Nota do Blog: entrevista concedida ao Jornal da Tarde, de São Paulo, em 7 de dezembro de 1966.
Zezé e Aymoré Moreira |
Há 50 anos Miracema já era pequena demais para as
brincadeiras do Saci, o Filinho dos Moreira, menino mais levado e brigador da
família. Era difícil a tarde em que não matava aula para jogar pelada e depois
ia se esconder do pai na fazenda do avô Zé Carlos: “Tudo que acontecia de
errado era eu que aprontava”.
Hoje, o menino que herdou do pai o nome Alfredo e do
futebol o apelido Zezé, é o mais sério da família. Desde que passou a ter o
futebol como meio de vida sempre foi diferente dos irmãos. Assumiu uma pose de inglês: procura andar
sempre muito bem arrumado, quando não tira a gravata só usa ternos que lhe caem
direitinho no corpo.
Dos quatro irmãos, só ele e Aírton não interessaram
pela música. Desde cedo, Zezé tomou gosto pelo futebol e foi mais por isso que Aymoré e Aírton
acabaram nessa profissão. Em todo seu tempo de jogador foi companheiro de clube
de Aymoré, arranjou muitas brigas por onde passou e as maiores foram contra
torcedores. :
- Uma vez joguei uma prata de quatrocentos reis num
torcedor e ela ficou pregada bem na testa dele.
Era centromédio, sempre jogou duro, mas não quebrou a
perna de ninguém. Nasceu na fazenda Lagoa Preta, do avô Zé Carlos, há 58 nos. Apesar disso, jamais gostou de pescar ou
caçar, ao contrário de Aymoré. Sua alegria era ficar brincando no engenho ou no
açude da fazenda, perto da cidade. Com
12 anos já era cabo eleitoral de seu avô, chefe político do partido de Nilo
Peçanha, que dominava a cidade:
- As eleições eram em nossa casa. Quando chegava o
dia, a gente fazia uma mesa com muita comida boa no quintal. Quase todos os eleitores eram pobres e
analfabetos e marcavam o nome do candidato com um x. Nós dávamos um bom prato
para o eleitor e depois mudávamos o x da cédula se não estivesse em nome de
vovô. Zé Carlos Moreira nunca perdeu uma
eleição em Miracema.
Gostava tanto de faroeste que passou até a imitar o
mocinho Edie Polo, que passava a mão no cabelo toda vez que dava um tiro e
matava alguém. Deixou seu cabelo crescer e ficou meio parecido com Edie Polo.
- Na época tinha muita gente boa de tiro. O melhor
mesmo era o Tom Mix. Depois vinha o Buck Jones e aquele bem trágico, o William
Fago.
Quando jogava no Palestra, no cine Odeon, onde hoje é
o Marrocos, pôde ver pessoalmente Ramon Navarro, um de seus ídolos de faroeste.
Agora quase não tem tempo para cinema, vive do futebol e com ele aprendeu o
seguinte:
- O que passou, passou. Só serve mesmo para lição. E a
lição guardo para mim.
Fecho de ouro para uma série espetacular. Parabens.
ResponderExcluirGrande Zezé Moreira!!!
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