Vinte e quatro anos
após a chegada da primeira bola ao Brasil, trazida da Inglaterra pelo estudante
Charles Miller, nascia no interior do estado do Rio, em 25 de junho de 1918,
mais precisamente no distrito de Miracema, à época pertencente ao município de Santo
Antônio de Pádua, Alcyr Fernandes de Oliveira. Maninho, como era carinhosamente
tratado, apesar de todas as dificuldades da vida interiorana, cresceu ouvindo
as histórias que chegavam da capital sobre o novo esporte que já começava a ser
destaque nos noticiários, mesmo que timidamente, e que já era disputado um
Campeonato Metropolitano desde 1906. O futebol, então, começou a fazer parte de
sua infância e o desejo de se tornar jogador foi amadurecendo com o passar dos
anos.
A juventude chegou e
com ela Maninho partiu para realizar o sonho de criança. Miracema ficou pequena
e a cidade mineira de Leopoldina, na Zona Mata, recebeu de braços abertos o
jovem jogador que, aos 21 anos, começou a sua trajetória defendendo as cores do E.
C. Ribeiro Junqueira, um time quase imbatível naquela época em toda a região.
Até hoje tem o seu nome reverenciado na história do clube, junto aos demais
companheiros que formaram, senão o melhor, um dos maiores esquadrões do Ribeiro
Junqueira.
Em 2011, nas comemorações do centenário, Maninho foi homenageado
pelo clube mineiro. Representado pelo seu filho – Celso – foi entregue uma
placa comemorativa pela sua atuação no “ESCRETE DE OURO”, na década de 40. São
poucos os clubes profissionais do Brasil que reverenciam e prestam homenagens aos seus ídolos.
Com relação a esse time
do Ribeiro Junqueira, o Brasil ficou conhecendo sua fama através dos
depoimentos de Telê Santana. Na preparação para a Copa do Mundo de 82, na
Espanha, nas páginas da revista Placar, o ex-técnico lembrou aquele time que
tanto marcou a vida do menino Telê – com técnica e talento ao lado de tática e
preparo físico. Doze anos depois, mais precisamente em 28 de agosto de 1994, em
uma entrevista concedida ao Jornal do Brasil, Telê voltou a citar que foi
inspirado nesse time que brilhou no interior de Minas, na década de 40, que ele
montou a Seleção de 82 e o São Paulo campeão mundial interclubes de 92: Manganga, MANINHO e Baptista; Itim, Domício
e Quadrado; Vicente, Geraldinho, Daher, Caturé e Elair. Assim ele descreveu: “Eu digo que, aos 11 anos de idade, vi um time jogar lá na minha terra,
em Itabirito, e nunca mais esqueci a sua escalação. Fiquei abismado ao ver um
time jogar tão bem, eles jogavam por música. O time era o Ribeiro Junqueira, de
Leopoldina, no interior de Minas Gerais, e tinha a camisa parecida com a do
Flamengo. Esse time jogou em todo o interior de Minas e ganhou de todo mundo”. Essa
história ficou tão marcante em sua vida, que na sua biografia “Fio de
Esperança”, tem um tópico dedicado ao Ribeiro Junqueira.
Voltando aos anos 40 e
na sequência de sua carreira, Maninho assinou contrato com o Bonsucesso, do
Rio, em 20 de fevereiro de 1940. No Bonsuça jogou ao lado do argentino Armando
Renganeschi, que mais tarde se tornou técnico. Em julho de 1943, em ofício
enviado à Federação Metropolitana de Football, solicita a sua transferência do
Bonsucesso para o Americano F. C., de Campos, filiado à Federação Fluminense de
Desportos. Aos 29 anos, ele foi submetido a uma delicada cirurgia na válvula mitral
– em 1947 –, uma das primeiras do gênero a ser feita no Brasil. Estava
encerrada a sua carreira.
Tupan |
Depois de residir no
Rio de Janeiro, retornou a Miracema em meados dos anos 60 e a paixão pelo
futebol continuava correndo em suas veias. A cidade contava com um seleto grupo
de craques e o apoio incondicional dos apaixonados por esse esporte. O futebol
praticado era disputadíssimo e com uma rivalidade à flor da pele. Nesse período
Maninho foi técnico do Tupan e da Associação. A ideia de assumir a Liga foi
amadurecendo e ele mergulhou de corpo e alma nessa nova empreitada.
Maninho presidiu a Liga
Desportiva de Miracema por muitos anos, sempre com dedicação, organização e
contando com o apoio incondicional da Federação Carioca de Futebol. Otávio
Pinto Guimarães e Eduardo Viana, ex-presidentes, eram amigos e mantinham uma
relação bastante estreita, de grande confiança, com Maninho. Otávio, inclusive,
foi padrinho de casamento de um de seus filhos – Celso. Maninho foi o
responsável por muitos anos pela sobrevivência do futebol miracemense. Ocupou
também, com a mesma determinação e eficiência, o cargo de delegado regional no
Noroeste Fluminense, representando todas as Ligas junto à Federação.
Depois de lutar com
problemas cardíacos por muitos anos, Maninho nos deixou em 05 de junho de 1994,
após sofrer um infarto dois dias antes.
Por essas coincidências do destino, morreu em um domingo, dia em que o
futebol, que ele tanto amou e dedicou grande parte de sua vida, é reverenciado
nos quatro cantos do mundo. Ele viveu 18 anos com três pontes de safena e teve
dez filhos: Diléa, Dilene, Silvio, Célio, Ione, Célia, Celso, Almir, Ceny e
Alcyr Filho, o Cici. O corpo foi velado na Câmara Municipal, com a presença de
grande número de pessoas consternadas pela perda irreparável de um cidadão que
muito fez pelo esporte, não somente de Miracema, mas de toda a região.
Dentre muitas coisas
boas que fez, deixando um legado de muito orgulho para seus filhos e demais
familiares, como também para o esporte de Miracema, Maninho indicou e levou
Célio Silva para fazer testes no Americano. O resto da história você já
conhece. Em uma matéria que fiz com Célio Silva para o blog, em maio de 2016,
ele fez questão de mencionar o Maninho na reportagem.
Nota: tenho contado um pouco da história de muitas personalidades aqui no blog, e sempre tive vontade de escrever sobre o Maninho, um grande desportista de Miracema. Foi um ser humano de fala mansa e muito dócil no contato com todos que se aproximavam dele. Era torcedor do Botafogo. Missão cumprida!
Nota: tenho contado um pouco da história de muitas personalidades aqui no blog, e sempre tive vontade de escrever sobre o Maninho, um grande desportista de Miracema. Foi um ser humano de fala mansa e muito dócil no contato com todos que se aproximavam dele. Era torcedor do Botafogo. Missão cumprida!
Esse tinha história pra contar. Parabéns pelo texto! Flávio Cerqueira.
ResponderExcluirELE ÉRA BOTAFOGUENSE DE CORAÇÃO
ResponderExcluirEle nunca foi torcedor do América ele era Botafageunse fanático
ResponderExcluirCorrigido.
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