Fotomontagem
Nota: transcrito na íntegra da revista
FATOS & FOTOS/GENTE, de 1980, com reportagem de Eduardo Lacombe.
Junho de 1978. Local: Estádio Mar del
Plata, no famoso balneário argentino, horas depois da partida entre Brasil e
Áustria, cujo resultado – 1 a 0 pro Brasil – classificou nossa Seleção à
segunda fase da Copa do Mundo. As cabines de rádio e TV estão vazias. Nas
arquibancadas, apenas o pessoal da limpeza que, com uniformes trazendo a
inscrição Mundial de La FIFA, recolhem os restos de papel e cigarros que o
vento ajuda a espalhar.
No centro do campo, já bastante
estragado, dois homens caminham lado a lado, tranquilamente. O mais velho é o
médico da delegação, Lídio Toledo. O mais novo está chorando. Trata-se de
Roberto Dinamite, que marcou o gol que classificou o time, dando um pouco mais
de calma à agitada cúpula da CBD.
Roberto chora. Lídio Toledo entende o
por quê. Minutos antes conseguira que ele fizesse o antidoping e colocasse, em
um vidrinho, um pouco de urina. Foram necessárias duas garrafas de cerveja. Só
naquele momento, Roberto estava se descontraindo. As lágrimas corriam
calmamente, dando um pouco de alívio a um jogador que chegou a ser desprezado.
Dias depois, meio tímido e entre sorrisos, ele confidenciaria:
“Naquele momento, tive vontade de
correr para o telefone e dizer à Jurema: ‘Conseguimos! ’ Mas só vim a fazer
isso à noite, na concentração. Foi um momento incrível! Inesquecível!”
No dia seguinte ao da partida contra
a Áustria, o mundo inteiro comentava que Dinamite classificara o Brasil. Dois
anos depois, o mesmo grito – Dinamite! – foi ouvido nas arquibancadas do já
lendário estádio do Barcelona, o Nou Camp. Roberto, em sua estreia na equipe
espanhola, fez dois gols e saiu de campo sob delírio de uma das mais exigentes
torcidas da Europa. Entretanto, um mês depois, o mesmo jogador deixava o campo,
aos 10 minutos do segundo tempo, debaixo de vaias.
Em casa, naquele momento, sua esposa
Jurema pensava:
“Aqui, ele vai morrer. Tenho que
levá-lo de volta ao Brasil.”
A oportunidade surgiu com a proposta
feita por Márcio Braga, presidente do Flamengo, que sonhava reunir em sua
equipe a dupla de ouro do futebol carioca: Zico e Roberto. No Rio, ele já
afirmara: “Com Roberto, seremos campeões dez anos seguidos. E haja taça para
comemorar.”
Dinamite, apelido que ganhou de
Aparício Pires, no Jornal dos Sports, sempre foi um atacante perigoso. Não foram poucos, entretanto, que afirmaram:
“Mais perigoso que Roberto, só sua esposa, Jurema, no momento de uma renovação
de concreto”. Em março do ano passado, em entrevista à Manchete Esportiva,
quando o acerto entre Roberto e Vasco estava difícil, ela dizia:
“Hoje, falam de mim. Mas se esquecem
que na época da Copa do Mundo, quando ele teve problemas, fui eu quem o ajudou
a contorná-los. Coutinho não escondia que Roberto seria sua última opção para o
ataque. Tínhamos problemas em casa e tudo isso o perturbava. Mas eu não o
deixei desanimar.”
Um ano depois, ela justificaria à
FATOS & FOTOS/GENTE o porquê de sua conduta, afirmando em alto e bom tom:
“A vida de um jogador não é mole. É
preciso que ele tire o máximo em cada contrato. Sei que muitos afirmam que ele
não discute nada. É mentira. Tudo é conversado entre Roberto e eu. Não faço
nada com o qual ele não esteja de acordo. Luto, apenas, para que ele tenha
tudo.”
E nesse tudo estaria, com certeza, o
retorno ao Rio. Para o Flamengo, mais precisamente, já que no Vasco – para quem
o Barcelona tentou devolvê-lo – não há mais ambiente para o jogador. O próprio
Márcio Braga, na tentativa de comover os torcedores do Rio da necessidade de
trazer Roberto, chegou a comentar:
“No Barcelona ele vai morrer. Será
enterrado em caixão de ouro, é verdade. Mas vai morrer.”
Durante duas semanas, Roberto e
Jurema viveram a expectativa de arrumar as malas e desembarcar no Rio. E nos
planos de toda a diretoria do Flamengo, sua estreia estava prevista nos mínimos
detalhes: Roberto não posaria com a camisa nove do time. Esse privilégio seria
dos torcedores que pagassem o ingresso do jogo cuja renda já estava prevista em
torno de Cr$ 20 milhões, incluídos os direitos da televisão (dizem que a Globo
já os comprou).
Mas o que Márcio e o próprio Roberto
não esperavam é que mesmo antes de assinar seu contrato, Roberto já apareceria
com a camisa do Flamengo, em uma montagem, nesta página. A imagem é ótima. Faz
sonhar todo mundo. O Flamengo paga o que Roberto quer. Márcio e Jurema já
acertaram tudo. O Barcelona aceita receber o que o Flamengo quer pagar. Diz
Márcio que os detalhes são mínimos. Então, o que falta para Roberto jogar com
Zico? Segundo o técnico Cláudio Coutinho, apenas uma coisa: ele desembarcar.
Minhas considerações: Roberto desembarcou no Rio, mas seu destino não foi a Zona Sul. Fez o caminho de sempre e seguiu para a Zona Norte. Sob pressão e revolta de torcedores cruzmaltinos, que já davam como certo o acordo entre Roberto e Flamengo, os mandatários do Vasco, tendo na pessoa de Eurico Miranda, à época assessor especial do presidente Alberto Pires Ribeiro, o clube de São Januário também entrou firme na disputa para trazer o camisa 10 de volta. Eurico foi à Espanha tentar uma última cartada e fazer Dinamite e esposa mudarem de ideia. O esforço foi recompensado e o Vasco conseguiu que a quantia ainda devida pelo Barcelona na negociação fosse fator decisivo no retorno do ídolo.
Boa noite. Foi bem oportuno o titulo de Sonho Rubro-Negro ... vou explicar.... no Carnaval daquele ano a Vila Isabel veio com com enredo Sonho de um Sonho. E nós, os autênticos vascainos que fomos ao Galeão receber Roberto, cantamos para a diretoria e a torcida da mulambada: " Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado . Um sonho de um sonho magnetizado.... sonho meu tu sonhava que sonhava ... sonho meu ... eu sonhei que não sonhava mas eu sonhei" . Samba em alusão ao poema do grande vascaino Carlos Drummond de Andrade . Foi apoteótico. Como dizia Dener; Um drible bonito é melhor que um gol. Tirar essa onda com a mulambada e o Marcio Braga valeu mais que um título.
ResponderExcluir