terça-feira, 14 de junho de 2016

QUANDO DUAS DOSES DE UÍSQUE VALIAM POR "SESSÕES DE PSICOLOGIA" - POR JOSÉ MARIA DE AQUINO

Brasil na Copa de 1958
Toda vez, ou quase isso, que a Seleção Brasileira de futebol dá uma balançada – e faz bom tempo que vem no balança e quase cai -, volta à cena o engenheiro e motivador Evandro Mota, para desespero do amigo, professor de psicologia, João Ricardo Lebert Cozac.

Palestras motivacionais ajudam a melhorar o desempenho de jogadores? Sim ou não? Em caso positivo, quanto e quando?

Leigo no assunto fico de banda. O máximo que poderia colocar, é que quando o time está embalado, um papo bem colocado ajuda a aumentar o ritmo. É como carro engatado na  ladeira. Mas, e quando não está?  O que fazer? Um trabalho a longo, médio ou curto prazo? E se não há tempo para o longo ou mesmo o médio?

Mais uma vez me calo. Passo a bola para quem quiser chutar. Sem antes deixar de lembrar o que dizia o bom técnico Otto Glória, brasileiro que dirigiu a seleção portuguesa na Copa da Inglaterra, 1966, eliminando o Brasil e terminando em terceiro. Otto Glória dizia que “sem ovos não se faz omeletes”. Mais claro impossível.

Oto Glória foi o primeiro treinador brasileiro a enfrentar a seleção
de seu país natal em uma Copa do Mundo. 
Às vezes as afirmações trazem os resultados como alicerce: o time venceu, o trabalho foi perfeito. O time perdeu, o trabalho foi ruim. Em tempos remotos, velhos técnicos, ex-jogadores, agiam como paizão, duros, enérgicos, até ameaçadores, e eram glorificados.

Telê Santana deu cinco minutos para Macedo tirar as trancinhas que o cabeleireiro tinha gasto duas horas para fazer. Disse ao Müller que ele não jogaria contra o Milan, na final do Mundial de clubes, porque desobedeceu suas ordens, e o fez  passar horas se lamuriando na porta do seu quarto.

Osvaldo Brandão proibia jogadores de comprar carrões e mostrava uma chave de apertar parafusos para Romeu Cambalhota, dizendo que apertaria os miolos dele, se não voltasse para marcar o lateral, quando o time fosse atacado.

Claro que quando o time ditava o ritmo, o técnico inteligente mudava o tom da conversa. No Santos que tinha Zito para comandar em campo (mais Pelé e cia para marcar gols), o sábio Lula se limitava a, como maldosamente diziam, distribuir as camisas.

E Zagallo, na Seleção da Copa de 70, a ouvir os conselhos de Pelé, Gérson e Carlos Alberto Torres, deslocando Jairzinho para a ponta, dando vaga a Tostão e Rivelino.

O ponto alto da atuação dos “psicólogos práticos” ouvi de Paulo Machado de Carvalho (numa das muitas tertúlias vividas em tardes fagueiras, na Federação, época em que o máximo que os cartolas faziam de errado, era enganar as patroas, dizendo a elas que a reunião tinha demorado, quando passavam algumas horas de lazer no apartamento da Rua Jaceguai): o velho Marechal da Vitória contou, entre tantas, que um jogador importante na Seleção campeã de 58, tinha a mania de várias vezes ao dia, beijar a bandeira nacional, colocada no hall de entrada do hotel onde se hospedavam. Beijava demoradamente e parecia chorar. Preocupado com o estado emocional do craque, doutor Paulo decidiu beijar o pavilhão nacional, e descobriu que estava batizado por lança-perfume (!). Longe de dar bronca, chamou o jogador para o bar e pediu duas doses de uísque. Insistiu para que ele tomasse uma, chegou mesmo a ordenar, e, depois, para que mandasse brasa na outra. Sessão terminada deu a receita. Estava autorizado a pedir quantas doses quisesse, mas que parasse de beijar a bandeira. Não, não disse ao craque a razão.


Leigo na questão, como disse, fico pensando se o chefe atual é dos bons e se os ovos não são de codorna.

Texto do site No Ângulo.  

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