Nas retretas da original Praça Ary Parreiras, eu me escondia dos meus
pais dentro das arvoretas que a circundavam. Sofria com as “lacerdinhas”, mas
me deleitava com a peripécia.
Hoje, todo o cenário está de volta (o coreto, os bancos e as futuras
novas arvoretas), exceto pela ausência do meu pai (que se foi), pela minha
condição física (que também se foi) e pelas “lacerdinhas” (que já não mais
existem?).
Mas... Nesse intervalo...
Transcorria a segunda metade da década de 60. A antiga praça tinha sido
transformada. Concordavam-se ou não, não importava – a modernidade encantava!
Pela arquitetura à "Niemeyer” e pelas poucas, mas encantadoras plantas
viçosas, estas mais por sua tenrura do que por sua ternura. Tais que pareciam
transportar a jovialidade e o brilho do seu viço aos olhos dos jovens que ali
faziam “ponto”.
E eu era um deles... Loucura, gente!
As cinco palmeiras eram ainda muito pequenas. Existia um “guarda-chuva”
de concreto, na altura da casa do Dr. Ururahy. Atrás desse “monumento”, aquelas
tais plantas, circundando os parcos e curvos bancos, serviam para algumas
incursões desses enamorados.
E eu era um deles... Que leve loucura, gente!
Quando o espaço era pequeno para os... sei lá, como dizer... amassos?...
dividíamos, irmãmente... e, até mesmo, nos acomodávamos nos balaústres da praça
para o jardim, ou íamos para este quando não estava totalmente ocupado (bancos,
palmeiras ou outros “escurinhos!”).
E eu era um deles... Que doce loucura, gente!
Ocorreu, porém, certa vez, que venho a “ter” com um dos moradores das
imediações. Já idoso e sem outras perspectivas, ele se locupletava em observar
de binóculo os incautos amantes. E dizia conhecer quase todos e o que faziam.
E eu era um deles... Preocupante loucura, gente!
Viro-me para outro lado, mudo o meu tom de voz e lhe pergunto; o senhor
me conhece? Ele me perfila e seu cenho me revela a preocupação. (Pensei) Não...
não! Eu não vou esperar. Sua fisionomia denotava o que eu não queria ouvir ou
saber. Enquanto ele pensava o que ia responder, saí de “fininho”, a lhe dizer:” --Sr.
Machado, preciso voltar ao trabalho.”
À noite, voltei à praça. Avisei à minha acompanhante que devíamos ter
cuidado. Apontei-lhe a casa, dizendo-lhe: “Vês aquela casa sem luzes acesas?
Estás a ver aquela janela escura? Ela não parece ter um algodão com algo
brilhando no meio? Pois é?! É o “coroa” de cabelos brancos que de binóculo fica
a vigiar todos os movimentos de nós... supostos libidinosos.”
E eu era um deles... Cativante (ou ardente) loucura, gente!
Não deixei de fazer o que fazia. As carícias eram mais fortes que o medo
de ser flagrado. Também não mais falei com ele. Por falta de oportunidade. Não
por desavença.
Assim como não a tenho com outros “olhos” (os paralelepípedos) que a
tudo viram. Eu ainda vou “conversar” com eles. Será que eles vão me denunciar –
dizer o que já fiz? É claro que não! Eles são de “boa paz”. Mas, infelizmente,
os bons morrem primeiro.
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