segunda-feira, 29 de agosto de 2016

OS MOREIRAS ESTÃO NAS RUAS: 3ª PARTE


Nota do Blog: entrevista concedida ao Jornal da Tarde, de São Paulo, em 7 de dezembro de 1966. 

FUTEBOL MATOU FAROESTE QUE ZEZÉ NÃO PERDIA


Zezé e Aymoré Moreira 

Há 50 anos Miracema já era pequena demais para as brincadeiras do Saci, o Filinho dos Moreira, menino mais levado e brigador da família. Era difícil a tarde em que não matava aula para jogar pelada e depois ia se esconder do pai na fazenda do avô Zé Carlos: “Tudo que acontecia de errado era eu que aprontava”.  

Hoje, o menino que herdou do pai o nome Alfredo e do futebol o apelido Zezé, é o mais sério da família. Desde que passou a ter o futebol como meio de vida sempre foi diferente dos irmãos.  Assumiu uma pose de inglês: procura andar sempre muito bem arrumado, quando não tira a gravata só usa ternos que lhe caem direitinho no corpo.  

Dos quatro irmãos, só ele e Aírton não interessaram pela música. Desde cedo, Zezé tomou gosto pelo futebol  e foi mais por isso que Aymoré e Aírton acabaram nessa profissão. Em todo seu tempo de jogador foi companheiro de clube de Aymoré, arranjou muitas brigas por onde passou e as maiores foram contra torcedores. :
- Uma vez joguei uma prata de quatrocentos reis num torcedor e ela ficou pregada bem na testa dele.

Era centromédio, sempre jogou duro, mas não quebrou a perna de ninguém. Nasceu na fazenda Lagoa Preta, do avô Zé Carlos, há 58 nos.  Apesar disso, jamais gostou de pescar ou caçar, ao contrário de Aymoré. Sua alegria era ficar brincando no engenho ou no açude da fazenda, perto da cidade.  Com 12 anos já era cabo eleitoral de seu avô, chefe político do partido de Nilo Peçanha, que dominava a cidade:
- As eleições eram em nossa casa. Quando chegava o dia, a gente fazia uma mesa com muita comida boa no quintal.  Quase todos os eleitores eram pobres e analfabetos e marcavam o nome do candidato com um x. Nós dávamos um bom prato para o eleitor e depois mudávamos o x da cédula se não estivesse em nome de vovô.  Zé Carlos Moreira nunca perdeu uma eleição em Miracema.

Gostava tanto de faroeste que passou até a imitar o mocinho Edie Polo, que passava a mão no cabelo toda vez que dava um tiro e matava alguém. Deixou seu cabelo crescer e ficou meio parecido com Edie Polo.
- Na época tinha muita gente boa de tiro. O melhor mesmo era o Tom Mix. Depois vinha o Buck Jones e aquele bem trágico, o William Fago.

Quando jogava no Palestra, no cine Odeon, onde hoje é o Marrocos, pôde ver pessoalmente Ramon Navarro, um de seus ídolos de faroeste. Agora quase não tem tempo para cinema, vive do futebol e com ele aprendeu o seguinte:

- O que passou, passou. Só serve mesmo para lição. E a lição guardo para mim.

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