O
jornalista Geneton Moraes escreveu um livro, Dossiê 50, lançado em 2000, e
entrevistou todos os titulares daquela decisão de 1950. Abaixo, um trecho do
depoimento de Friaça publicado na referida obra:
Albino
Friaça Cardoso tinha 25 anos, oito meses e 26 dias quando realizou o sonho de
fazer um gol numa final de Copa do Mundo dentro de um Maracanã superlotado. O
gol saiu logo no primeiro minuto do segundo tempo. O Maracanã enlouqueceu.
Friaça também.
... A
emoção foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César
de Alencar, o locutor. Quando a bola estava lá dentro, ele gritou: “Friaça,
você fez o gol!” Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois
caímos dentro da grande área.
Louco de
alegria, Friaça só se lembra com clareza do rosto de César Alencar.
... Passei
uns trinta minutos fora de mim. Eu não acreditava que tinha feito o gol. Eu
tinha potencial, mas estava ao lado de craques como Zizinho, Ademir e Jair. E
logo eu que fiz o gol.
Se o
Brasil precisava apenas de um empate, então o jogo estava liquidado: a Seleção
ia ser campeã do mundo.
... Ali
nós já éramos deuses – admite Friaça.
Friaça só
não poderia imaginar que outras cenas inacreditáveis iriam acontecer ali – além
da queda do César Alencar dentro da grande área, numa explosão de alegria. Consumada a tragédia brasileira diante da
maior platéia até hoje reunida par um jogo de futebol, a dor da derrota desnorteou
o autor do gol do Brasil.
...
O trauma foi enorme. Vim para o Vasco. Fiquei, em companhia de outros
jogadores, andando de noite em volta do campo, ali na pista. O assunto era um
só: como é que a gente foi perder com um gol daqueles?
Depois
das voltas inúteis em torno do campo do Vasco naquela noite de domingo, Friaça pirou.
... Só me
lembro de que a gente subiu para o dormitório. Eram umas onze da noite. Troquei
de roupa e me deitei.
...
Não me lembro de nada do que aconteceu depois. Quando dei por mim, por incrível
que pareça, eu estava em Teresópolis, no meu carro. Passei pela barreira, fui
para um hotel.
...
Quando me perguntaram: “Friaça, o que você quer?” Eu simplesmente não sabia
onde estava. Só sabia que estava embaixo de uma jaqueira, no terreno do hotel.
Não sei como é que saí com meu carro da concentração. Não sei como é que fui
bater em Teresópolis.
...
Um médico que era prefeito de Teresópolis é que me deu uma injeção. Comecei, a
saber, onde é que me encontrava uns dois dias depois. A minha família, em
Porciúncula, estava atrás de mim, sem saber onde é que eu estava. O pior é que eu também não sabia. De 64 quilos
eu passei para 59.
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