segunda-feira, 13 de junho de 2016

BANCO GUARDA-VALORES OU GUARDA-GENTE? POR BEBETO ALVIM


Trimmm.

Sexta-feira. Dezenove horas. Já devia estar longe. Atendi:

-- BANERJ, boa noite. Bebeto falando.
-- Quem fala? (Sem alô. Sem boa-noite. Sem se identificar. A respiração arfada evidenciava nervosismo na pessoa que estava do outro lado da linha. A voz entrecortada denotava ansiedade. Não a reconheci de pronto.)
-- É o Bebeto (voltando a me identificar).
-- Bebeto, Você precisa me ajudar! (Os decibéis e a tremulação aumentavam.)
-- Calma, cara! Quem está falando?
-- É o Geraldo, do Nacional (banco). Você precisa me ajudar!
-- Calma, Geraldo! O que está acontecendo?
-- Estou preso!
-- Como preso? Explique-se e eu ajudo. (Notava-se um arrefecimento no seu nervosismo.)
-- Todos já tinham ido embora e eu fui passar à Matriz o resumo do dia, que, por conter informações confidenciais, é transmitido pelo telefone de segurança dentro do guarda-valores.
-- E...
-- A porta bateu e eu não consigo abrir. Já tentei ligar para o João Carlos, para o Zica, para a Elcy... Não consigo falar com ninguém.
-- Mas como eu vou entrar na agência?
-- A grade está arriada e a porta de vidro encostada - não estão trancadas. Só tem uma lâmpada acesa (ambiente em penumbra) para que da rua não percebam que ainda tem gente aqui dentro.

Dirigi-me para lá (poucos metros). Realmente, não encontrei empecilhos para entrar. O problema foi a porta do guarda-valores. Não tinha jeito de abrir. Não me lembro onde consegui algumas ferramentas. Recordo-me de retirar os pinos das dobradiças e remover a porta inteira.

Assim que o fiz, fui abalroado por algo que se assemelhava a um bólido, que, continuando a sua trajetória, passou por cima de mesas e cadeiras (como o “The Flash”), pulou o balcão (como um ginasta do “cavalo” das Olimpíadas) e atravessou a porta e a grade (como Houdini).

Fui atrás dele, mas não o vi. Sentei-me no meio-fio, debaixo dos oitis (oitizeiros), pois estava extenuado pelo esforço – camisa arregaçada e suada e a gravata desenlaçada.

O Geraldo (lá de Cataguases) era branco-leite. Não sei como ele ficou ainda mais branco. Trêmulo e suado, sai ele do Bar Leader (em frente) com duas garrafas de água mineral – uma ele levava à boca e a outra despejava sobre a cabeça.

Vem chegando o João Carlos, com aquela sua calma peculiar (típica da fleuma britânica). Esboça um sorriso, do tipo “amarelo”, e atiça o Geraldo, que esbraveja: “Porque não foi com você, cara! Porque não foi com você, cara! E se ninguém me atende ou se o telefone não funcionasse. Se ninguém pensasse em “abrir” o Banco, eu passaria todo o fim de semana naquele cubículo, como um condenado na solitária.”

Debaixo dos oitis, os dois ficaram a discutir estratégias para evitar futuros problemas idênticos. Sorrateiramente, levantei-me, e, sem me despedir, dirigi-me ao Bar Mocambo (do Nêgo Constâncio). Lá, eu me aliviaria daquela quentura (própria de uma canícula) e contaria à turma do BANERJ o tragicômico ocorrido. 

  




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