A fama que os irmãos tiveram antes, o caçula Aírton
Moreira teve que esperar 16 anos, até que surgissem um Mineirão e um Cruzeiro capaz de disputar a fina da
Taça Brasil e ganhar do Santos por 6 a 2. Já tinha desistido de ser técnico,
virou administrador da sede campestre do Cruzeiro e dono de uma fábrica de
móveis. Agora, 47 anos, três filhos, único avô dos três Moreira, com uma neta,
sendo que estava certo quando largou os estudos, pago pelos irmãos, e foi ser
zagueiro do Náutico de Recife.
Em casa, em Miracema, Aírton era Totó, muito pequeno
quando os irmãos foram embora para o Rio. Viveu meio sozinho, teve mais tempo
para estudar que os outros. No fim do
primário, já tinha lugar reservado no Colégio Lafaiete, no Rio. Zezé e Aymoré
queriam o caçula advogado ou engenheiro.
Mas ele queria ser jogador também, e foi ser campeão
no Náutico de Recife. Na hora de sair de Pernambuco, precisou de ajuda de Zezé.
O Atlético Mineiro ia contratar um zagueiro central, Cachimbo, velho amigo do
irmão. Cachimbo levou Aírton, e acabou
dispensado. Aírton ficou, jogou no Atlético por oito anos. Parecia um pouco com
Zezé, que trata como um pai, com muito respeito. Num jogo contra o
Independiente da Argentina, o Atlético tomou o primeiro gol. Aírton gritou:
- O primeiro gringo que entrar aqui agora eu mato.
Não apareceu mais ninguém perto da área, e o Atlético
venceu por 2 a 1. Aírton tem até um pouco de vergonha de falar de seu tempo de
jogador:
- Eu era
grosso, só dava botinada.
Mas no Cruzeiro de hoje, que o presidente Felício
Brandi o chamou para montar em agosto de 64 e o fez deixar a sede campestre, Aírton
não permite que a defesa dê pancada. Conseguiu trazer os jogadores que queria,
mudou as características de alguns, como Tostão, que era meia armador. Seus
trabalho continua, contou para Aymoré que o Cruzeiro não tem apenas o time que
está jogando:
- Tenho oito
meninos do aspirante e do juvenil para subirem o ano que vem. Estou formando
uma dupla de retaguarda que é um fenômeno.
Já recebeu convites do Vasco e do Botafogo, mas agora
não quer mais deixar Minas. Só no mês passado ganhou mais de sete milhões com
as vitórias do time e acha que não há dinheiro que pague sua vida sossegada. Fala
que deve tudo ao Mineirão, sente que o futebol mineiro demorou a crescer, mas
ninguém mais o segura.
Sente-se um homem realizado, embora pense que o seu
tempo bom está apenas começando. Em Minas, nos próximos quatro ou cinco anos,
diz que os outros times vão ter de jogar muito para impedir o Cruzeiro de ser
campeão.
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