terça-feira, 2 de agosto de 2022

JOSÉ MARIA DE AQUINO À PROCURA DE OBDULIO VARELLA...

 


Montevidéu, maio/1972. Club Jackson, Parque Maldonado, onde os jogadores campeões mundiais em 1950, na tragédia do Maracanã, 16 de julho, se reuniam - os que ainda vivem continuam se reunindo lá, especialmente na data da final daquela Copa. Passei por lá a caminho de Buenos Aires, para cobrir um jogo Independiente x São Paulo, pela Libertadores. Cheguei, com o fotógrafo Fernando Pimentel e fomos para o Hotel Vitória. De lá, liguei para o jornal La Manãna para falar com o amigo e grande jornalista Franklin Morales. Ele não estava, mas seu colega me atendeu muito bem. Disse a ele que queria conversar com Obdulio Varella e se sabia onde encontrá-lo. Ele riu, disse que eu e todos os brasileiros que apareciam por lá, desde 1950, queriam falar com Obdulio, mas nenhum conseguia. "Ele não dá entrevistas". Mas me deu o caminho. Club Jckson, a partir das 20 horas. Rumamos para lá.

 

Por alguns minutos fiquei de longe vendo-o jogar bocca. Depois me aproximei de algumas pessoas. Desejei boa noite a eles, que logo quiseram saber o que eu pretendia. Disse e as vi sorrir também. Depois que Obduio executou mais uma jogada, um de seus amigos mandou o recado: "Negro, esse moço, jornalista brasileiro, quer falar com você". Obdulio levantou ligeiramente a cabeça, me olhou rapidamente e continuou jogando, sem uma única palavra. Fui aconselhado a ir embora, porque perdia meu tempo. Pimentel também propôs voltarmos ao hotel, mas eu não tinha nada a fazer nem a perder. Continuei olhando o jogo, acho que por mais umas duas horas. De repente, Obdulio veio em minha direção e perguntou o que eu queria. Falei que Zezé Moreira, meu conterrâneo, me havia dito que... Mas fui rapidamente interrompido: “Ele não sabe nada de futebol. Estragou nossos times. É um retranqueiro...". Concordei de imediato. Não estava ali para falar de Zezé Moreira, grande técnico, mas para conversar com ele, Obdulio Varella, que tinha feito tantos brasileiros chorar.

 

Uns segundos de pausa e ele perguntou: "o que você bebe". Respondi que bebia cerveja e ele disse que bebia uísque, convidando-me para sentar. Ordenou que fôssemos servidos e o papo rolou por horas. Seus amigos, campeões do mundo, balançavam a cabeça não acreditando no que viam e ouviam. Alta madrugada, quando o assunto futebol tinha esgotado, ele começou a falar de política e a criticar o governo. Preocupados, seu amigos disseram que tinha acabado a cerveja e o uísque. Sem dar bola para eles, Obdulio me chamou para continuar a conversa numa churrascaria que ficava perto do estádio Centenário - que permanecia aberta na madrugada - conhecida dos brasileiros como Cancha de Maidana. Apesar da azia já estar presente - muita cerveja sem nada comer - topei o convite. Mas seus amigos me aconselharam a mudar de ideia. "Moço, você tem muita sorte. Ele nunca conversou com nenhum jornalista brasileiro, mas não abuse. Ele é tupamaro, mas é respeitado pela polícia, mas você..." Fui curar a azia no hotel.

 

Nota: mais uma sacada de “mestre” do “MESTRE” José Maria Aquino, um dos nomes mais respeitados do jornalismo esportivo.

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