segunda-feira, 22 de agosto de 2016

OS MOREIRAS ESTÃO NAS RUAS: 2ª PARTE


Nota do Blog: entrevista concedida ao Jornal da Tarde, de São Paulo, em 7 de dezembro de 1966. 



AYMORÉ JÁ TEM SUA ROÇA

No meio dos irmãos, Aymoré Moreira continua sendo aos 54 anos o mesmo Zico dos 18 anos que a cunhada Maria Helena conheceu no Rio quando ainda namorava Zezé. Brinca muito, tem um jeito simples de homem que gosta de viver na roça. A cunhada nem acreditava que ele fosse vencer no futebol, sempre pensou que um dia largasse tudo para criar cavalo num lugar qualquer do interior, andava sempre reclamando da correria da cidade grande.

Esse pensamento Aymoré reconhece que já teve mesmo, mas na hora que deixou de ser jogador para ser técnico descobriu que podia juntar o futebol e a vontade de morar no mato que sente desde que trabalhava na terra em Miracema.

Lá ele pensava também ser lutador de boxe, recortava toda fotografia de pugilista famoso que encontrava.  Mas o mais que lutou foi contra Aderbal, o irmão músico. Fazia de conta que era Gene Tney, seu ídolo, contra Jack Dempsey.

Nas brigas de turma quase não entrava, deixava as confusões para Zezé, valentão do bairro. Só o turco Amim, da esquina da Rua do Correio, era mais forte que Zezé. Morreu outro dia num desastre  de automóvel na Rio-Petrópolis. Aymoré soube pelos jornais, fica sério quando conta. Zezé e Aírton até param de conversar para ouvir.  

Aymoré como Zezé foi cabo eleitoral do avô coronel José Carlos Moreira. Tocava sanfona, diz que só arranhava, se fosse viver de música como Aderbal morria de fome. Era ladrão de frutas no quintal dos vizinhos. Lembra-se do pai Alfredo como um velho bravo que nem podia ouvir falar de futebol. Perdeu a conta das brigas que teve com ele. A mãe, dona Antonieta, não ligava. Morreu cedo, Aymoré tinha só 19 anos.

Aymoré também usa Dietil para não engordar muito, mas não liga para a elegância, é difícil vê-lo de gravata. No sítio de Taubaté, gastou 16 milhões, não se incomoda, acha que lá tem tudo que sempre quis.

Quer ver Zezé e dona Maria Helena no sítio quando o campeonato acabar, bem ao lado da casa tem dois apartamentos térreos, só para visitas. Em janeiro fica pronta piscina, Aymoré gasta um tempo enorme promovendo seu sítio, falando de suas plantações: batata, arroz, pêssego e até de café.  Parece um fazendeiro e é mesmo, tem uma fazenda perto de Botucatu.  Nela não planta nada, só cria cavalos, quase todos puro sangue de corrida.

Aymoré que saber dos sobrinhos, Paulo, Marcos e Júlio, filhos de Aírton e da cunhada Ione. Acha ruim Aírton não tê-la trazido para São Paulo. Aírton diz que a mulher não gosta muito daqui. Aymoré não responde, continua falando até a hora da despedida:

- Sabe Maria, é só lá no sítio ou na fazenda que me sinto bem mesmo. Quando tem algum problema grande, levanto de madrugada, faço café e deito na rede. Sempre encontro uma solução. Pode acreditar, nunca houve um dia que me deitasse na rede e saísse com o mesmo problema, nunca. 

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