quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

BAR PRACINHA – POR JOSÉ ERASMO TOSTES


Após o término da segunda guerra mundial, em seu retorno à terra natal, o expedicionário Abib Salim Damiam fundou o Bar Pracinha, localizado na esquina da Rua Direita, sendo vendido anos mais tarde pelo mesmo para iniciar em outro comércio. Após de ter vários proprietários, o bar foi adquirido pelos irmãos Salim: Nacibe, Jofre e José Salim. 

A família Salim, oriunda de Palma, era composta de três irmãs e mais seis irmãos: Chaquibe, Adibe, Faride, Nacibe, Jofre e Alfredo. Três irmãos, depois de anos de trabalho, adquiriram uma casa para moradia e compraram o prédio anexo onde instalaram o novo Bar Pracinha.

A nova montagem do bar tinha grandes balcões frigoríficos e novas prateleiras, mesas com pés de ferro e tampo redondo de mármore branco e cadeiras de madeira. Era frequentado por fregueses de todas as categorias: políticos, médicos, advogados, comerciantes, pessoas de posição e também os mais simples. Tinha como figura principal e inesquecível, o garçom Lúcio, sempre de botinas, com um pano pendurado no ombro com o qual limpava as mesas deixando um cheiro de azedo, como também enxugava a cara. O cafezinho era sempre servido fresco, feito na hora. Vendia de tudo concernente a um bar; trocava cheques e emprestava dinheiro aos clientes sem juros.

Por motivo de doença o Bar foi vendido e a sociedade dissolvida. Morre o José Salim, o mais novo. Logo após morre o Nacibe, vindo a falecer neste 4 de dezembro o nosso irmão e amigo Jofre, que trabalhou de garçom por muitos anos no Rio de Janeiro. Excelente cozinheiro, especialista em comida árabe, enfeitava um prato de salada como poucos. Depois de sua morte sentimos o vazio, e na vida brincamos um pouco de seres humanos sem nos preocuparmos em conhecer as pessoas por dentro.

Trago na lembrança os tempos do Bar Pracinha, sentado numa mesa com os amigos Miguelzinho do Cinema, Clerinho Foguete, Zé Padilha, o Chiclair sempre fumando com piteira, bebendo muita água e enxugando a testa pelo suor, e fazia questão de pagar sempre as despesas. Na mesa ao lado, Wandinho Mercante e o amigo Hélcio Bastos que dizia que deixou de comprar cigarros, só não deixou de fumar... Napoleão, pedreiro mentiroso de nascença, sempre contando as suas. Dizia que tinha ido pescar no açude da Lagoa Preta e, lá chegando, ficou horas e mais horas pescando sem pegar um peixe. Então resolveu dizer: se eu pegar, vou levar uma para o Sr. Marcellino e outra para o Sr. José de Assis, os homens mais ricos na cidade naquela época. Foi só lançar o anzole, imediatamente, pegou duas traíras enormes, colocou-as dentro de um bornal, amarrou a boca do mesmo e, fazendo gestos com os braços, deu uma banana pra Lagoa. Vai ser puxa saco assim nos quintos do inferno. 

Continuando, dizia que, na década de trinta, havia em Miracema um médico chamado Dr. Diniz. Gordo e sempre de branco, recebeu em seu consultório a visita de uma cliente. Ao fazer a consulta constatou que a mesma fora acometida do mal de chagas, doença contraída pelo inseto chamado barbeiro. Depois de consultar e dar a receita, disse o médico: “a senhora foi chupada pelo barbeiro”. “É doutor, e aquele desgraçado me disse que era advogado”. 


Nota: do seu livro Tipos & Fatos Inesquecíveis. 

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