Rio de Janeiro, conjunto esse que jamais saiu de minha
lembrança, talvez seja por não esquecer aquele repertório que jamais ouviremos
nos dias atuais. Tocavam na rádio do José de Assis e diversos bailes da época.
E, ao reviver essas lembranças, é como se fosse um oásis alcandorado que vem trazer um lenitivo e mitigar a sede de um viajor pelo deserto do tempo.