Na casa com marquise, à direita, o bar do seu Vicente Dutra. Outro detalhe da foto é o desfile do TG, que ficava no prédio ao lado, em frente à Prefeitura. |
Na Rua
Direita, onde hoje é a “Chevrolet”, na década de 50 foi montado um bar e salão
de sinuca, por José Duque Estrada, nos moldes de cidade grande. O bar era todo
espelhado, com cadeiras de luxo e garçons, todos uniformizados. No salão, dez
ou doze mesas de sinuca novas, funcionários com vassouras e pás para catar as
pontas de cigarros. O bar funcionou por poucos anos.
Outro
bar antigo onde se jogava sinuca era o Bar do Rubens Alves (Careca), hoje
Supermercado Ramos. Também na Rua João Pessoa, o Salão da Luzia Cava, uma velha
italiana, mas frequentado por rapazolas, que esperavam que ela cochilasse para
não pagar o tempo.
Hoje
existe um bem montado bar e salão de sinuca na Rua Direita, que foi do Vavate
Padilha, depois do Zé Careca e agora do seu filho Ricardo, por onde passou
jogadores de várias gerações. Mas de todos esses bares e salões de sinuca o que
nos traz mais recordações é o Bar do Vicente Dutra, que funcionou por mais de
50 anos em frente à Prefeitura de Miracema. No bar havia uma geladeira com portas
de madeira, uma vitrine também de madeira com visor de vidro, onde havia
pastel, broa de milho de cor escura, bom-bocado, pé-de-moleque, bolos e outras
iguarias, feitas por Dona Maria e a Lili, sua nora.
Havia
também uma máquina, com uns três metros de comprimento, que fabricava os
picolés, da metade do tamanho dos de hoje. Por este motivo, de brincadeira,
diziam “Isto é cara de gente ou picolé do Vicente?”. Na parte de traz do bar
havia um salão onde se jogava víspora - somente mulheres - com exceção do Paulo
Pimenta, um negro de alma branca, que sempre usou tamanco de madeira e usa até
hoje. Tinha também as parceiras contumazes: a Arminda, Zilda, Guiomar,
Aparecida, Gilka, Santa, Mariana, Zélia, além de Dona Maria e a Lili.
Vicente Dutra era um homem que vivia assobiando um dobrado, sempre com um olho fechado. Sabia a música de cor. Conta-se que ao servir um chocolate, o freguês reclamou que o copo não estava bem cheio. Ele pegou o bule, foi despejando o chocolate até entornar pelo balcão, sempre assobiando e perguntando: “Está cheio agora?” Outro pediu ao Vicente: “Sai um bolinho aí coroa!” Ele olhou para a vitrine e disse: “Sai bolinho, sai!” E o bolinho não quis sair... O Lagoa pediu uma cerveja, e disse o Ary: “Aposto que antes de abrir ele assobia”. Vicente pegou o casco da cerveja e pôs em cima do balcão. O freguês olhando. “Não vai assobiar”. Mas quando o abridor tocou na garrafa o assobio veio junto. E teve aquele que, recém-chegado da capital, pediu um copo de leite. O Vicente serviu-lhe e o freguês retrucou: “Eu quero leite pasteurizado” (isto na década de 60). E o Vicente não pestanejou: abriu sua vitrine, pegou um pastel (que na época já era famoso) e colocou-o dentro do copo.
O Tiro
de Guerra 217 ficava a dez metros do bar, onde hoje é o Centro Cultural
Melchíades Cardoso. Vários atiradores, de diversas gerações, passaram pelo bar
e pelo salão de sinuca e o Vicente precisava ficar ativo para não tomar o
“beiço”, como se diz na gíria. Naquela época éramos felizes e não sabíamos.
Dos
jogadores de sinuca que por ali passaram, podemos destacar o José Aversa,
Mirim, Dizinho, Campanário, Chope, Gerson Teodoreto, Dante Barbi, Juju, Dr.
Leandro, Dr. Moacyr, Álvaro Lontra e muitos outros.
Nota: do seu livro Tipos e Fatos Inesquecíveis.
Gostaria de parabenizá-lo por nos trazer histórias interessantes da nossa querida terra. O seu blog é diferenciado, não menciona assuntos de violência, assuntos esses que nos assusta diariamente, e nos leva a uma leitura suave de assuntos de Miracema e também de miracemenses que fazem parte da nossa história. Curto muito também suas publicações sobre futebol do passado, porque o de hoje não se tem praticamente nada para contar. Resido no Rio, mas de coração estou sempre em Miracema. Antônio Carlos da Silva Braga
ResponderExcluirFico muito satisfeito em passar essa mensagem para grande maioria dos leitores. Obrigado pelo carinho!
ExcluirE os filhos do Olegário da padaria, não eram sinuqueiros?, corre a lenda que o mais velho entendia tanto de bola grande como de bola pequena...belo texto...me senti voltando no tempo...
ResponderExcluirCristiano, você está se referindo ao Genuíno. Realmente ele foi um craque no campo e jogava uma sinuca de primeira qualidade. Presenciei muitas vezes no Zé Careca suas habilidades na mesa. Boa lembrança!
ExcluirMuito ler e relembrar os tempos bons do passado Quando ia p o colegio passava todos os dias em frente do bar do sr Vicente com muita vontade de comprar um picolé mas nunca tinhaa dinheiro !rsrs Sou filha de Santinho que tinha uma cocheira e ferrava os animais das pessoas de Miracema e arredores
ResponderExcluir