"Quer dizer que um
pouco de pelo de rato é tolerado?".
A resposta é sim.
A
legislação brasileira tolera a presença não só de pelo de ratos, mas também de
pedaços de moscas, baratas, aranhas, formigas, areia, pelo humano, teias e até
excrementos animais --desde que estejam dentro do limite estabelecido por lei. Quem
determina este limite é o RDC-14, um conjunto de leis criado em 2014 que
determina quanta "sujeira" é aceita num alimento sem que isso cause
problemas de saúde para o consumidor.
Ali diz quantos
fragmentos - ou seja, partes visíveis ou não a olho nu-- de matéria estranha
(insetos, excrementos, animais e pelos) pode haver no alimento. Antes, não
havia regulamentação para os limites de tolerância. Para se ter uma ideia, 100
gramas de molho de tomate podem ter até dez fragmentos de insetos (como
formigas e moscas) e/ou um fragmento de pelo de roedor.
Pelos de rato também
são toleráveis em frutas desidratadas (1 em cada 225 g de uva passa), chás
(2 em cada 25 g), especiarias (1 em cada 50 g de pimenta do reino) e
achocolatados (1 em cada 100 gramas).
Veja
alguns exemplos:
* Molho e extrato de
tomate, catchup e outros derivados: um fragmento de pelo de roedor a cada 100
g, dez fragmentos de insetos (como moscas e aranhas) a cada 100 g
*Doces em pasta e geleia
de frutas: 25 fragmentos de insetos a cada 100 g
* Farinha de
trigo: 75 fragmentos de insetos a cada 50 g
* Biscoitos, produtos de
panificação e confeitaria: 225 fragmentos de insetos a cada 225 g.
* Café torrado e moído:
60 fragmentos de insetos a cada 25 g
* Chá de menta ou
hortelã: 300 fragmentos de insetos em 25 g, cinco insetos inteiros mortos
em 25 g, dois fragmentos de pelos de roedor em 25 g
* Orégano: 20 fragmentos
de insetos em 10 g
Mas
isso é normal?
Para a especialista em
legislação, a produção de alimentos industrializados totalmente isenta de
fragmentos de insetos e outros animais é inviável.
Além disso, os animais
podem entrar em contato com os alimentos no transporte e no armazenamento,
antes de sua transformação na indústria. "Esta legislação tolera as
matérias estranhas inevitáveis, que ocorrem mesmo com adição de boas práticas e
em alguns alimentos especificamente", explica.
Não é só no Brasil que
é assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, o FDA (Food and Drug Administration),
órgão responsável pelo controle dos alimentos no país, aceita fragmentos de
animais em alimentos industrializados em níveis bem próximos aos nossos.
E
faz mal?
A existência de pelo de
rato e outros insetos nos alimentos, desde que dentro dos limites estabelecidos
pela Anvisa, não faz mal para a saúde. Segundo Ingrid, saber da existência do
pelo de rato no molho e tomate, por exemplo, causa repulsa, mas não dano.
"Os alimentos
industrializados são submetidos a processos que elevam sua temperatura, o que
ajuda a matar a maioria dos micro-organismos", explica.
Ingrid
Schmidt-Hebbel, coordenadora do Tecnologia em Gastronomia do Centro Universitário
Senac-Santo Amaro e especialista em legislação.
UOL Notícias
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