quinta-feira, 4 de novembro de 2021

ENTREVISTA COM O EX-ZAGUEIRO ALEX, UM CRAQUE QUE MARCOU ÉPOCA NO AMÉRICA-RJ

 


Filho de ucranianos e nascido em Hanover, na Alemanha, em 9 de dezembro de 1945, Alexandre Kammianek veio para o Brasil em 1948 e naturalizou-se brasileiro em 1970, quando fez parte da lista dos 40 pré-convocados para a fase de preparação da Copa do Mundo daquele ano, mas acabou cortado sem chegar a vestir a camisa canarinho, sob o comando do técnico João Saldanha. Por que o Alex nunca mais foi lembrado em uma convocação?

- Em 1970 estava na lista entre os 40 convocados com o técnico João Saldanha e Zagallo. Foi um privilégio ser lembrado, mas como eu era naturalizado e não havia esse intercambio no futebol como o de hoje, acabei não sendo mais lembrado.

 

A paixão pelo futebol começou ainda na adolescência? Aproveitando o gancho, um ídolo e o time de coração de sua juventude?

- Sempre gostei de jogar futebol, mas meus pais eram contra, pois queriam que eu terminasse o curso de mecânico ajustador no SENAI. E somente após o término é que fui liberado por eles para treinar no Aimoré de São Leopoldo-RS. Meus ídolos na adolescência: zagueiro Airton (Grêmio) e Turuca (Aimoré). Desde criança torcia pelo Grêmio.

 

Você iniciou a carreira no interior do futebol gaúcho (Clube Esportivo Aimoré, de São Leopoldo). Chegando ao Rio, em 1967, treinou no Vasco antes de ingressar em definitivo no América. Por que não ficou em São Januário?

- Cheguei ao Vasco devido ao zagueiro Brito estar se transferindo para o Santos, mas não houve acerto e ele retornou. Como eu estava me destacando nos treinos sob o comando do técnico Zizinho, este me indicou ao America-RJ.

 

                                   Alex treinando no Vasco ao lado de Brito e Valdir Appel, entre outros


O time do América da primeira metade dos anos 70 marcou uma geração. Com toda certeza aquele grupo merecia mais do que apenas a conquista da Taça Guanabara de 1974. Ficou alguma frustração por um título de maior expressão que não veio?

- Sim, teve frustrações, a maior delas foi a derrota na Taça Guanabara de 1967.

 

Jogando pelo América você recebeu o Troféu Belfort Duarte por atuar 10 anos sem ser expulso. Um prêmio raro para qualquer jogador de futebol, ainda mais difícil para um zagueiro. Qual era o segredo?

- O meu segredo sempre foi a lealdade e o respeito ao adversário e não reclamar dos árbitros através de gestos.

 

Alex, Edu Antunes, Luisinho Tombo, entre outros, são nomes que fazem parte da história do América. O Alex protegia a retaguarda; Edu era o mestre da criação; e Luisinho o homem-gol. Fale um pouco sobre esses dois companheiros.

- O Edu foi nosso ídolo maior; Luisinho sabia fazer gols.

 

Após receber passe livre do América e ao se transferir para o Sport Recife, em 1979, é verídico o fato que você fez questão de incluir em seu novo contrato uma cláusula para não jogar contra seu ex-clube?

- Foi a maneira que encontrei para demonstrar meu respeito e amor ao clube e à sua torcida ao qual defendi por 13 anos em 673 jogos.

 

Depois de 13 anos jogando no América – entre 1967 e 1979, com 673 jogos disputados – Sport Recife (campeão pernambucano em 1980, onde disputou dois dos três turnos da competição), América (campeão potiguar em 1980), e Moto Clube (campeão maranhense em 1981), você retornou ao futebol carioca e encerrou a carreira no São Cristóvão, em 1982. Chegou a pensar em encerrar a carreira no América?

- Nunca pensei em voltar, pois já havia cumprido a minha missão junto ao America. Encerrei pelo São Cristóvão a pedido do técnico Daniel Pinto, que pretendia subir o São Cristóvão para a 1ª divisão. Atingido esse objetivo, encerrei minha carreira sem despedidas, exatamente como eu queria, sem alarde.

 

Qual foi o acontecimento que mais te marcou no meio esportivo?

- O jogo da despedida do Garrincha e, tive o privilegio de fazer parte dessa história no Maracanã lotado de emoções.

 

Um atacante que tirava o seu sono?

- Meu amigo Dé (era veloz, esperto e sabia cavar faltas e também torcia pelo America).

 

Um técnico que você trabalhou e que merece o seu respeito?

- Comecei a carreira com o Carlos Froner no Aimoré e no America teve o Evaristo de Macedo, Flavio Costa, Zezé Moreira, Otto Gloria, Danilo Alvim, Zizinho, Tim e Amaro. Todos eram feras e, merecem meu respeito, pois a minha disciplina estava em primeiro lugar.

 

Depois de Pelé e Garrincha...

- Depois desses craques o futebol arte foi acabando aos poucos, hoje é futebol força com o preparo físico superando a habilidade.

 

Teve alguma decepção no futebol que deixou cicatrizes?

- A maior decepção foi perder as Taças Guanabara de 1967 e de 1975.

 

O preconceito no futebol existia em sua época de jogador?

- Se existiu eu nem percebi. Enquanto eu atuava pelo America iniciei e conclui minha graduação em Administração de Empresa junto com outros atletas e companheiros como: Badeco, Paulo César, Tadeu, Antunes, dentre outros.

 

Você teve o privilégio de desfilar o seu talento por muitos anos no gramado do maior estádio do mundo. Qual o seu sentimento com relação ao que fizeram com o velho Maracanã?

- Tive o privilegio de jogar por 303 jogos no Maracanã. Em 2007, coloquei meus pés na Calçada da Fama, mas com as mudanças não sei se ainda continua por lá.

 

A perda de jogadores de boa qualidade para o futebol do exterior, muitos saindo ainda jovens, pode ser uma das causas da fragilidade técnica praticada no futebol brasileiro?

- Com certeza contribuiu e também a escassez de campinho de peladas que sumiram com o crescimento das cidades.

 

Como um ex-jogador e profundo conhecedor do nosso futebol, você acredita em um desempenho satisfatório do Brasil na Copa de 2022? 

- Sim, acredito sempre na nossa Seleção.

 

Os campeonatos regionais são viáveis na atual conjuntura do calendário brasileiro?

- Sim, são importantes para dar visibilidade aos novos atletas que, em geral, surgem nos campeonatos estaduais.

 

O VAR veio para ficar?  

- Espero que sim. Se o VAR existisse no período em que eu atuava, o America teria conquistado, no mínimo, quatro campeonatos regionais.

 

Como definir o Neymar em uma palavra?

- Craque.

 

Qual é o jogador que enche seus olhos no futebol brasileiro na atualidade?

- No momento não tenho. Fico muito indignado com tantas simulações e teatros.

 

O que deixa você mais irritado no mundo que vivemos?

- A cara de pau dos políticos que só se preocupam com a reeleição e legislar em causa própria e, infelizmente, quem sofre é o povo.

 

Uma personalidade histórica, de qualquer segmento?

- Sem dúvidas, Pelé.

 

O América perdeu representatividade no cenário estadual há muitos anos. Isso machuca muitos os jogadores que vivenciaram os bons tempos do clube. Você ainda acredita em tempos melhores em curto prazo?

- Minha esperança é de que o America se torne uma empresa. Com investimento grande em categorias de base, somente assim, poderá retornar ao cenário nacional.

 

O que faz atualmente o Alex?

- Hoje estou curtindo a vida. Faço minhas caminhadas e freqüento a academia para manter a forma. Uma vez atleta, sempre atleta!

 

Muito obrigado pela entrevista e faça suas considerações finais.

- Obrigado pelo carinho das torcidas, inclusive adversárias, que mesmo após mais de 40 anos que deixei o futebol como atleta e ainda ser lembrado pela minha conduta profissional. Não fiz mais que minha obrigação, a disciplina e a lealdade sempre fizeram parte da minha vida.

 

Nota do blog: aproveito a oportunidade para fazer um agradecimento por toda atenção desde o primeiro contato solicitando a entrevista. Apenas confirmei tudo o que já imaginava do cidadão Alex: um verdadeiro gentleman.   

 

7 comentários:

  1. Sensacional! Não sabia que ele era alemão e nem que tinha treinado no Vasco. O Vasco perdeu um grande jogador que também poderia ter feito história no clube. Sempre gostei do futebol do Alex. Coisas do futebol. Parabéns pela entrevista com perguntas pontuais. Sou fã de suas postagens nos grupos. Aurélio, de Ponta Grossa, no Paraná.

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  2. Alex, irmão de Miguel, não é alemão e sim ucraniano. Nantes o rapaz colocar os óculos

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    1. A informação do local de nascimento foi passada pelo próprio Alex.

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    2. Meus parabéns Alex você e nosso orgulho eu como torcedor do América eu ti agradeço por tudo que fez pelo nosso América eu concordo com você que perdemos muitos títulos porque vomos roubado Deus abençoe A.sua vida e família você Alex será sempre nosso eterno capitão

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  3. Grande zagueiro e pessoa.

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  4. Alex é alemão sim. Os pais que são Ucranianos

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  5. Uma pessoa maravilhosa estudei com ele em 1976 no básico na SUAM, eu me formei em ciências contábeis e ele em administração de empresas.Um grande abraço Alex, muitas felicidades

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