Filho de
ucranianos e nascido em Hanover, na Alemanha, em 9 de dezembro de 1945,
Alexandre Kammianek veio para o Brasil em 1948 e naturalizou-se brasileiro em
1970, quando fez parte da lista dos 40 pré-convocados para a fase de preparação
da Copa do Mundo daquele ano, mas acabou cortado sem chegar a vestir a camisa
canarinho, sob o comando do técnico João Saldanha. Por que o Alex nunca mais
foi lembrado em uma convocação?
- Em 1970 estava na lista entre os 40 convocados com o
técnico João Saldanha e Zagallo. Foi um privilégio ser lembrado, mas como eu
era naturalizado e não havia esse intercambio no futebol como o de hoje, acabei
não sendo mais lembrado.
A paixão
pelo futebol começou ainda na adolescência? Aproveitando o gancho, um ídolo e o
time de coração de sua juventude?
- Sempre gostei de jogar futebol, mas meus pais eram
contra, pois queriam que eu terminasse o curso de mecânico ajustador no SENAI.
E somente após o término é que fui liberado por eles para treinar no Aimoré de
São Leopoldo-RS. Meus ídolos na adolescência: zagueiro Airton (Grêmio) e Turuca
(Aimoré). Desde criança torcia pelo Grêmio.
Você iniciou
a carreira no interior do futebol gaúcho (Clube Esportivo Aimoré, de São
Leopoldo). Chegando ao Rio, em 1967, treinou no Vasco antes de ingressar em
definitivo no América. Por que não ficou em São Januário?
- Cheguei ao Vasco devido ao zagueiro Brito estar se
transferindo para o Santos, mas não houve acerto e ele retornou. Como eu estava
me destacando nos treinos sob o comando do técnico Zizinho, este me indicou ao
America-RJ.
O time do
América da primeira metade dos anos 70 marcou uma geração. Com toda certeza
aquele grupo merecia mais do que apenas a conquista da Taça Guanabara de 1974.
Ficou alguma frustração por um título de maior expressão que não veio?
- Sim, teve frustrações, a maior delas foi a derrota
na Taça Guanabara de 1967.
Jogando pelo
América você recebeu o Troféu Belfort Duarte por atuar 10 anos sem ser expulso.
Um prêmio raro para qualquer jogador de futebol, ainda mais difícil para um
zagueiro. Qual era o segredo?
- O meu segredo sempre foi a lealdade e o respeito ao
adversário e não reclamar dos árbitros através de gestos.
Alex, Edu
Antunes, Luisinho Tombo, entre outros, são nomes que fazem parte da história do
América. O Alex protegia a retaguarda; Edu era o mestre da criação; e Luisinho
o homem-gol. Fale um pouco sobre esses dois companheiros.
- O Edu foi nosso ídolo maior; Luisinho sabia fazer
gols.
Após receber
passe livre do América e ao se transferir para o Sport Recife, em 1979, é
verídico o fato que você fez questão de incluir em seu novo contrato uma
cláusula para não jogar contra seu ex-clube?
- Foi a maneira que encontrei para demonstrar meu
respeito e amor ao clube e à sua torcida ao qual defendi por 13 anos em 673
jogos.
Depois de 13
anos jogando no América – entre 1967 e 1979, com 673 jogos disputados – Sport
Recife (campeão pernambucano em 1980, onde disputou dois dos três turnos da
competição), América (campeão potiguar em 1980), e Moto Clube (campeão
maranhense em 1981), você retornou ao futebol carioca e encerrou a carreira no
São Cristóvão, em 1982. Chegou a pensar em encerrar a carreira no América?
- Nunca pensei em voltar, pois já havia cumprido a
minha missão junto ao America. Encerrei pelo São Cristóvão a pedido do técnico
Daniel Pinto, que pretendia subir o São Cristóvão para a 1ª divisão. Atingido
esse objetivo, encerrei minha carreira sem despedidas, exatamente como eu
queria, sem alarde.
Qual foi o acontecimento
que mais te marcou no meio esportivo?
- O jogo da despedida do Garrincha e, tive o
privilegio de fazer parte dessa história no Maracanã lotado de emoções.
Um atacante
que tirava o seu sono?
- Meu amigo Dé (era veloz, esperto e sabia cavar
faltas e também torcia pelo America).
Um técnico
que você trabalhou e que merece o seu respeito?
- Comecei a carreira com o Carlos Froner no Aimoré e no
America teve o Evaristo de Macedo, Flavio Costa, Zezé Moreira, Otto Gloria,
Danilo Alvim, Zizinho, Tim e Amaro. Todos eram feras e, merecem meu respeito,
pois a minha disciplina estava em primeiro lugar.
Depois de
Pelé e Garrincha...
- Depois desses craques o futebol arte foi acabando
aos poucos, hoje é futebol força com o preparo físico superando a habilidade.
Teve alguma decepção
no futebol que deixou cicatrizes?
- A maior decepção foi perder as Taças Guanabara de
1967 e de 1975.
O
preconceito no futebol existia em sua época de jogador?
- Se existiu eu nem percebi. Enquanto eu atuava pelo
America iniciei e conclui minha graduação em Administração de Empresa junto com
outros atletas e companheiros como: Badeco, Paulo César, Tadeu, Antunes, dentre
outros.
Você teve o
privilégio de desfilar o seu talento por muitos anos no gramado do maior
estádio do mundo. Qual o seu sentimento com relação ao que fizeram com o velho
Maracanã?
- Tive o privilegio de jogar por 303 jogos no Maracanã.
Em 2007, coloquei meus pés na Calçada da Fama, mas com as mudanças não sei se
ainda continua por lá.
A perda de
jogadores de boa qualidade para o futebol do exterior, muitos saindo ainda
jovens, pode ser uma das causas da fragilidade técnica praticada no futebol
brasileiro?
- Com certeza contribuiu e também a escassez de campinho
de peladas que sumiram com o crescimento das cidades.
Como um
ex-jogador e profundo conhecedor do nosso futebol, você acredita em um
desempenho satisfatório do Brasil na Copa de 2022?
- Sim, acredito sempre na nossa Seleção.
Os
campeonatos regionais são viáveis na atual conjuntura do calendário brasileiro?
- Sim, são importantes para dar visibilidade aos novos
atletas que, em geral, surgem nos campeonatos estaduais.
O VAR veio
para ficar?
- Espero que sim. Se o VAR existisse no período em que
eu atuava, o America teria conquistado, no mínimo, quatro campeonatos
regionais.
Como definir
o Neymar em uma palavra?
- Craque.
Qual é o jogador
que enche seus olhos no futebol brasileiro na atualidade?
- No momento não tenho. Fico muito indignado com tantas
simulações e teatros.
O que deixa
você mais irritado no mundo que vivemos?
- A cara de pau dos políticos que só se preocupam com
a reeleição e legislar em causa própria e, infelizmente, quem sofre é o povo.
Uma
personalidade histórica, de qualquer segmento?
- Sem dúvidas, Pelé.
O América
perdeu representatividade no cenário estadual há muitos anos. Isso machuca
muitos os jogadores que vivenciaram os bons tempos do clube. Você ainda
acredita em tempos melhores em curto prazo?
- Minha esperança é de que o America se torne uma
empresa. Com investimento grande em categorias de base, somente assim, poderá
retornar ao cenário nacional.
O que faz
atualmente o Alex?
- Hoje estou curtindo a vida. Faço minhas caminhadas e
freqüento a academia para manter a forma. Uma vez atleta, sempre atleta!
Muito
obrigado pela entrevista e faça suas considerações finais.
- Obrigado pelo carinho das torcidas, inclusive
adversárias, que mesmo após mais de 40 anos que deixei o futebol como atleta e
ainda ser lembrado pela minha conduta profissional. Não fiz mais que minha
obrigação, a disciplina e a lealdade sempre fizeram parte da minha vida.
Nota do blog: aproveito a oportunidade para fazer um
agradecimento por toda atenção desde o primeiro contato solicitando
a entrevista. Apenas confirmei tudo o que já imaginava do cidadão Alex: um
verdadeiro gentleman.
Sensacional! Não sabia que ele era alemão e nem que tinha treinado no Vasco. O Vasco perdeu um grande jogador que também poderia ter feito história no clube. Sempre gostei do futebol do Alex. Coisas do futebol. Parabéns pela entrevista com perguntas pontuais. Sou fã de suas postagens nos grupos. Aurélio, de Ponta Grossa, no Paraná.
ResponderExcluirAlex, irmão de Miguel, não é alemão e sim ucraniano. Nantes o rapaz colocar os óculos
ResponderExcluirA informação do local de nascimento foi passada pelo próprio Alex.
ExcluirMeus parabéns Alex você e nosso orgulho eu como torcedor do América eu ti agradeço por tudo que fez pelo nosso América eu concordo com você que perdemos muitos títulos porque vomos roubado Deus abençoe A.sua vida e família você Alex será sempre nosso eterno capitão
ExcluirGrande zagueiro e pessoa.
ResponderExcluirAlex é alemão sim. Os pais que são Ucranianos
ResponderExcluirUma pessoa maravilhosa estudei com ele em 1976 no básico na SUAM, eu me formei em ciências contábeis e ele em administração de empresas.Um grande abraço Alex, muitas felicidades
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