Quando eu era garoto pescava no ribeirão Santo Antônio, que
naquela época ainda tinha peixe. Depois de adulto jamais pesquei, mas convivi
entre amigos que são pescadores, e quando estavam preparando para a pescaria eu
via como lidavam com aquelas parafernálias para levar: gasolina, fogareiro,
molinete, anzóis, varas, ferramentas diversas, várias caixas de cerveja, material de cozinha, isopor, pinga, rede, remédio, barraca, gás,
lampião, repelente, poita, puçá, garatéias, canecão...
Os barcos eram adaptados em cima das carretas ou caminhão, com uma Brasília em cima, e sempre havia bate coca. Um ou outro estava fazendo a coisa errada, mas no final todos se entendiam. Entre esses pescadores, podemos destacar: José Heler, Manoel Badeco, Dimas, José Osvaldo, Woninho, Altair, Amim Amim, Juicy Bereta, Benedito Simem, Dr. Sebastião Miguel, Dr. Luiz Silva, Darcy Aníbal, José Torres, Dr. Reginaldo Rizzo, Jésus, Manteiga, Amadeu Poly, Tasso, Pedrinho, Lauro Quintal, Robson Bereta, Sérgio Salim, Márcio Menezes, Samuel, Caliça, Aragão, Duduca, Vicente Toscano, Sebastião Apolinário, Márcio Tostes e Joffre Salim, entre outros.
Muitas vezes viajavam em carro próprio ou alugavam um caminhão. A demora era mais ou menos de 15 dias entre a ida e a volta. Na chegada descarregavam os apetrechos e dividiam os peixes. Após dois ou três dias, reuniam-se outra vez para comentar a pescaria a base de cerveja e tira gosto.
Os rios preferidos eram sempre do Coluene, Paracatu, Jauru, Araguaia, Paraguai, Urucuia e São Francisco, e também o Paraíba.
Os motoristas de caminhão eram o Chico Lima, Bolinha e Lelei
do Pida. Os cozinheiros Giludo, e Caliça com maior frequência e o Coquimam,
esporadicamente. Comentava que um bom cozinheiro ou é gay ou tem uma ferida na
perna. O Coquimam tinha uma ferida na perna.
Lauro e Vicente Toscano contam que indo pescar em um rio na
divisa da Bolívia, resolveram atravessar a fronteira. No posto policial um
sargento olhou a placa do carro e viu: Miracema. Oba, eu sou de Laje do Muriaé.
Os dois foram ao Banco. O Banco estava aberto e não
havia ninguém; era hora da sesta. Os policiais da Bolívia estavam com
uniforme caqui e pé no chão.
Às vezes, na viagem, quando não achavam local para pernoitar, dormiam em posto de gasolina ou dentro do carro. Os peixes pescados eram o Dourado, Pintado, Curimam, Piraputanga, Surubim, Jurupoca, Barbado e Piauçú.
Um desses pescadores, ao chegar da pescaria, foi com o filho mais novo para a cama, e começou a contar histórias: que havia saído no barco sozinho e desceu vários quilômetros de ria e avistou uma pedra. Jogou a poita e sentou em cima da pedra, mas ela começou a se mover. Então ele viu que não era uma pedra e sim uma traíra gigante. Tirou o facão, cortou a cabeça dela e a jogou dentro do barco. Os dois olhos da traíra pareciam faróis, os espinhos pareciam costela de boi. Deu para todos do acampamento comer por três dias e ainda sobrou. – Bem, meu filho, vamos dormir que já é tarde. Em seguida disse: - Meu filho, o que você deseja ser quando crescer? – Ora meu pai, eu quero ser um grande mentiroso igual ao senhor.
Essa é muito boa, acompanhei bem de perto toda essa história.
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