Brasil na Copa de 1958 |
Toda vez, ou quase isso, que a Seleção Brasileira de futebol dá uma
balançada – e faz bom tempo que vem no balança e quase cai -, volta à cena o
engenheiro e motivador Evandro Mota, para desespero do amigo, professor de
psicologia, João Ricardo Lebert Cozac.
Palestras motivacionais ajudam a melhorar o desempenho de jogadores? Sim
ou não? Em caso positivo, quanto e quando?
Leigo no assunto fico de banda. O máximo que poderia colocar, é que
quando o time está embalado, um papo bem colocado ajuda a aumentar o ritmo. É
como carro engatado na ladeira. Mas, e quando não está? O que
fazer? Um trabalho a longo, médio ou curto prazo? E se não há tempo para o
longo ou mesmo o médio?
Mais uma vez me calo. Passo a bola para quem quiser chutar. Sem antes
deixar de lembrar o que dizia o bom técnico Otto Glória, brasileiro que dirigiu
a seleção portuguesa na Copa da Inglaterra, 1966, eliminando o Brasil e
terminando em terceiro. Otto Glória dizia que “sem ovos não se faz omeletes”.
Mais claro impossível.
Oto Glória foi o primeiro treinador brasileiro a enfrentar a seleção de seu país natal em uma Copa do Mundo. |
Às vezes as afirmações trazem os resultados como alicerce: o time
venceu, o trabalho foi perfeito. O time perdeu, o trabalho foi ruim. Em tempos
remotos, velhos técnicos, ex-jogadores, agiam como paizão, duros, enérgicos,
até ameaçadores, e eram glorificados.
Telê Santana deu cinco minutos para Macedo tirar as trancinhas que o
cabeleireiro tinha gasto duas horas para fazer. Disse ao Müller que ele
não jogaria contra o Milan, na final do Mundial de clubes, porque desobedeceu
suas ordens, e o fez passar horas se lamuriando na porta do seu
quarto.
Osvaldo Brandão proibia jogadores de comprar carrões
e mostrava uma chave de apertar parafusos para Romeu Cambalhota,
dizendo que apertaria os miolos dele, se não voltasse para marcar o lateral,
quando o time fosse atacado.
Claro que quando o time ditava o ritmo, o técnico inteligente mudava o
tom da conversa. No Santos que tinha Zito para comandar em campo (mais Pelé e
cia para marcar gols), o sábio Lula se limitava a, como maldosamente
diziam, distribuir as camisas.
E Zagallo, na Seleção da Copa de 70, a ouvir os conselhos de Pelé,
Gérson e Carlos Alberto Torres, deslocando Jairzinho para a ponta, dando vaga a
Tostão e Rivelino.
O ponto alto da atuação dos “psicólogos práticos” ouvi de Paulo Machado
de Carvalho (numa das muitas tertúlias vividas em tardes fagueiras, na
Federação, época em que o máximo que os cartolas faziam de errado, era
enganar as patroas, dizendo a elas que a reunião tinha demorado, quando
passavam algumas horas de lazer no apartamento da Rua Jaceguai): o velho
Marechal da Vitória contou, entre tantas, que um jogador importante na Seleção
campeã de 58, tinha a mania de várias vezes ao dia, beijar a bandeira
nacional, colocada no hall de entrada do hotel onde se
hospedavam. Beijava demoradamente e parecia chorar. Preocupado com o estado
emocional do craque, doutor Paulo decidiu beijar o pavilhão nacional, e
descobriu que estava batizado por lança-perfume (!). Longe de dar bronca,
chamou o jogador para o bar e pediu duas doses de uísque. Insistiu para que ele
tomasse uma, chegou mesmo a ordenar, e, depois, para que mandasse brasa
na outra. Sessão terminada deu a receita. Estava autorizado a pedir
quantas doses quisesse, mas que parasse de beijar a bandeira. Não, não disse ao
craque a razão.
Leigo na questão, como disse, fico pensando se o chefe atual
é dos bons e se os ovos não são de codorna.
Texto do site No Ângulo.
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