Nota do blog: uma crônica linda e de uma emoção tamanha que os saudosos Nelson Rodrigues e Armando Nogueira assinariam quantas vezes fossem necessárias.
"Cara, quando eu te conheci não sabia sequer falar
corretamente, era trazido pelo Nijel ou pelo Alvinho, hoje estou aqui, já
grandão, falando em você, sobre você e praticamente conversando com você, que
durante alguns anos me deu um punhado de alegrias. Alguém falou em tristeza?
Não, jamais fiquei triste ao lado deste velho moço, que está recebendo nova
roupa e se porta como se tivesse novamente poucos meses de vida.
Quantas vezes cheguei aqui solitário, falando
baixinho para você, que um dia seria famoso e jogaria em um grande time
brasileiro? Quanta ilusão. Você não respondia. Ficava calado. Seu silencio
parecia prever que nada disto aconteceria.
Você viu passar por aqui o grande Lauro Carvalho, que cracaço, o Milton Cabeludo, meu primeiro ídolo do futebol, viu nascer a geração Rink, lideradas pelo incrível, e gordo, Chiquinho Maracanã, viu nascer o Tupan, onde o meu velho pai, Zebinho, jogava ao lado de craques como Olavo Cueca, Noqueta e tantos outros da geração anos 20, não poderia pensar que este pequeno e teimoso artilheiro teria tanto brilho.
Você viu passar por aqui o grande Lauro Carvalho, que cracaço, o Milton Cabeludo, meu primeiro ídolo do futebol, viu nascer a geração Rink, lideradas pelo incrível, e gordo, Chiquinho Maracanã, viu nascer o Tupan, onde o meu velho pai, Zebinho, jogava ao lado de craques como Olavo Cueca, Noqueta e tantos outros da geração anos 20, não poderia pensar que este pequeno e teimoso artilheiro teria tanto brilho.
Acertou meu camarada. Futebol foi a sério até o
início dos anos 70, depois disto só batalha para sobreviver e ser feliz em
outras bandas.
É cara, você está velho, ninguém jamais revelou a
sua idade, o José Maria de Aquino deve saber, mas parece que este
longo tempo de vida te fez bem. Muitos destes craques já se foram e você aí, de
pé, forte como um touro e com tanta gente querendo te melhorar, te dar um toque
moderno, uma roupa nova.
Você é um privilegiado, viu alguns jogadores, que
se atuassem nos dias de hoje seriam considerados craques fantásticos ou até
mesmo fenômenos. Você se lembra do Silvinho, do Braizinho, do Frederico, do
Edil, do Ademir, do Júlio, do Chiquinho?
Lembra-se do time do Vasquinho, criado pelos
fanáticos vascaínos Edson e Clarindo? Claro que se lembra, foram estes que
brilharam no período em que o futebol brasileiro tinha jogadores do nível de Garrincha,
Pelé, Zico, Rivelino e tantos outros, por isto ficaram por aqui, brilhando no
terreno doméstico.
Ali em cima, naquela laje que cobre os vestiários,
começamos a conversar via rádio, a nossa Princesinha não foi a pioneira, o
Clóvis Helsinque, com sua turma da Rádio Emissora de Miracema, já havia
conversado com você há alguns anos atrás, mas falar para toda região eu
acredito que nós, eu, Zé Luis da Silva, Chico David, Fernando Nascimento, Paulo
Joel e Welington Ronzê fomos os primeiros, depois vieram os comandados do bom
Gelti Rodrigues, mas levar você a um estrelato jamais imaginado, eu duvido que
alguém tenha feito mais do que a nossa equipe de esportes, que até promoveu
eventos, lotando as suas arquibancadas com jogos da Copa Noroeste. Saudades?
Claro que sim, garanto que você também as tem.
É meu camarada, estamos ficando velho. Hoje eu me
emociono só em lembrar que este seu belo gramado já foi destruído por uma
Exposição Agropecuária, em 64, foi uma revolução. Naquele tempo o Campo do
América não era lá grandes coisas e o Ferradurão ainda não havia nascido para
te fazer companhia, e por isto a turminha do time do Bitico brigou pra caramba,
mas tudo bem, o Seu Jamil Cardoso estava bem intencionado e a Exposição pegou e
virou sucesso nacional.
O tempo é cruel, meu caro, quando saí daqui, em 85,
eu acreditei ter plantado uma base para que o futebol voltasse a crescer, mas
infelizmente o Maninho se foi e com ele foram as esperanças de ver novamente
você entrar em ação e nos apresentar belos espetáculos como aquele dos anos 60,
quando o Flamengo veio aqui com seu juvenil extraordinário, Gerson, Beirute e
Germano eram garotos e craques, enfrentar uma seleção miracemense cuja
principal estrela era nada mais do que o fantástico Ademir Menezes, artilheiro
da Copa de 50, amigo de Jofre Salim, que o trouxe para nos brindar, pelo menos
por alguns instantes, com a sua magia fenomenal.
Olha, meu caro, por aqui vi coisas incríveis e que
se contadas podem soar como piadas. O Polaca tem um repertório maior e este
homem deveria ter um busto no saguão de entrada desta casa. Imagine você que o
Jair Polaca, o maior futeboleiro da cidade, jamais foi lembrado por isto,
talvez esteja sendo homenageado agora nesta re-inauguração, mas na cabeça e na
memória de todos nós o Polaca será sempre o maior de todos, não por sua bola,
mas por seu amor ao futebol e a seu Miracema FC.
Você me pergunta e eu respondo, vamos lá,
quais são as suas dúvidas e quais foram os melhores que você já viu nestes anos
de amor ao futebol? Vamos lá, não vacile. -Sei não, acho que não vou entrar
nesta sua pilha. Parece que estou ouvindo uma voz saindo do coração do
velho/novo Estádio Municipal. Quando fiz esta colocação senti que teria uma
resposta assim: - Tem tanta gente boa que passou por aqui antes da sua geração,
que prefiro não citar nomes. Eu vi um punhado de gente da melhor qualidade, que
se não forem colocados nesta conversa seria injustiça, e como seria quando os
encontrasse em um plano superior a este?
Tá certo, meu caro, os craques que por aqui jogaram teriam lugares assegurados na galeria de fotos a ser inaugurada, quem sabe na próxima festa, logo ali na sua entrada principal. Estou certo de que um dia veremos esta justa homenagem aos ídolos nativos. Vou indo, já é tarde e falamos bastante.
Está chegando gente e daqui a pouco irão pensar que
estou louco, alguns até já pensam, mas se me virem conversando contigo irão
dizer que pirei de vez. Um abraço meu velho e bom amigo Estádio Municipal
Plínio Bastos de Barros. Pensei que falava sozinho quando de repente ouvi um
sursuro: Vá com Deus Penacho. Aí, meu caro. Eu chorei."
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