No último domingo
Portugal e França fizeram a final da Eurocopa e os brasileiros
tiveram a oportunidade de ver esta partida ao vivo na TV aberta, Em mais de um
canal, inclusive, já que Globo e Band transmitiram com grande destaque, a tal
ponto que a “Vênus Platinada” escalou seu principal narrador, Galvão
Bueno, e mais: escanteou a rodada do Campeonato Brasileiro,
passando os jogos Chapecoense x Corinthians e Coritiba x Botafogo para o
sábado, para deixar o domingo reservado ao confronto europeu.
Assim, os brasileiros
puderam acompanhar a inédita conquista portuguesa, a montanha-russa de
sentimentos de Cristiano Ronaldo e o golaço de Éder, o que gerou inclusive
festejos da numerosa comunidade lusitana no País.
Acho muito bom que os
brasileiros acompanhem o esporte mundo afora, vendo partidas importantes que
não envolvam somente o time do coração ou a Seleção Brasileira. Isso é parte
importante para que amadureçamos nosso entendimento sobre futebol, ao contrário
do próprio tratamento costumeiramente dado ao futebol na TV aberta, quase
sempre apelando à paixão do torcedor.
Por isso mesmo é que
não só lamento, como fico profundamente irritado que os brasileiros não tenham
podido viver o mesmo com a Copa América Centenário, por exemplo. Que não tenham
podido acompanhar o drama de Messi e a sua decisão de abandonar a Seleção
Argentina, um momento marcante do futebol. Que não tenham visto a epopeia
chilena – que vive a melhor fase de sua história – nem mesmo o desenvolvimento
de uma competição da qual participou a Seleção Brasileira.
O mesmo acontece com a
Copa Libertadores, que teve uma semifinal “secreta” entre a surpresa
Independiente Del Valle e o gigante mundial Boca Juniors, e fatalmente
terá uma decisão ainda mais ignorada pela nossa “grande mídia”, entre os
surpreendentes equatorianos e o Atlético Nacional de Medelim. Nem preciso dizer
a repercussão que a fase decisiva da Champions League tem por aqui.
E não estou negando
a evidente diferença de organização e repercussão entre as competições
europeias e as americanas. Acontece que nós estamos nas Américas, e essas
competições continentais merecem grande repercussão por aqui e geram grande
audiência. Como a Copa América Centenário pode render matérias e mais matérias
enquanto o Brasil está vivo na competição, e depois da nossa eliminação
subitamente virar uma competição menor? E a Libertadores, objeto de desejo de
todos os nossos clubes, que gera ótimos índices de audiência na TV e lota
estádios Brasil afora, passar a ser desimportante quando não podemos mais
ganhá-la?
Não desconsidero que a
UEFA faz uma coisa elementar nas negociações de transmissão de suas
competições: obriga que a emissora exiba algumas partidas, incluindo uma
semifinal e a final. Não consigo conceber nem que uma emissora se interesse por
um campeonato e não tenha o respeito de transmitir sua final, quem dirá de uma
entidade organizar uma competição, vender seus direitos de transmissão e não
EXIGIR que transmitam ao menos a final. Mas apesar de tão óbvio, a Conmebol não
o faz.
Mas além disso, acho
que tem um componente brasileiro de um certo “espiritismo de porco” de
desvalorizar o que não podemos conquistar. Então, se somos eliminados de um
campeonato, nada melhor do que tirar a luz sobre ele para que toquemos a vida e
deixemos para trás qualquer frustração.
O problema é que graças
a isso, continuaremos sempre tratando as demais equipes do continente como
lixo. Adorando que o Leicester City seja “a deliciosa zebra inglesa”, mas
achando deprimente ver o Del Valle na final da Libertadores. Exaltando que
“País de Gales faz história ao chegar às semifinais da Euro” (aliás, tudo era
histericamente “histórico” na Euro), mas ignorando que o Chile (que, para mim,
é claramente superior a Portugal) está fazendo história ao ser a seleção
hegemônica das Américas.
Assim, sempre
continuaremos perdendo e ganhando de “ninguéns”. O valor de qualquer vitória
estará meramente na taça; quando ela não vem, não tem mais nada a ser contado.
Se nós não valorizarmos
nosso universo futebolístico, ninguém mais poderá fazer isso. Se não o fazemos
por ver valor de fato (como eu sinceramente vejo), façamos ao menos por
estratégia e interesse próprio, senão estaremos cada vez mais fadados a só
vermos “história sendo feita” do outro lado do mundo.
Gabriel Rostey é colunista do site NO ÂNGULO.
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