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Tim, Leônidas da Silva e Romeu Pellicciari |
Mais do que um craque. Mais do que um ídolo. Leônidas
da Silva transformou o futebol em arte com a sua magia de artilheiro. Em campo,
executava proezas que pareciam impossíveis aos olhos dos torcedores. E,
com elas, transformou-se num mito dos estádios, o primeiro grande astro do
futebol brasileiro. Centroavante técnico, veloz, com grande impulsão e
elasticidade, ele logo ganhou o apelido de “Homem Borracha”, devido a seus
lances acrobáticos.
Leônidas nasceu no Rio de Janeiro, em 06 de setembro
de 1913. Começou no juvenil do São Cristóvão e com 16 anos já se destacava.
Marcou 31 gols em 29 jogos. Teve uma passagem pelo Syrio Libanez - 50 gols
marcados em 47 jogos -, e chegou ao Bonsucesso em 1930, quando assinou seu
primeiro contrato e ficou até 1932, marcando 55 gols em 51 jogos. No ano
seguinte atuou pelo Peñarol, do Uruguai, onde marcou 28 gols em 25 jogos.
Voltou logo ao Brasil e brilhou por onde passou. Jogou no Vasco – 29 jogos e 27
gols (campeão carioca de 1934), Botafogo - 36 jogos e 23 gols (campeão carioca
em 1935), Flamengo – 148 jogos e 151 gols (campeão carioca em 1939) e São Paulo
– 210 jogos e 142 gols (campeão paulista em 1943, 1945/46, 1948/49). Foi no
time paulista que encerrou a vitoriosa carreira aos 37 anos.
.
Quando o São Paulo comprou o seu passe, pela quantia
recorde de 200 contos de reis, muitos criticaram o clube. O atacante chegou a
ser chamado de “Bonde de 200 Contos”, mas não demorou a dar a resposta em
campo. Foram cinco títulos paulistas em sete anos de clube, feito que o
transformou num dos grandes ídolos da história do Tricolor.
Graças ao futebol de Leônidas da Silva, o Flamengo, que já era popular,
tornou-se ainda maior. Foi o seu carisma que criou uma geração de rubro-negros
nas décadas de 30 e 40. Era o “Diamante Negro” – apelido que originou a marca
de chocolate – no auge da sua forma, quando brilhou também pela Seleção
Brasileira. Essa denominação veio dos franceses, encantados com seu futebol na
Copa de 38.
Disputou duas Copas do Mundo. No Mundial de 34, fez o
único gol do Brasil, eliminado ao perder na estreia para a França. Foi na Copa
de 1938, disputada na França, que o mundo começou a respeitar o futebol
brasileiro, e o torcedor tupiniquim passou a idolatrar Leônidas
definitivamente. Pela primeira vez, aliás, o Brasil se fez representar por seus
melhores jogadores. Sob o comando de Ademar Pimenta chegou em terceiro lugar, e
o centroavante terminou a competição coberto de elogios e como seu
artilheiro com sete gols. Um dos gols de bicicleta, a jogada que o marcou para
sempre no vasto repertório de Leônidas (ele pode até não ter inventado, mas, no
mínimo, foi quem apresentou o lance ao mundo). Vestiu a camisa do Brasil em 37
jogos e marcou 37 gols, sendo 18 oficiais e 20 gols. Foi o primeiro brasileiro
a brilhar num Mundial e também a conquistar a artilharia de uma Copa.
Leônidas regressou aclamado por críticos de todo o
planeta, especialmente da Europa. Raymond Thourmagen, do "Paris
Match", sintetizou: "Existe, entre os brasileiros, uma
centopéia, capaz de desequilibrar qualquer partida", disse.
Sobre a famosa "bicicleta", ele não foi o
primeiro a executá-la. A primazia coube a Petronilho de Brito, que defendeu o
Ypiranga e Independência, ambos de São Paulo, e o San Lorenzo de Almagro, da
Argentina. Petronilho nasceu em 1904 e morreu em 1983 na capital paulista
Leônidas foi responsável, apenas, pela popularização da mesma. Nos tempos de
Petronilho, não existiam transmissões esportivas. Cronistas da época, como Max
Valentim e Mauro Pinheiro, no entanto, fizeram questão de registrar seus
feitos. Leônidas também não teve a TV como aliada, mas os locutores de rádio
sempre caprichavam na descrição de suas jogadas, especialmente quando ele
executava o lance que ajudou a torná-lo famoso.
Leônidas da Silva teve pouco de sua obra documentada.
Quando surgiu a primeira emissora de TV no Brasil, em 1950, o craque estava
pendurando suas chuteiras. Quando iniciou a carreira, nos anos 20, o futebol
sequer era profissional, e ainda não se dava, ao esporte, a importância que ele
já merecia. Restaram, por isso, poucas imagens. Apenas raros registros de
algumas publicações especializadas, e a memória dos que testemunharam o craque
desfilar o jogo elegante e marcar gols em profusão. É um personagem de grande
importância para o período de transição entre o regime amador e o profissional,
e é impossível compreender o futebol brasileiro sem conhecer um pouco da
história deste atacante.
Leônidas foi um dos principais responsáveis pela
elevação da popularidade do futebol no Brasil. Primeiro, pela perfeição com que
dava uma bicicleta; segundo, por ter sido o maior astro da Seleção Brasileira
de 1938, terceira colocada na Copa do Mundo da França. No fim da década de 30,
costumava-se dizer que o Brasil tinha três ídolos: Getúlio Vargas, o Presidente
da República, que se notabilizou por sua política populista; Orlando Silva, o
“Cantor das Multidões”; e Leônidas da Silva, atacante do Flamengo, campeão
carioca em 1939.
Durante muitos anos Leônidas foi comentarista esportivo
do rádio paulista. Sofreu por um longo período de mal de Alzheimer. Tinha
câncer de próstata e morreu aos 90 anos de insuficiência respiratória numa
clínica geriátrica, em Cotia, interior paulista, em 24 de janeiro de 2004.
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