Nas décadas de 30 e 40, Miracema era servida por comissários de
encomendas, pessoas estas que viviam viajando todas as semanas para o Rio de
Janeiro, levando e trazendo encomendas de todos os tipos, já que muitas pessoas
tinha dificuldade de viajar e mesmo não conheciam a capital. Não só traziam as
mercadorias pedidas, como também levavam linguiça e outros alimentos. Ainda
arranjavam pessoas para se empregarem na capital.
Esses comissários foram Luiz Galozio, sempre de óculos, terno e gravata,
casado na família Cavalcante; Nager, que ficava no José Ferreira de Assis e o
Marota, um gordo que trazia jornais para a nossa cidade e fazia o serviço de
comissário de encomendas de Campos a Miracema, mais tarde, na década de 40, o
Natalino Maulaz. Todos eles pela Estrada de Ferro. Pouco tempo atrás, o Paulinho, condutor de ônibus, após sair
da Rio Ita, trabalhou como comissário por vários anos.
Nager, certa ocasião, recebeu um pedido para trazer um São Jorge. Ao
chegar no Rio, esqueceu qual era o santo encomendado e trouxe um São Pedro. A
freguesa reclamou que o santo que havia encomendado andava a cavalo. Ele
respondeu prontamente: “Isso era antigamente, hoje, só andam de carro. Olha a
chave em sua mão.”
Lembro que o Natalino levou minha avó materna, juntamente com uma filha,
para trabalhar com cozinheira e copeira numa pensão na Rua Jogo da Bola, perto
do edifício A Noite. Em pouco tempo minha avó casou sua filha e em seguida
levou as outras seis, que também foram casadas e três delas vivem lá até os
dias atuais.
Natalino morava na Rua Adock Lobo 72, na Tijuca, perto de duas sapatarias,
uma chamada Ótima e a outra Formidável. Suas filhas ligavam o rádio diariamente
no programa do Cezar Alencar, aos sábados, onde cantava Marlene, e as
quartas-feiras, no programa Manoel Barcelos, onde cantava Emilinha Borba. No
programa do Manoel Barcelos tinha um propaganda que dizia “costa quente, rim
doente”. O mesmo dava um prêmio ao ouvinte de 500 mil reis a quem atendesse ao
telefone e desse a resposta: “tome Urudonal e viva contente”. O telefone tocou,
corre as sobrinhas para atender. Aconteceu que Tia Judite atendeu ao telefone e
respondeu: “se não tem o que fazer, vai procurar um serviço.” Tomou uma
esculhambação das sobrinhas que não ganharam os 500 tão esperados.
Excelente ! Bom lembrar tudo isto. Um dia passei numa rua antiga do centro do Rio e vi uma loja muito antiga, somente os letreiros, Galeria Silvestre, a galeria da luz, cliente da rádio Relógio que informava as horas, minuto a minuto.
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