Antes de ser jogador profissional, Garrincha era operário da fábrica América Fabril e jogava no Esporte Clube Pau Grande. Levado pelo ex-jogador Arati, Garrincha chegou ao Botafogo em 1953, com 19 anos. Arati foi apitar um jogo em Pau Grande, distrito de Magé, e lá descobriu um moleque franzino, de pernas tortas, mas de drible fácil. Gentil Cardoso não acreditou muito na descoberta de Arati, mas deixou o garoto – que tinha como apelido o nome de um pássaro – treinar. Apesar de meio desacreditado – em 1948 tentou, sem sucesso, no Vasco e no Fluminense; e depois estava diante do melhor lateral esquerdo do país, Nilton Santos – Garrincha não se intimidou e seus dribles impressionaram a todos. Aprovado, Garrincha foi contratado.
Sobre a tentativa, sem sucesso, no Vasco e Fluminense,
seguem os detalhes: o primeiro teste de Garrincha em um time grande aconteceu
em 1950, às vésperas de completar 17 anos, quando foi levado ao Vasco por um
diretor da América Fabril. Com vergonha de levar a chuteira velha e rasgada,
apareceu descalço na peneira e foi impedido de treinar pelo argentino Volante,
um ex-jogador. Poucos meses depois, com os amigos Diquinho e Arlindo, tentou o
São Cristóvão. Jogaram só dez minutos e foram dispensados sem sequer comerem o
sanduíche que os clubes tradicionalmente davam. Depois, tentou o Fluminense e o
técnico Gradim nem ao menos o colocou para treinar.
Voltando ao assunto em questão, a sequência de sua
carreira, dizer o que de quem fez a torcida gritar pela primeira vez “olé”
dentro de um estádio de futebol? E nem era a torcida do time dele, o Botafogo,
mas sim mexicanos que assistiam a uma das exibições do Glorioso pelo mundo.
Como marcar Garrincha? Não havia mesmo nada a fazer
diante desse gênio. Assim como não há como defini-lo. Era imprevisível e dono
de um futebol que jamais se enquadrou em esquemas táticos. Seu amor pelo
espetáculo não significou, em momento algum, que Mané não fosse um atleta
obcecado pela vitória. Nenhum outro jogador foi tão querido por todas as
torcidas como MANÉ GARRINCHA, O “ANJO DAS PERNAS TORTAS”, como bem definiu
o poeta Vinícius de Moraes, foi incomparável.
Em quase 13 anos no Botafogo, em que conquistou os
títulos cariocas de 1957, 1961 e 1962, e o Torneio Rio-São Paulo de 1962 e
1964, fez 612 jogos e marcou 242 gols. Pela Seleção Brasileira, jogou 60
partidas e marcou 16 gols, sendo 50 oficiais e 11 gols. O detalhe é que perdeu
apenas um jogo defendendo o Brasil, que por coincidência foi sua última partida
pela Seleção, nos 3 a 1 para a Hungria, na Copa do Mundo de 1966. E quando
jogou ao lado de Pelé, o Brasil nunca foi derrotado. Um retrospecto
inacreditável.
Os estragos que fazia com a camisa botafoguense, ele
repetia com a da Seleção. Mané foi bicampeão mundial e, para muitos, se não
fosse ele o Brasil teria saído da Copa do Chile, em 1962, mais cedo. Com Pelé
machucado, coube a GARRINCHA jogar por ele, pelo Rei e deixar o mundo
espantado. Foram dribles, passes perfeitos e gols até de cabeça e de perna
esquerda. Nas quartas de final, após a derrota de 3 a 1 para o Brasil, o
técnico da seleção inglesa desabafou: “Preparei um time quatro anos para
enfrentar times de futebol, mas não esperávamos um jogador como GARRINCHA”.
Coube, porém, ao jornal chileno El Mercúrio, em manchete, a melhor definição
sobre esse Charles Chaplin do futebol: “De que planeta viene GARRINCHA?”.
Em 1965, os problemas crônicos com os joelhos já o
impediam de jogar e Manuel Francisco dos Santos, que nasceu em Pau Grande,
distrito de Magé, em 18 de outubro de 1933, despediu-se do Botafogo e
praticamente do futebol. Ainda tentou jogar por Corinthians – 13 jogos e 2
gols, Flamengo – 12 jogos e 4 gols, e Olaria – 10 jogos e 1 gol.
Em 1977, cansada de suas farras, Elza Soares abandonou
Garrincha, que se entregou ainda mais à bebida. O fim inevitável chegou na
madrugada do dia 20 de janeiro de 1983, aos 49 anos, após mais um coma
alcoólico. Congestão pulmonar, pericardite, esteatose hepática e pancreatite
hemorrágica. A isso foi reduzido o gênio do futebol pelo atestado de óbito.
Esse foi o capítulo final do homem apelidado “Alegria
do Povo” que desafiou a medicina para dividir as honras de melhor do país
com o Rei Pelé.
Nota: após alguns desencontros sobre a data de
seu nascimento, a equipe de reportagem do Jornal dos Sports, em 2003, foi fundo
na investigação para encerrar de uma vez por todas a polêmica sobre a data
correta, no livro de registros do cartório do 6º distrito de Magé, que teve o
dia 18 de outubro de 1933 – e não o dia 28 do mesmo mês – reconhecido a sua
autenticidade pela titular do cartório.
O que eles disseram...
“Garrincha era, à sua maneira, um gênio. Se Pelé
personificava a perfeição (chutava, driblava, cabeceava, passava, tudo de forma
irretocável), Garrincha era a consagração do imperfeito: tordo, anti atlético,
individualista, uma jogada só, mas um gênio a desmoralizar lógicas, a desafiar
o imponderável, a transformar o previsível – sempre o mesmo drible – em
irresistível. A tragédia está em que sua história não teve o final feliz que
merecia. O homem que não podia dar certo – e deu – não teve fôlego para correr
os dois tempos de sua curta existência (tinha 49 anos quando a morte o levou).
Ao perder o brinquedo, começou a perder o gosto pela vida. Faltaram-lhe pernas
para um último arranque pela direita: o drible na própria tragédia.”
(João Máximo, jornalista)
O nosso eterno ídolo,driblou todo mundo, menos a bebida.
ResponderExcluirPuxa,neste 20 de janeiro,dia de São Sebastião,senti vontade de chorar por Garrincha.Um Ídolo,que só serviu para enriquecimento de dirigentes inescrupulosos,e canalhas,para tirar vantagem do Ídolo.Assinava contratos em branco com o Botafogo,e esse FDP,Admildo Chirol, médico do Botafogo,que ajudou a acabar com sua carreira!
ResponderExcluirPaulo Henrique, o médico em questão não seria o Lídio Toledo? O Chirol era preparador físico. Para ser sincero, não sei se o Toledo trabalhou com o Garrincha no Botafogo. O Dr. Lídio nasceu em 1933 e tinha perto de 30 anos nessa época.
ExcluirDr Toledo era assistente. No filme garrincha alegria do povo, aparece o médico titular explicando os joelhos de garrincha e ao lado o dr Toledo, futuro dispensador de Romário.
ExcluirTriste história de um Deus da bola com alma de passarinho...
ResponderExcluirTadeu insuperável nos presenteia com essa crônica de um craque que deu tantos deslumbramento. Obrigado mestre.
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