Em um
trabalho particular de pesquisa sobre futebol, encontrei duas reportagens que
foram publicadas na extinta revista Esporte Ilustrado, na década de 40, sobre o
esporte em nossa cidade.
Nota: tenho
a impressão que o senhor José Naegle – depois de ler a matéria publicada em
agosto – resolveu escrever para a revista contando um pouco sobre a história do
esporte em Miracema até o ano de 1943.
Matéria da revista Esporte Ilustrado
nº 285, de 23 de setembro de 1943.
José Naegle escreveu para Esporte
Ilustrado:
- Onde vão vocês jogar?
- Em Miracema.
- Então digam-nos, na volta, por
quanto apanharam...
Eram assim os comentários que se
faziam nas estações da Leopoldina sempre que vinha a Miracema uma representação
futebolística de Niterói, Campos, Friburgo e mesmo do Rio... E os comentaristas
nem sempre ficavam só nos comentários porque vinham a Miracema, também, a fim
de terem as confirmações das próprias palavras. E não eram desmentidos. Lá isso não eram, não.
Flávio Costa, o atual e magnífico
“coach” do clube mais querido do Brasil, experimentou, em Miracema, o amargor
da derrota, lutando pelo “Gragoatá”, de Niterói, ao lado de Alemão, Bibi, Luiz,
Lima, Acir, Almeida e etc. Outros e vários gigantes da pelota aqui vieram e
foram derrotados de forma convincente pelo Miracema F. C., cujo quadro formava
assim: Amadeu (Aimoré), Ademar e Capeta; Ari, Jorge e Pergentino; Nestrala,
Gentil, Bibino (Gazeta), Agrícola e Amaro Silveira. Que time de futebol! Uma verdadeira máquina com as peças ajustadas
e funcionando 100% bem! Chicrala Amim, Chicrala Salim, Wady Miguel, Marcelino
Pereira Tostes, João Antunes Siqueira, Francisco L. Homem, Eudorico Manoel
Alves e outros entusiastas do “velho futebol”, como diz o Cosi, davam tudo de
si em prol do bom nome esportivo de Miracema, mantendo a forma técnica e física
dos defensores do glorioso campeão invicto do norte fluminense.
Tudo ia muito bem até que um dia... O
fim chegou, repentinamente, sem que ninguém o esperasse. Houve um jogo, o último do campeão, contra o
“Ordem e Progresso”, de Bom Jesus do Itabapoana. Houve uma certa camaradagem a
princípio, a que o povo chamou de “arranjos de compadres”, e o escore chegou a
2 a 1, pró visitantes... Depois tudo dava certo para eles e a nossa turma “não
dava uma dentro”. Final: 2 a 1 contra o campeão! Cenas de desespero viam-se no
campo da Av. Carvalho após o apito final. E estava escrita a última página da
história do campeão invicto do norte fluminense.
O povo acusou a diretoria de ter
agido mal, fazendo camaradagem com os visitantes: acusaram-se jogadores e o
desânimo pôs um ponto final na vida gloriosa do mais perfeito quadro de futebol
que, talvez, já se tenha organizado no interior do país. Cessando o Miracema F.
C. as suas atividades, o seu grande rival e não menos glorioso América F. C.,
fundado por Oscar Barroso, ex-campeão do América F. C., do Rio, recolheu a sua
bandeira e foi passado um atestado de óbito ao desporto miracemense.
Tempos mais tarde eu e o Galieta organizamos
o Independência, transformado, depois, no E. F. C., que teve uma história
razoável, pelejando ao lado de Flamengo, Fluminense e Comercial no campeonato
miracemense de futebol, realizado pela Associação Miracemense de Esportes
Atléticos, filiada à Liga Esportiva Norte Fluminense. Nesse período tivemos um
futebol menos poderoso, no entanto ainda se fez alguma coisa apreciável, inclusive
a organização do selecionado da L. E. N. F., que deu trabalho ao de Niterói, em
pelejas memoráveis, aqui e na capital fluminense.
Depois o desânimo voltou e o desporto
miracemense caiu em profundo marasmo, de nada valendo os esforços hercúleos de
um Waldemar Viana, instrutor do T. G. 274, que chegou a fundar, aqui, um Centro
de Educação Física, em magníficas condições. Mas os desocupados chegaram ao
ponde de depredarem a obra que ele organizara com o concurso dos bons
miracemenses e tudo caiu de novo, no marasmo, nem se falando mais em esportes
entre nós.
Rubens Carvalho, Olavo Monteiro de
Barros, Gerson Alvim, Alfredo Damian, Oldemar Machado, Orterige Granato, e etc.,
de quando em vez tentavam levantar o esporte, auxiliado pelo conhecido “coach”
Aniceto Carvalho, mas tudo em vão. É que havia muita pressa em fazer jogos e as
derrotas eram acachapantes, verdadeiramente desanimadoras. A última excursão da
série intentada pela dupla Rubem-Olavo foi a Carangola e o desastre foi sem
precedentes.
Estava assim o desporto miracemense
quando regressei de Leopoldina e organizei o Clube Esportivo Miracemense,
auxiliados pelos bons desportivas que nunca se deixaram vencer pelo desânimo. Havia
aqui apenas o movimento isolado de Nésio, Dizinho, Gabeto, Saulo, Rocha e etc.,
no Ginásio, assim mesmo “neca” de futebol...
O Clube Esportivo Miracemense
desfraldou a bandeira alvinegra do antigo campeão, e chamou os nossos
desportistas para a obra de ressurgimento esportivo de Miracema. Com a chegada
do técnico Manoel Soutinho da Cruz, do Profº Manoel Ramos Júnior, e com o
entusiasmo sadio das professoras de Educação Física, conseguimos organizar
times de voleibol masculino, feminino, de basquetebol e de futebol e lá estamos
com a Liga Miracemense de Desportos fundada, pronta a filiar-se à F. F. D. e
contando nada menos que seis clubes pertencentes aos três distritos de que se
compõe o nosso município.
O nosso sexteto de voleibol feminino
é o mais poderoso do norte fluminense: o masculino, treinado a contento, não
tem competidor, também, na região em que estamos colocados. Vamos dar início
aos torneios de voleibol, basquetebol e futebol dentro de alguns dias, visando
ainda às disputas dos campeonatos que são instituídos, atualmente, pela F. F.
D.
É o caso, porém, de se perguntar:
poderá Miracema recuperar a hegemonia esportiva do norte fluminense? Cremos que
sim e é para isso que estamos lutando, denodadamente, contando com a
colaboração de todos os miracemenses, não só os que aqui estão, mas, também dos
que estão fora, como Aymoré, Zezé, Aderbal, Geraldo Neves, Aírton e Jurandir,
etc.
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