Trimmm.
Sexta-feira.
Dezenove horas. Já devia estar longe. Atendi:
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BANERJ, boa noite. Bebeto falando.
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Quem fala? (Sem alô. Sem boa-noite. Sem se identificar. A respiração arfada
evidenciava nervosismo na pessoa que estava do outro lado da linha. A voz
entrecortada denotava ansiedade. Não a reconheci de pronto.)
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É o Bebeto (voltando a me identificar).
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Bebeto, Você precisa me ajudar! (Os decibéis e a tremulação aumentavam.)
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Calma, cara! Quem está falando?
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É o Geraldo, do Nacional (banco). Você precisa me ajudar!
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Calma, Geraldo! O que está acontecendo?
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Estou preso!
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Como preso? Explique-se e eu ajudo. (Notava-se um arrefecimento no seu
nervosismo.)
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Todos já tinham ido embora e eu fui passar à Matriz o resumo do dia, que, por
conter informações confidenciais, é transmitido pelo telefone de segurança
dentro do guarda-valores.
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E...
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A porta bateu e eu não consigo abrir. Já tentei ligar para o João Carlos, para
o Zica, para a Elcy... Não consigo falar com ninguém.
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Mas como eu vou entrar na agência?
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A grade está arriada e a porta de vidro encostada - não estão trancadas. Só tem
uma lâmpada acesa (ambiente em penumbra) para que da rua não percebam que ainda
tem gente aqui dentro.
Dirigi-me
para lá (poucos metros). Realmente, não encontrei empecilhos para entrar. O
problema foi a porta do guarda-valores. Não tinha jeito de abrir. Não me lembro
onde consegui algumas ferramentas. Recordo-me de retirar os pinos das
dobradiças e remover a porta inteira.
Assim
que o fiz, fui abalroado por algo que se assemelhava a um bólido, que,
continuando a sua trajetória, passou por cima de mesas e cadeiras (como o “The
Flash”), pulou o balcão (como um ginasta do “cavalo” das Olimpíadas) e
atravessou a porta e a grade (como Houdini).
Fui
atrás dele, mas não o vi. Sentei-me no meio-fio, debaixo dos oitis
(oitizeiros), pois estava extenuado pelo esforço – camisa arregaçada e suada e
a gravata desenlaçada.
O
Geraldo (lá de Cataguases) era branco-leite. Não sei como ele ficou ainda mais
branco. Trêmulo e suado, sai ele do Bar Leader (em frente) com duas garrafas de
água mineral – uma ele levava à boca e a outra despejava sobre a cabeça.
Vem
chegando o João Carlos, com aquela sua calma peculiar (típica da fleuma
britânica). Esboça um sorriso, do tipo “amarelo”, e atiça o Geraldo, que
esbraveja: “Porque
não foi com você, cara! Porque não foi com você, cara! E se ninguém me atende
ou se o telefone não funcionasse. Se ninguém pensasse em “abrir” o Banco, eu
passaria todo o fim de semana naquele cubículo, como um condenado na solitária.”
Debaixo
dos oitis, os dois ficaram a discutir estratégias para evitar futuros problemas
idênticos. Sorrateiramente, levantei-me, e, sem me despedir, dirigi-me ao Bar
Mocambo (do Nêgo Constâncio). Lá, eu me aliviaria daquela quentura (própria de
uma canícula) e contaria à turma do BANERJ o tragicômico ocorrido.
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