Ao ser inaugurado na
Quinta da Boa Vista O zoológico, por Barão de Drummont, para premiar os seus frequentadores
ele instituiu um jogo, que mais tarde seria denominado jogo do bicho. Os frequentadores
do parque, ao pagarem o ingresso, recebiam uma pule numerada que correspondia
aos números de 1 a 25. Nos dias atuais seria como se pagasse 1 real e ao
acertar receberia 20 reais como prêmio.
Apareceram os banqueiros, que o aperfeiçoou, introduzindo
milhares, as centenas, os duques, milhares de centenas invertidas e os grupos.
Os números obedecem a uma ordem alfabética, de A ao V, onde os apostadores
jogam nos bichos de penas, nos bichos de chifre e nos da letra C.
Em décadas passadas chegou a Miracema o tal jogo, que tinha
como banqueiro uma mulher italiana, depois um fazendeiro e um outro banqueiro
chamado Antônio Neves. Mais tarde veio a Casas Martins, da cidade de Campos.
Existia na Rua Marechal Floriano a Amaral Loterias, de propriedade de Neném
Amaral, onde funcionavam seis cadeiras de engraxates. Neném deixava em cima do
balcão um livrinho onde se interpretavam os sonhos, para dar palpites para
fazer uma fezinha no jogo do bicho. No jogo do bicho, atualmente, seus
fregueses são pessoas de idade mais avançada, os mais novos preferem a
raspadinha, a loteria esportiva, a sena, o lotomania e as máquinas caça-níqueis.
Conhecíamos o João de Barros, jogador profissional que andava
sempre de terno preto e escrevia o jogo do bicho nos bares da cidade. Mas
voltando ao livrinho dos sonhos do Amaral, um viajante, hospedado no Hotel
Braga, leu o livrinho e falou: vou jogar um pouquinho no gato, saiu e foi
atender os seus fregueses. Voltando na parte da tarde, perguntou ao Neném o que
havia dado. Este respondeu que deu burro. “Depois que dá o bicho é que você vem
me contar o sonho?” disse Neném com aquela calma que lhe era peculiar. “Diz
você que sonhou com um gato caindo do telhado. Todo mundo sabe que gato não
cai, pode jogá-lo para cima que ele cai de quatro. Portanto, gato que cai é
burro, e você que não me contou o sonho, também é outro burro”.
Depois do distrito de Venda das Flores, tinha um comerciante
chamado Eudóxio, com pouca instrução, mas que bancava o jogo naquela região.
Costumava escrever o resultado em um quadro-negro pendurado na parede. Escrevia
o nome do bicho que havia dado e tampava com um papelão. Às três horas, tirava
o papelão e aparecia o resultado. Seu compadre Inhozinho prestava atenção
naqueles movimentos, até que um certo dia viu que o Eudóxio escrevia a primeira
letra, uma letra A, e disse que queria jogar. Prontamente, Eudóxio aceitou a
aposta, onde Inhozinho jogara na avestruz e na águia. Ao levantar o papelão,
estava escrito: alefante.
Os vendedores de bicho são chamados de corretores zoológicos
e em seus talões tem um aviso que diz: vale o que está escrito.
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